quarta-feira, junho 30, 2004

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Grande golo, o terceiro de Portugal...



...apesar disso, grande player o Jorge Andrade
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Agora só falta espremer estas laranjas. Do peixe já nos livrámos!


(Baltazar Gomes Figueira, 1604-1674, Natureza Morta com Laranjas, Cebolas, Peixe e Caranguejo)
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Adeus compromisso com os portugueses

Encontrei aqui esta pérola de Guilherme Silva (líder da bancada parlamentar do PSD).

Em resposta à pergunta sobre se seria impensável Durão Barroso aceitar ir para a presidência da CE, na Revista Sábado da semana passada:

"Obviamente que sim. Essa hipótese é extremamente gratificante, mas a verdade é que Durão Barroso tem um compromisso com os portugueses e está fora de questão não o cumprir até ao fim."

A entrevista foi publicada exactamente no dia em que se soube que Barroso iria para presidente da CE...
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Bem espremidas, por favor...

terça-feira, junho 29, 2004

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Life is a cabaret old chap, they think...

E a seguir José Pacheco Pereira, virão jovens de 37 anos, de repente proprietários de poços de petróleo, clubes de futebol em Inglaterra e barcos luxuosos atracados na Lusitânia. Virão as lojas das marcas transnacionais e as prostitutas nacionais para clientes internacionais. Virão os bares para os membros das Máfias e empresários de fantasias. Virão os míudos da rua e os clochard a morrer de frio, e de vodka, no inverno. Virá o caviar e o champagne, as limusinas e os nacionalismos. Os mísseis vendidos em quartos de hotel e as mulheres também. Virão os emigrantes, as bebedeiras e os zhirinovsky. E virão uns paparazzi para tudo fotografar e numa revista cor-de-rosa "escarrapachar". E um canal de televisão para o povo animar. E acharemos tudo isso normal, porque será essa a nossa "ecologia ambiente". A flora e a fauna do nosso eco-sistema sócio-político.
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Mais um blog aniversariante

Desta vez é o Memória Virtual. Um coleccionador de memórias que nos oferece um blog serviço-público, com bastante interesse informativo. Foi também um dos primeiros clássicos da blogolândia nacional a aperceber-se da existência do FC. É, portanto, também um blog atento. Ao Leonel Vicente os meus votos de longa vida pessoal e bloguística!
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ECCE HOMO

Sim! Bem sei donde eu provenho!
Insaciável qual chama,
ardo todo em fogo ardente.
Faz-se luz tudo o que tomo,
carvão, tudo o que abandono:
sou chama seguramente.

(Friedrich Nietzsche, 1844-1900)

segunda-feira, junho 28, 2004

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Conselho aos homens

Tirem os telemóveis do bolso, vá!
Cientistas finlandeses descobriram que o uso de telemóvel, sobretudo no bolso das calças, pode provocar infertilidade masculina.
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Argumentos a favor da decência ética e da racionalidade

“Não tem condições” para ser PM. Aqui, entramos no domínio do misterioso. Muitos o afirmam, mas ninguém o explica devidamente. Parece-me que agora é a altura para o fazer. Está na altura de desenvolverem os argumentos e não se ficarem pelas insinuações e pelas opiniões pessoais (todas respeitáveis mas, como diziam os gregos, e com o todo o respeito, a opinião é o nível mais baixo do conhecimento). [João Marques de Almeida]

Exmo. Sr. João Marques de Almeida, vou então dar-lhe alguns argumentos, não opiniões mas factos, pelos quais alguém pode ou não ser PM. Atenção que os pontos que levanto poderiam ser válidos para qualquer putativo candidato ao cargo. Tome-os como hipóteses teóricas de trabalho. Nada mais. Depois cabe-lhe a si escolher, se perante tais hipóteses continua a achar que sim, ou muda de opinião.

1. O que me diz se uma autarquia entregasse uma obra de reabilitação de um quarteirão de um bairro histórico a uma empresa por um valor que, provavelmente, seria suficiente para reabilitar urbanisticamente uma pequena cidade? Certamente perguntaria qual a relação entre alguém responsável nessa autarquia e a mencionada empresa. Seria?

2. O que me diz se um autarca apresentasse à sua autarquia despesas de representação de uma viagem a Paris que incluem roupas, perfumes, calçado? E que perante a recusa da funcionária em incluir tais despesas na contabilidade e dar-lhes seguimento, porque não elegíveis, essa funcionária fosse sumariamente afastada do seu cargo?

3. O que me diz se um autarca chamasse a comunicação social para informar de um projecto e no fim do show-off, os técnicos perguntassem ao autarca quando começariam a trabalhar no projecto e o mesmo lhes respondesse que "isso agora logo se vê, porque o importante era que a comunicação social divulgasse o projecto"?

4. O que me diz se uma autarquia se regesse exclusivamente pelos media e pela construção de uma imagem gráfica, menosprezando tudo o que é planeamento, as competências técnicas e o trabalho por objectivos e com uma estratégia, em favor do casuísmo, da "gestão das oportunidades", conforme estas vão surgindo ao nascer do sol de cada dia?

Chegam-lhe estes argumentos? Quer mais? Existem mais. Se quiser posso dar-lhe outros. São meras hipóteses teóricas de trabalho para meditação, a meu ver mais que suficientes para que alguém não reuna condições para qualquer cargo público, muito menos para PM...
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Quem espera o que acontece nunca alcança o que merece

(Este provérbio acabei de o criar eu. Se não se importam, os direitos de autor podem ser pagos através do endereço ali ao lado)

Humm...não é por nada, mas algo me diz que o pessoal do Barnabé vai ser surpreendido pela presença do Abrupto, amanhã na Manif. Será???
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Já viram o TdN despido?

O Terras do Nunca é um vaidosão. Não é que mal entrou o verão despiu a roupa que tinha vestido na primavera? agora anda ali todo nú a passear-se pelas avenidas da crítica blogueira. Roupa mais leve e prosaica não encontrava o TdN no shopping do Blogger.


Post-scriptum: Juro por tudo o que há de mais sagrado que quando escrevi este post ainda não tinha lido o post do TdN em que ele ameaça despir-se todo e só ficar com o chapéu na cabeça! Foi adivinhação mesmo!
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Não misturemos alhos com bugalhos

Sendo eu absolutamente contrário à política de restrição orçamental de curto prazo, cega e sem rumo deste governo, não posso deixar de considerar inoportuno este post. Eis, um bom serviço à causa populista de que tanto gostam os Lopes, Jardins, Pintos da Costa e algumas centenas de autarcas do país.
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É o prenúncio do fim, antes de tempo, mas é mais do que tempo!

Pilatos lavou as mãos dois dias antes do previsto. É que o odor a sangue tresandava e os sinais do fim anunciam-se antecipadamente. Pilatos já não vai a tempo de as mostrar limpas aos seus súbditos. Adeus Pilatos.
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Santana recebe o apoio de dois grandes vultos da política nacional

O putativo nomeado para Primeiro-Ministro, Pedro Santana Lopes, não tem o apoio de Manuela Ferreira Leite que considera estar-se em presença de um "golpe de Estado no partido". Mas tem já dois apoios de peso: Alberto João Jardim e Jorge Nuno Pinto da Costa. Está tudo dito, não está?
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Por uma saída politicamente responsável

Numa perspectiva meramente "politiqueira", o melhor que podia acontecer à esquerda era que Durão entregasse o poder a Santana-Portas e o PR assinasse por baixo. Seria o descalabro final, nos próximos dois anos. Mas uma postura política responsável, seja de esquerda ou de direita, não pode sustentar uma tal alternativa. Por isso se deve exigir outra solução que seja politicamente responsável. O Presidente da República deve ter este facto em consideração quando tiver de tomar uma posição esta semana.
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Acima de todas as leis está a Ética

Sem dúvida um excelente post, este do Ma-schamba. Do ponto de vista das questões que coloca e do ponto de vista da reflexão que permite. Contudo são muito discutíveis, quanto a mim, as conclusões. Mais do que a lei, julgo ser a ética política que deve sustentar, não só a República como a democracia enquanto regime. Sem dúvida que a legalidade democrática é também um valor em si mesma. Mas além dela e acima dela deve permanecer a Ética.

Vale a pena lembrar, agora, a diferença da postura de Guterres, ao rejeitar a proposta de fugir às suas responsabilidades, quando foi convidado para o lugar que Durão vai, agora, ocupar sem hesitação. E ao assumir, perante os resultados das eleições autárquicas, (onde o partido socialista perdeu o poder, sobretudo em quinze das principais cidades do país), que esses resultados eram um sinal claro ao governo do partido que liderava. Guterres pediu a demissão, recusando o célebre "pântano". Vemos agora a diferença de postura democrática, cívica e ética, entre Guterres e Durão. Aqui é que está a distinção entre como agiu Guterres e como agora age Durão Barroso.

