sexta-feira, dezembro 31, 2004

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THE END OF A YEAR LOST IN TRANSLATION



Este ano, que hoje chega finalmente ao seu términos, perdi-me em traduções. Universos estranhos desceram ao meu pequeno mundo neste minúsculo país onde vivo. Universos intraduzíveis. Anacrónicos. Que o novo ano que amanhã tem a sua aurora nos traga, se necessário, uma aurora boreal. Mas que a nossa realidade seja menos surrealista.
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A ESTRATIFICAÇÃO DAS ALMAS

A alma humana também tem estratos. Uns mais elevados do que outros. Há almas elevadas como há almas rasteiras. Algumas almas humanas não chegam a estar em estrato algum. Estão antes no estrado. São a underclass das almas que quando se olham ao espelho jorram assim:

"Soberba dá-se nos abruptos incontinentes, traidores por feitio e natureza, que sempre se venderam por uma sacola de 30 dinheiros. É o pecado dos sem-vergonha, sem pátria e sem coluna.(...)"

quarta-feira, dezembro 29, 2004

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A NATUREZA FRACTURA EXPOSTA

Vem e lembra-nos o quão frágil e contingente é a obra da racionalidade humana.

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LES F...

Les Flamingands, chanson comique !

Messieurs les Flamingants
J'ai deux mots à vous rire
Il y a trop longtemps
Que vous me faites frire
À vous souffler dans le cul
Pour devenir autobus
Vous voilà acrobates
Mais vraiment rien de plus

Nazis durant les guerres
Et catholiques entre elles
Vous oscillez sans cesse
Du fusil au missel
Vos regards sont lointains
Votre humour est exsangue
Bien qu'y aient des rues à Gand
Qui pissent dans les deux langues
Tu vois quand j'pense à vous
J'aime que rien ne se perde
Messieurs les Flamingants
Je vous emmerde

Vous salissez la Flandre
Mais la Flandre vous juge.
Voyez la mer du nord
Elle s'est enfuie de Bruges.
Cessez de me gonfler
Mes vieilles roubignoles
Avec votre art flamand-italo-espagnol.
Vous êtes tellement tellement
Beaucoup trop lourds
Que quand les soirs d'orage
Des chinois cultivés
Me demandent d'où je suis,
Je réponds fatigué
Et les larmes aux dents :
"Ik ben van Luxembourg".
Et si aux jeunes femmes,
On ose un chant flamand,
Elle s'envolent en rêvant
Aux oiseaux roses et blancs

Et je vous interdis
D'espérer que jamais à Londres
Sous la pluie on puisse
Vous croire anglais
Et je vous interdis
À New-York ou Milan
D'éructer Messeigneurs
Autrement qu'en flamand
Vous n'aurez pas l'air cons
Vraiment pas cons du tout
Et moi je m'interdis
De dire que je m'en fous
Et je vous interdis
D'obliger nos enfants
Qui ne vous ont rien fait
À aboyer flamand
Et si mes frères se taisent
Et bien tant pis pour elles.
Je chante persiste et signe :
Je m'appelle Jacques Brel

Jacques Brel, 1977
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POUR LES VIEUX COPAINS

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PARA VELHOS AMIGOS

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OLD FRIENDS

Old friends
Old friends
Sat on their park bench
Like bookends
A newspaper blown through the grass
Falls on the round toes
Of the high shoes
Of the old friends
Old friends
Winter companions
The old men
Lost in their overcoats
Waiting for the sunset
The sounds of the city
Sifting through the trees
Settle like dust
On the shoulders
Of the old friends
Can you imagine us years from today
Sharing a park bench quietly?
How terribly strange to be seventy
Old friends
Memory brushes the same years
Silently sharing the same fear...

Paul Simon, 1968
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O QUE A AMIZADE NÃO É...