Post-scriptum: Acresce que de acordo com a Lei Fundamental, o Presidente da Repúbilca não é obrigado a reconduzir um governo da maioria actual, podendo legalmente dissolver o Parlamento e convocar eleições antecipadas. Se é legal a opção de reconduzir um governo com base no actual quadro parlamentar, também o é a alternativa que resta ao PR.

domingo, junho 27, 2004

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O mito da competência da direita caíu hoje em Portugal

Escrevi aqui, em tempos, que o mito de que só o partido socialista gerava no seu seio, ou na sua entourage, corrupção, já tinha caído, com os diversos casos conhecidos entretanto, no âmago do governo. Faltava apenas caír outro mito, porventura mais enraízado entre os eleitores sem partido. O mito de que só a direita sabe governar o país, só ela percebe de economia e gestão financeira. Simetricamente, é quase do anedotário nacional que o partido socialista esbanja os dinheiros públicos e é de uma inépcia endémica na gestão das contas públicas. Esta é a imagem que a direita sempre fez muito bem passar. Em sintonia com uma tal ideia, eles, a direita, seriam os bons gestores, os que não só são sérios, como competentes, em matéria da economia e finanças públicas. Foi com esse mito que ganharam as últimas legislativas e com ele mantiveram um governo durante mais de dois anos, pedindo compreensão aos portugueses, pedindo tempo para "arrumarem a casa" e as contas da Nação, devolverem a ordem de uma sã economia ao país. Neste coro cantaram, também, reputados economistas e grandes empresários da nossa praça, votantes na coligação, pois claro. O sacrossanto equilíbrio orçamental, que afinal só se conseguiu com complexos malabarismos aritméticos, foi a grande ideia que sustentou este governo. Não teve outra. Nem uma só estratégia de mudança e desenvolvimento para o país. Mas teve essa que não foi de somenos. Em nome dela muita gente perdeu, de facto, o emprego, muitas empresas perderam mercado e lucros, muitas delas faliram, a maioria dos funcionários públicos não tem aumentos há mais de dois anos, e em nome dela os portugueses têm vivido sérias restrições de consumo, e de felicidade também. As caras dos nossos concidadãos na rua, nos locais de trabalho, nos transportes públicos, são bem o espelho de um país cujo único sonho é o equilíbrio das contas públicas. Sonho pequenino este que se ofereceu a uma Nação, mas pelo qual dez milhões de almas têm vindo a definhar, dia após dia, mês após mês, nas suas expectativas de uma vida melhor, e de um país onde desse gosto viver. Mas, em todo o caso, era o sonho que este governo nos permitia. Tínhamos que viver com o único sonho que nos era possibilitado. Por ele, o Primeiro-Ministro estava na disposição de nos iluminar o caminho até 2012.

Pois bem, no final de tudo isto, vêm agora dizer-nos que afinal tanto sacrifício, tanto esforço, não serviu de nada. O líder máximo desse sonho abandona o barco, vira-nos as costas e não quer saber do sonho, nem de nós, nem do país, entregando o governo nas mãos de quem, de certeza, vai mudar radicalmente de política. De rumo. Seja no interior do seu partido (caso o golpe se confirme), seja com o partido socialista, caso a dissolução do parlamento se viabilize. Afinal a política de Durão não era assim tão essencial para o país, como ele nos pretendeu fazer crer. Afinal o mito da exclusividade da competência, por parte da direita, caíu por terra, e é dessa realidade que Durão foge, agora, quando aceita ir para a Presidência da CE e deixa o governo nas mãos da dupla Santana-Portas. Concordo com a Maria Manuel Leitão Marques. Também eu quero os meus retroactivos, de dois anos sem aumentos, de volta...Mas quero mais. Quero também os retroactivos de dois anos de tempo perdido. De um país parado. Para nada, senão para agravar, ainda mais, a distância que nos separa do desenvolvimento.

sábado, junho 26, 2004

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Antecipadas Já!


Não nos limitamos a dizer: Pobre país o nosso. Queremos que o Presidente da República demonstre que é ainda um garante da decência neste país. O Barnabé fabricou este símbolo e o Daniel Oliveira teve a amabilidade de o enviar para a nossa caixa de correio. Concordo em absoluto.
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Um post ao José

Por mim digo-te já, não é por termos sido colegas e por sermos, presumo eu, próximos em idade, mas por escreveres uma coisa assim, mereces que te trate por tu. Digo isto ao José. Mas é verdade que quem escreve com este conteúdo [a qualidade da forma é só tua], só podia ter uma escola: a nossa.


Post-scriptum: acabei de ler-te. És mais novo do que eu quatro densos anos. Podes tratar-me por tu. Não me importo? Não, prefiro assim.
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Mais um aniversário

Só agora tive conhecimento do aniversário da Natureza do Mal. A este ritmo não consigo cumprimentá-los a todos. Ao que parece o solstício tem sido pródigo na geração de blogs. Ainda estamos na madrugada de 25 para 26. Não será tarde para enviar as minhas felicitações ao pessoal do Mal.
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E ao golpe nada disse porque podia vomitar

Nada consigo escrever sobre a matéria. Tenho um nó no estômago, se começasse a escrever sobre a matéria podia vomitar. Recomendo os textos que mais certeiramente colocam a questão. Ambos falam do golpe. Aqui e aqui.

sexta-feira, junho 25, 2004

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Mas por que é que a seguir a uma excelente notícia tem que vir sempre uma péssima?

Se este blog encerrar nos próximos tempos, isso significa que o seu autor emigrou. Foi viver para outro país. Quem sabe se aí nascerá outro fórum. Hoje é um dia triste para quem quer um futuro decente para Portugal.
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Mais boas vindas à blogosfera

Merecem os meus votos de boas vindas à blogosfera: Raimundo Narciso e Guilherme de Oliveira Martins, que além do mais já foi "meu" Ministro. Soube da chegada do primeiro através do Daniel Oliveira, no Barnabé, do Vital Moreira, no Causa Nossa e do João Tunes no Bota Acima. Foi-me anunciada a chegada do segundo no Causa Nossa e no Républica Digital. Trata-se de duas pessoas, que embora não conheça pessoalmente, me merecem, por razões diversas, muita consideração. A sua chegada à blogosfera é para nós um bom augúrio da vitalidade e qualidade deste novo espaço comunicacional. O Puxapalavra, o Memórias do Presente e o Casa dos Comuns, passam a figurar entre os meus eleitos.
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A teoria da participação activa

Soube através do Adufe que, em tempos idos, o TdN (como ele diria: link ali em baixo, e eu digo: ao lado, a semana passada, o mês anterior, há meses, etc.) questionava os seus leitores sobre se estariam interessados numa participação mais activa, por altura da comemoração do meio ano de vida. Ora, tendo em conta que o TdN não se pica aos links que lhe faço e nem sequer tem uma caixa de comentários, o que entenderá o TdN por uma participação mais activa?

Sempre achei que esta teoria da participação activa era muito discutível, na prática...
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O homem do jogo, após os 120 minutos



Acreditar é preciso...
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Longa vida ao foguetabraze

Está de parabéns hoje um blog amigo. É amigo porque é uma visita assídua do FC. E neste fórum nós gostamos de receber bem as nossas visitas bem intencionadas. E é amigo também porque sendo açoriano faz parte do grupo de pressão pelos açores que na blogolândia existe e que conta com o meu apoio. Apesar de eu nada ter a ver com os Açores, tenho tudo a ver com tanto mar, tanto mar...
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O homem que gostava de Castells

Um dos meus eleitos diários é o Terras do Nunca. Não sei se foi a divergência que em tempos tivemos em relação ao approche que Manuel Castells tem vindo a fazer à internet, o que é certo é que o TdN me brinda com uma olímpica ignorância. E não é que eu me estou "ginjando" para isso e lhe dou os parabéns no dia de hoje, por ter cumprido um ano de vida, desejando que um dos melhores blogs nacionais tenha uma longa vida na blogolândia.
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Pois que... apesar das vedetas ganhámos...

quinta-feira, junho 24, 2004

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Bate bate coração...



Foi sofrer até ao fim...
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Sei que estás em festa pá, também fico contente

mas fez algum sentido teres ido à zona de flash-interview de jogadores e seleccionadores dar uma entrevista?
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Poemário

S.JOÃO

Junho, jacarandá azul que vais partir,
leva-me pela mão do fogo do solstício
com fogueiras que salte quando se estende o trevo
e me persuade um mar que beleza assegura.
Incertas margaridas amaciam com suas moitas
o campo, e em leite e mel estalam figos.

A vida me percorre, hoje, ontem e amanhã,
com rapidez sem tréguas e volta ininterrupta.
O tempo, o tempo sempre: o tempo, o tempo, o tempo:
saltarei enquanto dure esta corda das horas.
Meu salteador, o tempo. Oh, amarrai-me a um tronco,
amarrai este pé, amarrai esta noite!

MARÍA VICTORIA ATENCIA (1931)
Antologia Poética
(tradução de José Bento)

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Hoje não poderia saltar a fogueira: estou coxeando.

Uma boa noite (atrasada) de SanJoão!
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Um muro sem vergonha

Ainda o FC não existia e já este muro constava da minha lista de favoritos. A razão é simples. Não conhecendo eu, pessoalmente, nenhum dos trolhas, um deles é irmão de uma colega minha e, logo, só por isso merece figurar entre os amigos diários. Ainda não estava ali ao lado, porque durante muito tempo esteve moribundo. O Muro sem vergonha. Terá estado envergonhado. Agora, os trolhas pintaram a cara ao muro e ele aí está de novo, para nossa desavergonhada fruição.
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Desassossego

Não faço ideia quem seja esta desassossegada, mas é uma "ganda maluca". Por isso gosto dela, e figura agora, também, ali ao lado.
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Novas idiossincrasias

Re-actualização dos links ali ao lado... Aproveitando a oportunidade para dar as boas vindas a um blog que já conheceu duas versões em menos de um mês: Púrpura Secreta. Lá se foram os poemas do António Ramos Rosa e do David Mourão-Ferreira para o éter do ciber-espaço. Mas ficou a cor púrpura, essa beleza de tonalidade, e agora também de escrita na blogosfera. Votos de longa vida à Púrpura secreta, que figura, obviamente, entre os diários amigos.
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Parabéns ao Avatares de um Desejo

Embora tardiamente, não posso deixar de assinalar mais um aniversariante entre os blogs. Desta feita trata-se do Avatares de um Desejo. Além do mais é também um colega na blogosfera. As maiores felicidades ao Avatares e ao Bruno, claro.

quarta-feira, junho 23, 2004

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(Kandinsky, 1866-1944, "No azul")

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Teus beijos, queria-os de tule,
Transparecendo carmim -
Os teus espasmos, de seda...

- Água fria e clara numa noite azul,
Água, devia ser o teu amor por mim...

(Mário de Sá-Carneiro)

terça-feira, junho 22, 2004

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Tanto mar...Tanto amar

O TdN diz que a música do Chico que prefere é Tanto Mar (primeira versão), a qual fala da revolução de Abril em Portugal e da tristeza de Chico com a persistência da ditadura no Brasil àquela época. Pois bem, eu devo confessar que em matéria estritamente musical prefiro, de longe, Tanto Amar.

Podem encontrar Tanto Amar neste álbum:



Tanto amar

Amo tanto e de tanto amar
Acho que ela é bonita
Tem um olho sempre a boiar
E outro que agita

Tem um olho que não está
Meus olhares evita
E outro olho a me arregalar
Sua pepita

A metade do seu olhar
Está chamando pra luta, aflita
E metade quer madrugar
Na bodeguita

Se seus olhos eu for cantar
Um seu olho me atura
E outro olho vai desmanchar
Toda a pintura

Ela pode rodopiar
E mudar de figura
A paloma do seu mirar
Virar miúra

É na soma do seu olhar
Que eu vou me conhecer inteiro
Se nasci pra enfrentar o mar
Ou faroleiro

Amo tanto e de tanto amar
Acho que ela acredita
Tem um olho a pestanejar
E outro me fita

Suas pernas vão me enroscar
Num balé esquisito
Seus dois olhos vão se encontrar
No infinito

Amo tanto e de tanto amar
Em Manágua temos um chico
Já pensamos em nos casar
Em Porto Rico

(Chico Buarque, 1981)
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Festa do solstício

Ao contrário do que tinha previsto, desejado, e prometido a Vital Moreira, não vou poder estar daqui a duas horas na festa do Causa Nossa. Tenho muita pena. Espero outra oportunidade de encontro blogosférico. Não quis, no entanto, deixar de aqui registar os meus votos de que se divirtam os bloggers e, sobretudo, que a festa seja um sucesso pois o Causa Nossa bem o merece.

Aproveito a oportunidade para votar nos "óscares" atribuídos daqui a pouco no LUX:

a) Prémios à blogosfera:
1) Prémio carreira bloguística: voto no Abrupto, claro...
2) Prémio à esquerda: que me perdoe o País Relativo, mas voto no Barnabé. Não há amor como o primeiro. Dizem.
3) Prémio à direita: desde quando o Aviz é de direita? voto no Blasfémias, claro!
4) Prémio para o melhor blogger: voto no Daniel Oliveira, óbvio! Os outros não sei quem são e eles também não sabem quem eu sou.

b) Prémios à sociedade:
(5) Prémio Força Portugal: Voto em José Luís Arnaut, que deve estar a chegar ao LUX no momento da entrega dos prémios às 4 horas da manhã.
(6) Prémio José Mourinho: voto em Pedro Santana Lopes que chegará acompanhado do Arnault.
(7) Prémio Armas de Destruição Massiva: voto em José Manuel Fernandes porque o Bush não poderá vir receber o prémio e o Delgado está longe de conseguir atingir o contorcionismo argumentativo dos melhores defensores da tese das ADM.
(8) Prémio 5ª Dimensão: voto em José António Saraiva, pelo brilhantismo da sua visão "política à portuguesa", e porque a astróloga Maya não faz mais que a sua obrigação profissional e o João César das Neves não existe, é uma personagem-ficção de banda desenhada, tipo Óbelix.

domingo, junho 20, 2004

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Dom Nuno (sem a táctica do quadrado)

sábado, junho 19, 2004

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Parabéns Chico!


(19 de Junho de 1944)

A Banda

Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
A minha gente sofrida
Despediu-se da dor
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
O homem sério que contava dinheiro parou
O faroleiro que contava vantagem parou
A namorada que contava as estrelas parou
Pra ver, ouvir e dar passagem
A moça triste que vivia calada sorriu
A rosa triste que vivia fechada se abriu
E a meninada toda se assanhou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou
Que ainda era moço pra sair no terraço e dançou
A moça feia debruçou na janela
Pensando que a banda tocava pra ela
A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu
A lua cheia que vivia escondida surgiu
Minha cidade toda se enfeitou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
Mas para meu desencanto
O que era doce acabou
Tudo tomou seu lugar
Depois que a banda passou
E cada qual no seu canto
Em cada canto uma dor
Depois da banda passar
Cantando coisas de amor

***

Valsinha

Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a de um jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não mal disse a vida tanto quanto seu jeito de sempre falar
E não deixou-a só num canto, pra seu grande espanto convidou-a pra rodar
Então ela se fez bonita como há muito tempo nào queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tando esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda a cidade se iluminou
E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouviam mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz

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Bom fim de semana !

quinta-feira, junho 17, 2004

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Aviz: um príncipe dos blogues

Está de parabéns o Aviz, pois fez um ano de vida. Votos de uma vida muito mais longa. Numa época em que começa a haver desistências, ou ameaças de menor investimento, em blogues de vulto na blogolândia nacional, esperamos que o Aviz nos continue a brindar com as suas lúcidas e avi"z"adas análises.

quarta-feira, junho 16, 2004

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A globalização da percepção da globalização

Há tempos encontrei no foguetabraze um texto que parodiava, com humor inteligente, a globalização, e que me deixou perplexo. Pareceu-me óbvio que o autor daquele blogue desconhecia uma paródia idêntica, que eu havia lido há muitos anos, e que a minha memória reteve, como exemplo prático para os alunos. Contactei o foguetabraze, e não tenho dúvidas que ele não faz a mínima ideia do texto de que eu falo. Isto apenas prova que há, de facto, coincidências inexplicáveis ou que, afinal, a percepção da globalização é, ela própria, globalizada.

Aqui fica, finalmente, o registo, que julgo irá deixar perplexo o próprio Nuno Almeida e Sousa:

"Globalização
O Ezequiel estava a falar de organizar um jantar de peixe no Porto Formoso. E se fosse um Cabrito asado? Comi um muito bom num "tasco" ali para as Feteiras. Está mesmo a apetecer-me um cabrito assado no forno. Mas é perigoso comer assim cabrito sem saber de onde vem. E se for um borrego, de Santa Maria? diz o Pedro. Borrego de Santa Maria não há, nem de São Miguel. Mas há uns óptimos lombos de Borrego da Nova Zelândia no Sol-Mar, que podem ser cozinhados "Au vin" conjuntamente com Javali da Austrália e castanhas também congeladas Espanholas da Pescanova tudo regado com champanhe francês (há outro?). Na minha cozinha Italiana Spazi, vai tudo ao forno AEG alemão, numa assadeira Pirex americana, acompanhado com cerveja sem álcool Irlandesa para mim que sou abstémio e um Bordeaux para os convidados que são bêbados. Acabamos de Jantar na minha mesa Altamira Espanhola e passamos aos sofás Divani&Divani italianos. Refastelamo-nos uns com uma água Perrier francesa em copo de cristal da Boémia, outros degustando um bom whisky Irlandês. Vamos assistir ao Jogo do FCP com jogadores brasileiros, e do Mónaco com Jogadores Espanhóis através de uma televisão de fabrico coreano. No fim cada um vai para casa no seu carro alemão gastando petróleo Árabe e pagando a única coisa que é Portuguesa, os impostos (...)."


(Nuno Barata Almeida e Sousa, Blogue Foguetabraze)

"There was this Englishman who worked in the London office of a multinational corporation based in the United States. He drove home one evening in his Japanese car. His wife, who worked in a firm which imported German Kitchen equipment, was already at home. Her small Italian car was often quicker through the traffic. After a meal which included New Zealand lamb, Californian carrots, Mexican honey, French cheese and Spanish wine, they settled down to watch a programme on their television set, which has been made in Finland. The programme was a retrospective celebration of the war to recapture the Falkland Islands. As they watched it they felt warmly patriotic, and very proud to be British"

(Raymond Williams,(1983), Towards 2000, London: Chatto & Windus, p.177)
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Conselho ao hipocondríaco: vai trabalhar vagabundo! (Chico dixit)

Levantei-me. Fiz a minha higiene pessoal. Preparei o meu pequeno almoço. Fiz a cama. Fui com o meu pai ao médico. Fui tomar café. Testei o novo computador. Está a corresponder. Naveguei a blogosfera. Inseri um post. Fui buscar o meu pai ao médico. Levei-o a casa. Preparei-lhe a medicação. Regressei a casa. Preparei o meu almoço e o do filho (está em férias). Fui buscar a filha à escola. Voltei a casa. Preparei um lanche de fruta aos filhos. Viajei na blogosfera. Inseri mais dois posts. Fui levar a filha ao apoio de matemática. Fui à frutaria e depois à charcutaria. Não sei como está o jogo da Espanha com a Grécia. Nem me interessa. Não trabalhei hoje. Doi-me. A coluna.

[Aos falsos hipocondríacos que têm blogues, e aos verdadeiros que nem por isso, não aconselho teses. Não vão trabalhar, não. Não é preciso. Dediquem-se às tarefas domésticas e responsabilidades familiares. Vão ver que isso passa. Rápido.]
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Para onde nos levam estes media?

Tem inteira razão o PAS do País Relativo. Ao ouvir e ler a notícia: "Filho de Leonor Beleza apanhado pela polícia por envolvimento em tráfico de droga", apenas me ocorreu a análise que fiz do tratamento da criminalidade, na imprensa, em meados dos anos oitenta: "Caboverdeano mata um indivíduo de raça branca". O que importa não é o crime, mas o tipo sanguíneo de quem o praticou. Os destinatários da discriminação de raça, ou espécie, são agora os políticos. A indústria mediática está, de facto, um esterco.
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Um post dedicado ao ABRUPTO


(Pieter Bruegel)

SENTENÇA PARA OS QUE A FADIGA VENCE

(Urteile der Matten)

Fogem do sol os que a fadiga tomba;
Querem, da árvore, apenas isto: Sombra!

(Friedrich Nietzsche, 1844-1900)

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Boa tarde!
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Chico Buarque de Hollanda

Lembra-nos o BdE o aniversário de Chico Buarque a 19 de Junho, propondo uma semana Buarqueana. Comecei a gostar da música do Chico com a Banda, por volta de 1967-68. Na altura não fazia a mínima ideia do que fosse o significado da banda a passar. Em 1974 adquiri o Fado Tropical, resultado do trabalho de Chico e do moçambicano Ruy Guerra entre 1972 e 1973. Desde então que Chico Buarque de Hollanda figura entre os músicos brasileiros que mais aprecio. Já não me recordo onde parou a minha buarquomania. Creio que foi depois da Ópera do Malandro, em Vida, ou no Almanaque, ainda na gloriosa época do vinil. Nas últimas décadas tenho-me limitado à audição dos clássicos, dos anos sessenta, setenta e oitenta. Recentemente a Universal, como já aqui referi, editou uma colectânea, onde não consta uma única faixa que não seja daquelas décadas. Não sei, por isso, o que é feito do trabalho recente do Chico. Além dessa...claro.

Post-scriptum: Acabei de confirmar. A ópera é de 1979. Vida de 1980 e o Almanaque de 1981. O último album de originais que adquiri foi este. De então para cá só colectâneas.

terça-feira, junho 15, 2004

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Momento de humor pós-eleitorali

Como é que querem, depois de se ter matraqueado aos compadres: "na se esqueça camarada que deve colocar a cruzinha no quadradinho à frente da foice e do martelo", que agora os compadres compreendam que o voto no partido da foice e do martelo já não é na foice e no martelo? Isto é confuso. Temos de o admitir. Bem sei que já não o é há muitos anos, mas para os compadres as coisas mudam muito devagari, não é assim em quinze ou vinte anos que se vai compreender que o voto no partido da foice e do martelo já não é na foice e no martelo.

Os camaradas do PCTP/MRPP, essa peça arqueológica da política portuguesa, é que têm um descaramento inigualável, continuando, desse modo, até à morte do último dos maoistas-stalinistas, a tramar o seu arqui-inimigo...
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Subscrevo

Sobre a abstenção e as leituras bacocas ou oportunistas que dela se fazem, diz o TdN o que importa ser dito. Nem mais.

segunda-feira, junho 14, 2004

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Se a realidade não corresponde à nossa teoria, acabe-se com a realidade

Triste com o resultado das eleições, lamenta-se LR do Blasfémias:

"No fundo, temos um País de mentalidade estruturalmente socialista e estatista, que se foi consolidando ao longo destes 30 anos, para o que relevou também o contributo dos vários governos liderados pelo PSD. Esta mentalidade é causa principal de um grande imobilismo e de uma resistência crescente a qualquer mudança que questione os fundamentos dos chamados direitos adquiridos. E isto é preocupante. Em Portugal e em toda a Europa, cujos eleitores penalizam fortemente quem pretenda reformar o sacrossanto modelo social europeu."

Tem razão o Blasfémias. É melhor acabar-se com o país e, já agora, com a Europa também. É que assim, não há teoria liberal que se consiga aplicar, a um país e a um continente destes...

E remata:

"Falta talvez uma abordagem diferente (liberal, por exemplo) que implique rupturas com o status quo e que, desde Margaret Thatcher, ninguém na Europa tem coragem de assumir. Se explicada claramente aos eleitores, talvez a abstenção baixasse."

Sim, liberal, só a título de exemplo, por acaso...
O problema, de facto, é que "esta gente" (maus pedagogos) não sabe explicar bem as coisas aos eleitores, e depois eles vão para a praia, no lugar de irem todos votar no PPD-PP. Porque a "esta gente" é preciso explicar bem as coisas, caso contrário, eles não nos entendem. Uma tristeza, este povo, que não consegue alcançar a sábia teoria liberal de Tocqueville.
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Crónica de uma vitória não anunciada

Nas entrelinhas de diversos discursos dos dirigentes da coligação, derrotada nas eleições de ontem, ficava implícita a referência à morte de Sousa Franco, como factor que teria concorrido a favor do estrondoso resultado obtido pelo Partido Socialista. Devo, a este propósito, recordar aos mais velhos e informar os mais novos, que aquando do trágico acidente que vitimou Sá Carneiro e Amaro da Costa - que muito mais chocou o povo português do que a morte recente de Sousa Franco -, não foram favoráveis à então coligação entre o PSD e o CDS, os resultados nas eleições pelas quais aqueles dirigentes perderam a vida. Com efeito, o candidato presidencial Soares Carneiro, apoiado pela então AD, perdeu as eleições contra o candidato Ramalho Eanes. Apesar da reacção emocionada e injustificável de alguns apoiantes da AD, contra o General Eanes, e independentemente do ambiente emotivo criado, compreensivelmente, pela morte abrupta e inacreditável de dois dos principais lideres políticos da altura.

Tentar justificar a derrota que sofreram, ontem, com os estados de espírito do final da campanha, seria não só um erro da coligação, como uma evidente falta de um mínimo de decoro e ombridade política, a todos os títulos lamentável. Mas não duvido muito que alguns dirigentes e muitos comentadores comprometidos com a coligação, que ontem não terão tido a coragem para o fazer a quente, venham agora, de forma mais fria e elaborada, apresentar álibis para a fragilidade e falta de credibilidade em que os eleitores os colocaram, com o seu voto nas urnas. Seria apenas mais uma atitude lamentável, de falta de maturidade, que esta coligação, e seus apoiantes nos media, nos dariam.

Por certo, haverá também interpretações, na linha do que já li por aí, de insinuação de aproveitamento emocional do sofrimento da viúva de António de Sousa Franco, com as imagens do funeral e da ida da Dr.ª Matilde de Sousa Franco à sede de campanha do PS. Quero, a este respeito dizer que, em minha opinião, Ferro Rodrigues teve um gesto que apenas o engrandece. Como aliás, todo o comportamento cívico dos militantes do PS -, desde os que ao longo da noite intervieram, como Vieira da Silva, José Sócrates e António Costa, aos militantes de base -, pautado pela sobriedade nas manifestações de regozijo pela vitória, e pelo endereçar os méritos dessa vitória a Sousa Franco, dedicando-lha a ele e à sua viúva. De igual modo, importa registar, o facto de Ferro Rodrigues, interpelado a propósito dos acontecimentos na lota de Matosinhos, ter mencionado que se irá tratar internamente, apurando responsabilidades e retirando consequências, sobre tais acontecimentos, que qualificou de repugnantes.

Ferro Rodrigues demonstrou, de uma assentada, várias coisas. Ser um líder de um partido que não quer pactuar com aquilo, e aqueles, que no seu interior apenas contribuem para confundirem o partido com o que de pior tem a nossa democracia: o caciquismo arruaceiro e “trauliteiro”, que serve interesses e “causas” que são tudo menos os interesses nacionais e as causas nobres. Ser um líder político que honra e enaltece os melhores que nas suas fileiras dão tudo, inclusive a vida, pelas suas convicções mais elevadas. Mesmo os que o fazem com liberdade de espírito e de pensamento, como o foi, sempre, o Professor Sousa Franco. Finalmente, Ferro Rodrigues, reafirma-se como líder que coloca o PS num patamar de exigência em termos de ética política, não só pelo que já foi dito, como também pelo facto de não recusar a emoção e a afectividade que, aliás, caracterizam, como sabemos, aquele partido, como fazendo parte da natureza humana e da vida. Afirmando, desse modo, uma forma humanizada de fazer política que, a nosso ver, apenas engrandece a própria política e os seus protagonistas.

A mim, pessoalmente, agradou-me de sobremaneira, a forma como Ferro soube gerir a noite eleitoral e o seu significado. É um bom prenúncio para os tempos que hão-de vir.

Aos que profetizaram, cedo demais, o seu funeral político, a noite de ontem não creio que os terá deixado menos do que perplexos.

Com os resultados de ontem perdeu a coligação de direita no poder, mas perderam também os opositores internos, e seus suportes entre os analistas nos media. Ferro Rodrigues merece, por tudo isto, pela capacidade já demonstrada para corrigir os erros, e pela coragem evidenciada para lidar com tantas e tão diversificadas contrariedades, e até tragédias pessoais, a vitória que ontem obteve. Dele se espera, agora, capacidade para protagonizar uma alternativa, politicamente sólida, coerente e credível, ao actual poder.

domingo, junho 13, 2004

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A Conclusão destas eleições: FORÇA PORTUGUESES


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Agarrados ao poder como uma lapa

"Já houve um partido que ganhou as eleições europeias e depois perdeu as legislativas", disse Paulo Portas, depois de o ter dito outro dirigente de segunda linha. Pois foi. Agora imagine Dr. Paulo Portas que resultado terá nas legislativas se já começou a perder nas europeias.

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"Estas eleições foram eleições europeias e portanto daqui não podemos tirar ilacções sobre a política nacional", disseram, mais ou menos por estas palavras, Paulo Portas primeiro e Durão Barroso depois. De seguida, Paulo Portas justifica a derrota com questões nacionais, relativas à necessidade de uma política difícil, em termos populares, e imagine-se o descaramento, fala de ataques que têm sofrido e quase refere sabotagem às suas tão nobres intenções...

Durão Barroso, por seu lado, acaba por dizer que recebeu a mensagem dos portugueses e portanto vai fazer mais. Ou seja, perderam as eleições pelo que têm feito e, não só não mudam de rumo, como nos vão dar ainda mais do mesmo. Preocupante é o mínimo que se pode dizer.

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Moral da história: Não, o pior cego não é o que não quer ver. O pior cego é aquele que estando agarrado ao poder como uma lapa, não vê e não ouve nada nem ninguém.
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O populismo televiseiro

Ufana está a TVI, e Manuela Moura Guedes e mais alguns ratos de esgoto com sabor a escândalo em particular, com a elevada abstenção. Que bom! A culpa é dos políticos. E viva o populismo televiseiro.

[Apesar de muito elevada, a abstenção, não atingiu valores que justifiquem o gáudio dos jornalistas tipo TVI. Este gaúdio abstencionista anti-políticos, da TVI, merece análise mais aprofundada. Espero pelos comentários dos especialistas].
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Engano-me com frequência e tenho muitas dúvidas

Ao que parece, enganei-me e bem. A coligação governamental levou uma "banhada". Ainda bem. Que bem me soube ter-me enganado. Os eleitores que votaram, afinal, na sua maioria, já não dão um voto de chance a este governo. Pois não, meus senhores, não adianta virem com a desculpa de que o que estava em questão eram eleições para o Parlamento Europeu, e não eleições legislativas. Se duvidam, ora experimentem levar a coligação a votos em legislativas antecipadas para verem o resultado.

Ou por outras palavras: O pior cego é o que não quer ver...
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Re-afirmo: Portugueses dão mais um voto de confiança à coligação

Posso enganar-me, mas corro o risco de re-afirmar, a duas horas de fecharem as urnas, que os portugueses vão continuar a dar, em maioria, o seu voto à coligação no poder. As sondagens vão, uma vez mais, caír em desgraça. Antes me engane. Muito gostaria.
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Voto electrónico

Vai ser uma boa forma de impedir a justificação da abstenção com a praia, a ponte, o futebol. A seguir ao mergulho nas águas da Quarteira, à saída do estádio, na estrada para o monte alentejano, o povo vai poder votar. Deixará de poder escrever as asneirolas no boletim de voto. Essa conquista da democracia, em que o eleitor mandava os políticos todos para... vai acabar com a democracia electrónica. Afinal, tudo são vantagens na revolução tecnológica.

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Por enquanto, temos de ir para a fila e depositar o nosso papelinho na urna de voto. Vamos lá votar!
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Embandeirar em arco (2)

Quando onze pessoas suportam nos ombros, e na consciência, as frustrações de dez milhões de pessoas, falham de certeza.

sábado, junho 12, 2004

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MARIO NOVARO - PRAIA VERDE (Proda d'erba), Oiro de Vário Tempo e Lugar, Versões por A. Herculano de Carvalho, Editorial O Oiro do Dia, Porto.

Estreita praia verde/pende para o mar/com agrestes zimbros/de folhas argênteas.//Vão pascendo o ar/primaveril/finas borboletas/que o tomilho incensa.//E no monótono/quérulo/canto do mar/eu penso, penso://- Onde é que a vida/tem sua praia?/Onde, seu fundo?/Desliza a vida, desliza a onda.


(Edouard Manet, 1832-1883)

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MARTIN OPITZ, (1597-1639), "Wasser rinnt und eilet sehr...", Oiro de Vário Tempo e Lugar, Versões por A. Herculano de Carvalho, Editorial O Oiro do Dia, Porto.

Bem veloz, a água se escoa;
Mais depressa a frecha voa;
E o vento, sem descansar;
Anda nuvens a arrastar;
Mas passam tão de corrida
Os homens vãos nesta vida,
Que tudo parece lento:
Água, nuvens, frecha e vento.
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Meninas do shopping-center e caixas de livrarias

Tem plena razão o Ma-schamba. Também a mim, que nem sequer me tomo por homem de avultada cultura, o que desde já digo, reconheço no JPT, sempre me "encanitou" (vénia ao TdN) a pretensão de vendedores de livros que se julgam confundíveis com os que os escrevem, porque os manipulam na sua comercialização. Sempre os comparei às meninas das lojas de marca, dos shopping-centers, que por prestarem seus serviços aos vip's se julgam elas próprias vip's. Tal soltura pseudo-intelectual está bem retratada pelo Ma-schamba que perdeu as estribeiras e lhes deu forte. Tinha já grande apreço pela escrita do JPT. Agora que sei que teremos sido colegas daqui lhe ergo o meu cálice de uma aguardente velhíssima. Há duas espécies de pessoas que se encontram onde quer que seja, e que acabam por se reconhecer. Os que têm uma ligação a África e os que têm uma ligação àquela escola. No presente caso, como em muitos outros, reúnem-se na mesma pessoa os dois atributos. Desde este outro Mar, um abraço.

sexta-feira, junho 11, 2004

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Embandeirar em arco

[Cometi a heresia de dizer no café da minha rua, a propósito da enchente de bandeiras nacionais: "Esperemos não estar a embandeirar em arco". Fui literalmente fuzilado pelos olhares patrióticos dos meus concidadãos de café...]

De repente o orgulho pátrio veio à superfície. Bandeiras nacionais hasteadas nos carros, nas janelas, nas varandas. De repente não estarão os portugueses, de novo, a embandeirar em arco? O sonho comanda a vida é, além de um verso de António Gedeão, um lema bem ajustado à identidade nacional. Mas pode o sonho, sem esforço, sem organização, sem trabalho planeado, sem substrato, sem consolidação, permitir alcançar algum desígnio nacional? Porque continuamos a acreditar no virtuosismo, na fortuna, no acaso, no D. Sebastião, sem muito fazermos para alcançar seja o que for? Para depois nos queixarmos da sorte. Da nossa dimensão, do árbitro, dos políticos, dos outros. Mas nunca de nós próprios, das nossas incapacidades. Temos, de facto, excesso de auto-estima e défice de auto-crítica. Orgulho balofo. Depois não saímos do mesmo lugar. Essa coisa mediana, nem boa nem má, nem quente nem fria, mas morna, sofrível. O meio da tabela.
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Hábitos, monges e identidades

Este título é uma oportunidade para homenagear o meu colega Paulo Pedroso que, em 1987, apresentou num colóquio (em co-autoria com outra colega), uma comunicação, baseada num trabalho escolar do último ano do curso, sobre a relação entre o estilo do vestir e as identidades dos estudantes das duas principais licenciaturas, à época, no nosso Instituto: Organização e Gestão de Empresas e Sociologia. Glosava a comunicação o célebre provérbio, segundo o qual, o hábito faz o monge. De então para cá, o mundo mudou significativamente, e muitos dos estereótipos, então em uso, deixaram de fazer sentido. As identidades e os estilos de vida são hoje estruturas e processos menos rígidos, de fronteiras mais flexíveis, para não falar na natureza transclassista e transidentitária que muitos estilos de indumentária actualmente comportam. Ainda assim, recordei-me de um episódio, passado há cerca de uns dez anos, onde um outro colega, - contemporâneo de licenciatura, mas antropólogo, actualmente também colega como docente no nosso Instituto -, me interpelou a propósito do “meu estilo de vestir”. Importa aqui esclarecer que a licenciatura em Antropologia surge, em meados dos anos oitenta, no Instituto, como a terceira área de formação graduada do mesmo. Actualmente, são nove as licenciaturas, catorze os cursos de Mestrado, e creio que quatro os cursos doutorais. Devo ainda referir que, no que concerne a estilos, os nossos colegas gestores têm como regra, com algumas excepções, o uso do fato e gravata, sendo muitos deles simultaneamente docentes e gestores empresariais. Já os nossos colegas antropólogos têm como padrão o não uso daquele tipo de indumentária, apresentando estilos mais próximos do modelo universitário nada classicista e mais à “intelectual gauchiste” . Quanto aos sociólogos, trata-se de um grupo menos consistente, ou mais heterogéneo, no que concerne aos estilos. Temos os mais clássicos e institucionais, próximos de alguns dos gestores, embora com fatos menos caros, e os mais blasé, próximos dos antropólogos, embora com estilos menos pseudo-négligé. No meu caso pessoal tenho adoptado estilos de vestir muito divergentes, oscilando entre o tradicional fato e gravata dos gestores, o pseudo-négligé dos antropólogos, e outros estilos que não sei classificar senão como de bom gosto. O meu subjectivo bom gosto, pois claro. Ora bem, feito este enquadramento e parêntesis altamente valorativos do meu senso comum, vamos ao episódio. Consiste aquele episódio no facto do meu estimado colega antropólogo me ter interpelado, perguntando-me se eu me vestia como me vestia para me confundir com os gestores. Ao que eu lhe respondi que não, que me vestia como me vestia para me distinguir dos antropólogos.

De facto, o hábito faz o monge, mas daí não é possível inferir directa e mecanicamente o que quer que seja. Os processos constitutivos das identidades são complexos, nada lineares e nem sempre, e cada vez menos, se compadecem com estereótipos. Por outro lado, as identidades não se formam apenas através dos grupos de referência positiva como também negativa, não se formam somente por identificação, mas também por oposição e distinção. A identidade profissional dos sociólogos portugueses é multifacetada, não dedutível, apenas, a partir de um estereótipo, facilmente rotulável e rigidamente enquadrável em determinados estilos, padrões de pensamento, paradigmas científicos ou modalidades exclusivas de exercício da profissão. Poderemos, talvez, dizer o mesmo do seu estilo de vestir, parte integrante desse caleidoscópio de imagens pessoais e culturais que compõem a identidade profissional dos sociólogos portugueses, desde logo os do nosso Instituto.

quinta-feira, junho 10, 2004

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Roupa usada, roupa nova e processos de renovação identitária

Não haverá concerteza nada mais trivial e fútil do que a roupa com que nos vestimos, o calçado que calçamos e os demais adereços com os quais ornamentamos esse elemento primordial da nossa identidade pessoal: o corpo. Mas são esses objectos, também, que pelas suas caracteristicas, desenho, marcas, materiais, estilo, constituem um factor básico dessa identidade pessoal. São, provavelmente, os meios mais elementares a partir dos quais, consciente, ou inconscientemente, voluntária, ou involuntariamente, comunicamos com os outros, uma determinada identidade pessoal, mas também cultural. São, portanto, signos da nossa identidade. Para que deles nos apropriemos, isto é, para que os incorporemos na nossa identidade, precisamos de os usar, de os adaptar ao nosso corpo, para que funcionem como um seu prolongamento. É por esse motivo que nos sentimos mais "à vontade" com roupa e calçado que já foram alvo desse processo de incorporação dos objectos na nossa identidade, constituída também por gestualidade, rotinas, posturas corporais. Mas não é menos certo que a necessidade que julgamos sentir de aquisição de novos e renovados objectos daquele tipo, significa também, a necessidade de renovação identitária. Este processo é intrínseco à própria identidade. Não existem identidades pessoais ou culturais imutáveis. Elas precisam, por definição, de se renovarem e até de se reconstituírem, resultado da mudança social, cultural e da nossa interacção com essa dinâmica, bem como da nossa interacção com os outros, com os quais quotidianamente coabitamos, no espaço público, como no espaço privado. As identidades que não se renovam ciclicamente naquele processo, cristalizam e desaparecem. Morrem.
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Subscrevo

o que escreve hoje no Público, Eduardo Prado Coelho. Eis um texto que diz o que importa, a propósito da morte de António de Sousa Franco.
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Homenagem

Não tendo nós afinidade política ou pessoal com o deputado Lino de Carvalho, hoje falecido, registamos aqui o bonito gesto e as belas palavras de homenagem de Daniel Oliveira. Deste modo, homenageamos um deputado português da esquerda parlamentar, infelizmente precocemente falecido, e um blogger, político e cidadão, que não conhecemos pessoalmente, mas que pelo que hoje escreve no Barnabé, nos merece crescente consideração.
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Sorte madrasta esta de herdar um partido preso na teia que a aranha tece

Ainda é cedo para dizer algo muito maturado sobre o dia de ontem. Apenas quero deixar o registo de que pensei ontem exactamente o que, entretanto, acabei por ver escrito por Vital Moreira. Tem plena razão, a meu ver, o Vital Moreira, e eu que aqui tenho criticado o desempenho político de Ferro Rodrigues, enquanto líder da oposição, sou obrigado a reconhecer que, de facto, não há infortúnio que não lhe aconteça, desde que assumiu a liderança do partido. Mas o pior dos males que aconteceu ao PS foi o ter-se deixado enredar, ao longo de trinta anos (seria inevitável?), na teia da aranha do caciquismo nacional. O dia de ontem, deveria constituir, após as eleições, um momento para reflexão sobre aquele veneno mortal que a aranha segrega. Isto, independentemente, como é óbvio, de se saber se a causa directa da síncope cardíaca de Sousa Franco, se ficou a dever, ou não, às cenas trauliteiras da lota de Matosinhos. Estou inteiramente de acordo com o que escrevem o Amor e Ócio, ou o Daniel Oliveira. Mas é, sobretudo, nas belas palavras que li em Um pouco mais de Azul e em A Natureza do Mal, que melhor se diz o que importa dizer, neste triste momento, para os socialistas, mas também para todos os portugueses, em geral.

Post-scriptum: Texto corrigido no tocante às referências ao dia 9 de Junho. Onde estava "o dia de hoje" está agora "o dia de ontem", pois já era dia 10 de Junho. No dia 9 de Junho, após registar o trágico acontecimento, fizémos, respeitosamente, silêncio. Acrescentámos, também, a referência a um outro muito belo texto, escrito a este propósito, e que só por mera distracção não foi, também, referenciado aquando da redacção inicial deste post.

quarta-feira, junho 09, 2004

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Em respeito pela


memória de


António de Sousa Franco,


faça-se


silêncio


na blogosfera hoje.


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Que sentido tem tudo isto, se é um fio apenas a vida, um simples sopro?


(António de Sousa Franco, 1942-2004)

"No nosso tempo, o destino dos homens mostra o seu sentido em termos políticos."
Thomas Mann
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[SÓBRIO O TEU CORPO...]

Sóbrio o teu corpo me pede
penetração: nomes puros:
os de boca, braços, mãos
sobre a terra e sobre os muros.

Sóbrio o teu corpo me pede
nomes justos, nomes duros:
os de terra, fogo e punhos,
claros, acres, escuros.

(António Ramos Rosa)


(Amedeo Modigliani, 1884-1920)

PRESÍDIO

Nem todo o corpo é carne... Não, nem todo.
Que dizer do pescoço, às vezes mármore,
às vezes linho, lago, tronco de árvore,
nuvem, ou ave, ao tacto sempre pouco...?

E o ventre, inconsistente como o lodo?...
E o morno gradeamento dos teus braços?
Não, meu amor...Nem todo o corpo é carne:
é também água, terra, vento, fogo...

É sobretudo sombra à despedida;
onda de pedra em cada reencontro;
no parque da memória o fugidio

vulto da Primavera em pleno Outono...
Nem só de carne é feito este presídio,
pois no teu corpo existe o mundo todo!

(David Mourão-Ferreira)
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Em defesa do Padeiro do BE

Múltiplas referências ao já célebre "padeiro do BE", em blogs que muito estimo, e dos quais sou leitor assíduo, como este, este, este e este, obrigam-me a deles discordar.

Sei que vou escandalizar muitos dos meus leitores, mas muito sinceramente não acho que a ideia do padeiro e do rolo da massa seja assim tão desprezível. Considero-a, de resto, bem coerente com a linha de agitprop do BE, e mais não faz do que recorrer à figura de retórica mais corrente, no discurso político: a metáfora. É evidente que não pode ser julgada a partir dos cânones estéticos bem pensantes de intelectuais politicamente correctos. É preocupante sim, o baixar o nível da campanha política ao insulto, ao ataque pessoal, às referências a supostos defeitos físicos. Isso sim, é descer o nível do combate político ao "trauliteiro", ao "rasca". Isso dever-nos-ía preocupar a sério. O outdoor do BE, e os cartazes a ele ligados, são um excelente meio de passar uma mensagem de forma eficaz, recorrendo a uma linguagem metafórica, repito, que nada tem de "falta de nível". De resto, desde quando um cartaz de propaganda eleitoral é suposto ser rico em conteúdo substantivo textual, discursivo? Desde quando um cartaz de propaganda não deve usar as técnicas mais básicas da comunicação (política) de massas, recorrendo ao humor, à linguagem coloquial, ao texto (slogan) rapidamente assimilável pela generalidade dos cidadãos? Isto não é, necessariamente, contrário a algum princípio democrático, nem resulta, obrigatoriamente, em qualquer falta de cultura cívica, muito menos quebra da elevação da qualidade do debate político. Não confundamos a metáfora do rolo da massa, com as mocas de Rio Maior, essas sim, próprias de caceteiros que espreitam, de moca em punho, encavalitados na actual coligação no poder...

Mesmo não indo votar no BE, eu gosto dos outdoors e cartazes desta campanha do BE.

terça-feira, junho 08, 2004

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A crise e o vigário andam no fausto da torre empertigada

- Boa tarde senhor WR, o meu nome é Margarida Santos e estou a ligar-lhe da Munditravel para lhe dizer que estamos a fazer uma campanha em parceria com a OPTIMUS e que o senhor foi premiado com um fim de semana para duas pessoas na Beira Interior.
- O que eu não preciso neste momento é de um fim de semana na Beira Interior. Aliás, acho que é o único sítio do mundo onde não preciso, de todo, de um alojamento para um fim de semana...
- Apenas tem de se dirigir aos nossos escritórios para levantar o seu prémio, inteiramente grátis.
- Ora então dê-me lá a morada
- Torre 2 das Amoreiras, 14º andar, Letra F, mas antes preciso que me responda a umas perguntinhas...
- Concerteza, venham de lá essas perguntas
- Que idade tem o senhor?
- 44
- Profissão?
- Docente Universitário
- Estado civil?
- Por enquanto, casado...
- Então terá de vir também com a sua esposa levantar o prémio
- (Sim estou a ver o filme, já gasto, são necessárias duas assinaturas, claro, na aquisição de 15 dias de férias por ano num aparthotel no Algarve, ou para o que quer que seja. São sempre necessárias duas assinaturas na aquisição de bens imobiliários, ou seja aqueles bens que se compram para o resto da vida. Sim estou a ver o filme...)
- Apenas lhe peço que depois de desligar volte a ligar para o número que lhe vou dar para falar com o meu colega Ricardo Fonseca, pode ser?
- Claro que pode, ora venha de lá o contacto do senhor Ricardo Ferreira (que eu devo ter o tempo por minha conta para vos aturar)
- Pode anotar?
- Posso sim, diga, diga...
- 213871795...mas ligue já a seguir, pode ser senhor WR?
- Pode, claro! (eu nem tenho nada que fazer...até passo os dias à espera de chamadas destas só para ocupar o tempo...)
- Então boa tarde senhor WR e muitos parabéns...
- Boa tarde senhora Margarida Santos...(e obrigado por pensar que eu ainda acredito na Mãe Natal, neste caso)
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................
(meia hora depois)
- Está? senhor WR? daqui fala Margarida Santos, o meu colega informou-me que o senhor ainda não lhe ligou...
- Liguei sim
- Ligou?!
- Liguei sim. Liguei para a OPTIMUS, e neste momento a questão está a caminho do Departamento Jurídico daquela empresa, dado o uso ilícito do nome da mesma, usurpando a sua imagem, para fins de legalidade duvidosa. Liguei também para a Comissão de Protecção de Dados Pessoais, para participar do uso ilegal de informação pessoal, como o meu nome e número de telefone, sem minha prévia autorização por escrito. Liguei também para o Departamento Jurídico da Associação de Defesa dos Consumidores (DECO), apenas para os alertar para mais uma situação de conto do vigário, mais velha que o próprio vigário.
- Concerteza...tenha uma boa tarde, com licença.
- Ora essa, tenha a bondade, volte sempre...

segunda-feira, junho 07, 2004

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Sobre a arte simples

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O Professorices fala-nos do seu apreço pela arte simples. Em um pouco mais de azul, retoma-se a ideia exemplificando-a da melhor forma.

Há um edifício em Barcelona (não me recordo qual, nem a sua localização) ornamentado todo em redor com reproduções destes desenhos de Picasso. Passeando pelas ruas da cidade, vários colegas que ali nos encontrávamos para uma reunião de um projecto de investigação internacional. Diz repentinamente uma colega brasileira: "Nossa, olha que lindo, desenho de crianças..."

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Arte simples é também a arte de Elis Regina, que oiço há horas, enquanto procuro na blogosfera algo mais entusiasmante do que a campanha eleitoral para as europeias. Em boa hora a Universal resolveu editar estas antologias: Elis Regina - antologia 65/77 e Chico Buarque - antologia 66/84. Reunem, à semelhança de outras mais antigas (ainda em vinil) sob o título genérico: "A Arte de...", o melhor (não falta uma) destes dois nomes maiores da música brasileira.
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Ctrl-alt-del neste PS...

Façam o favor de fingirem que não ouviram nada a propósito da putativa candidatura de Sousa Franco à Presidência da Républica, no meio da campanha eleitoral para o Parlamento Europeu, em que Sousa Franco é o cabeça de lista do PS, ok?

Por favor, ainda têm pés? Sim, porque cabeça não têm, está visto, e a direcção dos tiros, também já se tornou evidente qual é. Infelizmente, tenho de reiterar o que aqui escrevi a propósito da desastrada liderança de Ferro, na oposição. Adiante, adiante...
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I'm back on stage after a computer crash



AOS VINDOUROS SE OS HOUVER

Vós que trabalhais só duas horas
a ver trabalhar a cibernética,
que não deixais o átomo a desoras
na gandaia, pois tendes uma ética;

que do amor sabeis o ponto e a vírgula
e vos engalfinhais livres de medo,
sem preçários, calendários, Pílula,
jaculatórias fora, tarde ou cedo;

computai, computai a nossa falha
sem perfurar demais vossa memória,
que nós fomos práqui uma gentalha
a fazer passamanes com a história;

que nós fomos (fatal necessidade!)
quadrúmanos da vossa humanidade.

(Alexandre O'Neill)

sábado, junho 05, 2004

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Actualização de leituras, ligações e outras idiossincrasias

Ali ao lado estão agora mais algumas ligações. Outras desapareceram. Outras ainda mudaram de estatuto nas hierarquias das nossas opções de gestão do tempo, ou nas hierarquias do nosso coração. É assim a blogosfera. Um processo dinâmico feito, também, de ligações e outras idiossincrasias.
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Aguardando a chegada de um filho do Rock'in Rio

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Suzanne

Suzanne takes you down to her place near the river
You can hear the boats go by
You can spend the night beside her
And you know that she's half crazy
But that's why you want to be there
And she feeds you tea and oranges
That come all the way from China
And just when you mean to tell her
That you have no love to give her
Then she gets you on her wavelength
And she lets the river answer
That you've always been her lover
And you want to travel with her
And you want to travel blind
And you know that she will trust you
For you've touched her perfect body with your mind.
And Jesus was a sailor
When he walked upon the water
And he spent a long time watching
From his lonely wooden tower
And when he knew for certain
Only drowning men could see him
He said "All men will be sailors then
Until the sea shall free them"
But he himself was broken
Long before the sky would open
Forsaken, almost human
He sank beneath your wisdom like a stone
And you want to travel with him
And you want to travel blind
And you think maybe you'll trust him
For he's touched your perfect body with his mind.
Now Suzanne takes your hand
And she leads you to the river
She is wearing rags and feathers
From Salvation Army counters
And the sun pours down like honey
On our lady of the harbour
And she shows you where to look
Among the garbage and the flowers
There are heroes in the seaweed
There are children in the morning
They are leaning out for love
And they will lean that way forever
While Suzanne holds the mirror
And you want to travel with her
And you want to travel blind
And you know that you can trust her
For she's touched your perfect body with her mind.

(Leonard Cohen)
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Sobre os Hospitais SA

As preocupações com a melhoria dos serviços prestados aos cidadãos nos hospitais SA parecem permanecer ao nível dos aspectos materiais dos mesmos. O relatório, em apreço, vai ao ponto das preocupações com espaços verdes exteriores e com o estacionamento (pois claro, os automóveis são essenciais à saúde). Devo dizer que recentemente tive de lidar com a realidade hospitalar de dois hospitais: um deles SA e outro ainda não. Tanto num como noutro não encontrei condições materiais abaixo de excelentes. Tanto num como noutro, não encontrei recursos humanos abaixo de excelentes, em competência profissional, em humanismo no tratamento dos pacientes e em competências relacionais para com os familiares dos doentes. Dir-me-ão que uma andorinha não faz a primavera. Mas esta foi a experiência que tive e não posso deixar de a referir, aqui, como excelentes exemplos no país real. O que esta experiência pessoal também me permitiu observar, foi que é sobretudo ao nível organizacional que os hospitais continuam com fortes debilidades. Foi possível observar a desorganização de procedimentos burocrático-administrativos e de gestão dos processos. Os deficientes sistemas de informação e de comunicação (interna e face ao exterior). Ora, não foi esta a principal razão que levou à empresarialização dos hospitais? Se a introdução de uma lógica empresarial não visa, em primeiro lugar, preocupar-se com a gestão, mas inversamente com as obras e os aspectos urbanísticos, melhor seria contratar arquitectos paisagistas e engenheiros civis para os hospitais SA, ao invés de gestores empresariais que até ao presente ainda não evidenciaram, na prática, a razão de ser da sua contratação.

Post-scriptum: Aproveito a oportunidade para homenagear as qualidades profissionais e humanas do pessoal médico, de enfermagem, auxiliar e administrativo do Hospital Pulido Valente e do Hospital de Santa Cruz, registando, em particular, os Serviços de Cirurgia Cardio-Toráxica do Hospital de Santa Cruz, dirigidos pelo Prof. Queiroz e Melo e a equipa de cirurgia liderada pelo Dr. José Calquinha. Bem sei que considerarão mais não fazerem do que o seu dever profissional, mas ainda assim, bem hajam por o desempenharem com elevada devoção, humanismo e competência!

sexta-feira, junho 04, 2004

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Navegar é preciso

Contra a abstenção navegar navegar
Oh meus leitores blogistas vamos todos votar
Vamos todos votar e Ter Voz nas Europeias
Não deixemos o voto ficar em tintas meias.
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EUGÉNIO DE ANDRADE, (Nas Ervas)

Escalar-te lábio a lábio,/percorrer-te: eis a cintura,/o lume breve entre as nádegas/e o ventre, o peito, o dorso,/descer aos flancos, enterrar//os olhos na pedra fresca/dos teus olhos,/entregar-me poro a poro/ao furor da tua boca,/esquecer a mão errante/na festa ou na fresta//aberta a doce penetração/das águas duras,/respirar como quem tropeça/no escuro, gritar/às portas da alegria,/da solidão,//porque é terrível/subir assim às hastes da loucura,/do fogo descer à neve,//abandonar-me agora/nas ervas do orvalho-/a glande leve


(Amedeo Modigliani, 1884-1920)
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Um dos meus diários

É por estas e outras que, embora ele continue displicente em matéria de links, eu continuo a lê-lo todos os dias. O que se há-de fazer? Nem o conheço de lado nenhum, mas gosto do que escreve.


Gate number 13, please...

Mas ao contrário dele, tenho outra opinião sobre a vinda do já celebrizado OVNI a Portugal. Em minha opinião veio buscar o governo. Está na hora do embarque.

quinta-feira, junho 03, 2004

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Errar pode ser desumano

O que menos me satisfaz na minha actividade profissional é o facto de ter de avaliar pessoas. Diria mesmo que a avaliação de conhecimentos é o que mais detesto na minha profissão. Não tenho, contudo, alternativa. Sou obrigado a correr o risco, milhares de vezes, de me enganar e cometer um erro de avaliação, cometendo potencialmente injustiças. Mas estes meus erros e injustiças virtuais, tenho disso consciência, podem sempre ser corrigidos, pelo recurso a exame por parte do aluno, ao qual atribuí, por exemplo, um oito, quando na verdade era merecedor de um dez. Embora sendo improvável, posso voltar a errar em relação ao mesmo aluno. Mas ele pode sempre voltar a fazer exame, em segunda época. Pode, inclusive, repetir a frequência da disciplina, no ano seguinte. Mesmo supondo, hipótese absurda, que esse aluno nunca conseguirá aprovação na minha cadeira, concluirá o curso sem ter, no seu curriculum escolar, a aprovação na minha disciplina, tratando-se de uma das disciplinas optativas que lecciono. Mantendo a hipótese absurda, caso se trate de uma disciplina obrigatória (do tronco comum) que também lecciono, o aluno poderia nunca conseguir concluir o seu curso. Seria penoso e lamentável para a vida profissional e realização pessoal desse aluno, mas nunca irremediável para a sua existência como pessoa e como cidadão. Inversamente, um erro médico no bloco operatório pode ser irreversível para a integridade física de um paciente. Um erro judicial pode ser, dramaticamente, irremediável para a integridade moral de um indivíduo, como ser humano e como cidadão. Errar, nestes casos, pode ser desumano.
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Teoria da conspiração ou pesadelo de uma noite ainda mais longa?

A noite passada tive um pesadelo. Sonhei com um país distante onde em tempos recuados vigorou um regime no seio do qual um escândalo sexual de prostituição e pedofilia fora abafado como convinha, pela policia da moral e bons costumes, porque envolvia figuras do regime. Muitos anos mais tarde a passagem desse escândalo a série televisiva, virava as tripas do ódio à democracia, por parte dos defensores daquele regime ainda incrustados no aparelho de Estado. Resolveram, então, à primeira oportunidade do véu levantado por uma investigação jornalística, sob o qual jaziam realidades putrefactas oriundas de décadas e décadas de pseudo-moralismo, exercerem o seu derradeiro serviço à causa, antes da sua geração abandonar, em definitivo, os subterrâneos do poder nesse país distante. Jorrar a lama que obstinadamente se recusaram a admitir estar-lhes impregnada no corpo e nas mentes, para cima do seu verdadeiro inimigo: os políticos que incarnam o regime que odeiam, a democracia, e que exercem, a espaços, o poder nessa democracia. Havia que liquidar, sobretudo, aqueles que prenunciavam o garante da sua continuidade. De caminho, eliminando com o mesmo ódio de dentes cerrados algumas figuras que representam o exemplo que as televisões lhes devolvem quotidianamente, da liberdade de expressão, do sucesso pessoal não dependente da obediência ao torniquete de uma visão mesquinha e pacóvia do país e do mundo, mas antes do que julgam ser a libertinagem contrária a uma moral (hipócrita) que se revela apenas no escuro dos antros de perversão sexual desses moralistas, e jamais concede que determinadas posturas perante a vida possam aparecer assim, despudoradamente, sob a luz dos holofotes das televisões, para que todo o povo delas tome conhecimento. E porque a culpa de tudo isto é, sempre, de determinados políticos, era urgente acabar com eles, de uma vez por todas. Dar-lhes um golpe fatal, do qual não sairiam tão cedo, para os gabinetes do poder. Acordei sobressaltado. Tinha acabado de ter um pesadelo. Fora mais longa, ainda, a noite...
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Mulheres a mais na medicina?

Acho precisamente o contrário. Penso que há mulheres a menos na medicina. Já no ensino básico acho que há homens a menos. Quase desapareceram os homens do antigo ensino primário, não se percebe porquê. Julgo que devia haver uma quota de homens para o ensino básico.
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A Máfia é lá longe na Sicilia

Há quem se questione se a demissão do Director da PJ do Porto não terá relações com o caso do Apito Dourado. José Mourinho diz não ter comemorado a vitória que obteve na Taça dos Campeões Europeus porque estaria sob ameaças, ele e a sua família. A Máfia é uma coisa lá longe na Sicilia, não é?

quarta-feira, junho 02, 2004

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Deixemos, então, a Justiça continuar a trabalhar

O último dia do mês de Maio, foi para mim um dia de enorme contentamento. Exactamente na razão inversa do choque e da tristeza que senti num outro dia (se não estou em erro do mês de Maio do ano transacto). Conheço o Paulo Pedroso há mais de vinte anos. Desde, como se diz na gíria, "os bancos da universidade". Mais tarde fomos colegas da mesma equipa, como docentes, e fomos trocando conversa por onde nos encontrávamos. Como todas as pessoas que conheço e conhecem o Paulo, tenho por ele uma grande estima pessoal e uma enorme consideração intelectual. Como colega do mesmo ofício, como cidadão, como pessoa. O que sempre pensei sobre este caso foi que só se poderia tratar, como se não estou em erro o próprio Paulo em determinado momento referiu, de uma versão portuguesa, e actual, do célebre "affaire Dreyfus". A minha convicção pessoal profunda foi sempre esta. Apenas aqui mencionei este caso, uma vez, para subscrever, em absoluto, o que Augusto Santos Silva havia escrito no Público sobre esta matéria.

Mantem-se em mim a mesma posição, de concordância com o que havia escrito ASS, em relação a este assunto. O termo desta fase do processo, no que ao Paulo Pedroso concerne, deixou-me, portanto, um enorme contentamento. Mas deixou-me, também, uma enorme preocupação em relação ao sistema judicial do país. São múltiplas as questões que os cidadãos, nesta fase, se deverão colocar. Passo a enumerar apenas algumas: (i) Onde estão e quem são as "pessoas importantes e poderosas" que alguns responsáveis disseram estarem envolvidas neste processo? [A este propósito tenho ouvido nos media referenciar o Paulo Pedroso, como fazendo parte dos "poderosos". Não fosse o caso tão grave e lamentável e, certamente, o Paulo esboçaria um sorriso. Desde quando uma pessoa como o Paulo Pedroso, maugrado o facto de ter sido Ministro e Deputado, faz parte do universo dos "poderosos" deste país?] (ii) Onde está a "Rede" de que tanto se falou nos media, incluindo pela voz de altos responsáveis? (iii) Quem nos pode garantir que um sistema que errou grosseiramente, em diversas fases dos trâmites processuais, deste modo, não poderia ter voltado a errar e a levar a julgamento um inocente? (iv) Quem nos pode garantir que um sistema judicial, vulnerável a tal tipo de erros, não continua a errar, conduzindo, neste como noutros casos, inocentes para a cadeia e culpados para a liberdade? (v) Quem nos pode garantir que os verdadeiros criminosos que ao longo de décadas cometeram tão horrendos crimes serão integralmente descobertos, julgados e condenados? (vi) Quem nos pode garantir que as verdadeiras vítimas deste processo serão alguma vez ressarcidas (se tal é completamente possível, o que do ponto de vista humano, moral e psíquico, creio impossível)? (vii) Quem nos pode garantir que os responsáveis pelos erros judiciais crassos; os responsáveis pela insinuação torpe; os responsáveis pela difamação em praça pública, amplificada por alguns media, ao serviço sabe-se lá de quem e do quê; os responsáveis pela tentativa de homicídio político e, sobretudo, moral e psiquico, de um cidadão íntegro; Quem nos pode garantir que todos esses responsáveis serão justamente julgados e condenados, e que, assim sendo, podemos continuar a acreditar na frase feita de que "isto é a justiça a funcionar"?

Perante tudo o que a Justiça até agora evidenciou, neste processo, fico com sérias dúvidas e preocupações quanto à justeza desta Justiça, e se nela poderemos confiar, ao ponto de acreditar que este caso chega ao seu términus com a reparação possível, mas necessária, de todos os erros e injustiças cometidos pelos seus verdadeiros protagonistas, antes, (décadas e décadas antes) durante (o que até agora constitui o processo Casa Pia) e após o julgamento agora anunciado.

Não obstante, quero acreditar que isto não é, pelo contrário, a "injustiça a funcionar" e que, assim sendo, devemos todos desejar que a Justiça, agora, continue a trabalhar e siga os seus trâmites normais, revelando toda a verdade por detrás do manto diáfano que até ao presente tem pairado sobre este processo. Vamos, então, deixar a Justiça trabalhar e aguardar que justiça seja feita até ao fim.
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E aos costumes disse: Doi-me!

Ontem não inseri nenhum post no Forum Comunitário, nem em lado nenhum, porque ao final do dia estive com uma enorme má disposição, dores abdominais, dores lombares, uma desgraça. Não telefonei para a mãezinha porque sou um homem autónomo há cerca de um quarto de século, mas que podia dizer "Doi-me", lá isso podia. Não pretendo fazer concorrência ao nosso blogger hipocondríaco. Foi mesmo verdade. Julgo, inclusive, tratar-se de uma vingança das "Forças do Mal", pelo contentamento que senti no dia anterior. Quem mais poderia desejar tão horrenda disposição a alguém que ontem celebrava o seu aniversário? Claro que este aparte se destina a receber os vossos parabéns e desejos de sinceras melhoras, aqui em baixo na caixa de comentários.

Post-scriptum: Estou, pela primeira vez, a postar no meu local de trabalho, num interregno do mesmo, por isso os links só surgirão lá para o fim da noite, uma vez que as condições materiais de produção oferecidas pelo Estado português aos seus académicos e investigadores, não permitem mais do que um computador que funciona a vapor, e neste preciso momento acabo de verificar que o carvão acabou.

Post-Post-scriptum: O link foi colocado às 0 horas e 36 minutos do dia 3 de Junho de 2004. Já não me doi.