é uma troca de favores.
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ESSA REGIONALIZAÇÃO, NÃO OBRIGADO

Lamento ter de o dizer mas o exemplo dado por Vital Moreira e Luís Nazaré, em prol da bondade da regionalização, é para mim o mau exemplo. Ou antes, o melhor exemplo daquilo que seriam as consequências de uma tal regionalização. Alianças espúrias e cumplicidades clientelares de micro-redes de poder regional, misto de caciquismo, laivos de sociedade secreta e afins. Voltarei a votar contra, se referendo houver.

terça-feira, dezembro 28, 2004

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REQUIEM POR UMA GENTE SEM NOME

O post anterior foi o último que inseri em que se falava desta gente. Julgo que já ficou suficientemente claro qual a sua verdadeira natureza. A partir de agora e até ao dia 20 de Fevereiro de 2005, parece-me contraproducente, em termos de estratégia eleitoral, que se lhes faça qualquer referência. É tempo de começar a falar das alternativas. Se assim não for estaremos a permitir que se coloquem no papel que pretendem, o de vítimas. Os resultados poderiam ser catastróficos. Alimento a esperança que a partir daquele dia esta gente será arquivada na má memória de uma conjuntura política do país, para esquecer. Deles não poderá rezar a história. Se assim não for, este pais não tem solução.
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A ÚNICA POLÍTICA SOCIAL QUE CONHECEM É A DA CARIDADE

Filipe Nunes, para esta gente só tem direito a um rendimento mínimo a que cinicamente chamam de inserção, quem aceitar permanecer para sempre na situação de pobre. Só com esse compromisso mínimo podem usufruir de tal apoio. Nada de pretender sair da sua situação de pobreza. Inserção sim, mas inserção na sua condição de pobreza.

quinta-feira, dezembro 23, 2004

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AOS MENINOS DO RIO... E AOS DA BLOGOS TAMBÉM...



A TODOS UM BOM NATAL

Já imaginaram como será passar o Natal em Natal? Onde um "calor que provoca arrepio" obriga o Pai do dito a despir-se das suas quentes vestes nórdicas e ostentar o seu "calção, corpo aberto no espaço"?
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PRÉMIOS FORUM COMUNITÁRIO PARA OS BLOGS DO ANO

Os "rankings" contêm sempre uma boa dose de injustiça e são sempre subjectivos. Nomeadamente quando elaborados a partir da avaliação pessoal. O gosto e os respectivos julgamentos são subjectivos, mas seriam objectiváveis se convocássemos para aqui os instrumentos conceptuais de Pierre Bourdieu. Isto para dizer que os prémios que atribuímos dependem exclusivamente do lugar social que ocupamos e do nosso pobre habitus, segundo o que o famoso sociólogo francês nos reservou na sua taxinomia da célebre teoria da prática. A classificação classifica, antes de mais, o classificador. Estamos, portanto, perdoados pelos não incluídos nestes prémios. Muitos dos quais, aliás, são bem do nosso gosto e deles somos leitores habituais.

Prémio "Uma causa"
- Rua da Judiaria (a causa da cultura hebraica)
- Ma-schamba (a causa da cultura e do povo de Moçambique)
- Professorices (a causa do ensino superior)
- ABC dos Miúdos (a causa dos miúdos na world live web)
- Netescrita (a causa da escrita e da leitura dos miúdos)

Prémio "O prazer da escrita" (ex-aequo)
- A Natureza do Mal
- Respirar o Mesmo Ar

Prémio "O melhor blog colectivo do ano" (ex-aequo)
- Barnabé
- Causa Nossa
- País Relativo

Prémio "O melhor blog individual do ano" (ex-aequo)
- Abrupto
- Almocreve das Petas
- A Praia
- Aviz
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JÁ CHEGÁMOS À MADEIRA?

A propósito de "rankings" sobre universidades e não só, tanto na moda. Para quem goste de "rankings", deixem-me dizer que uma conhecida instituição universitária deste país - onde os seus cursos se situam nos tops desses "rankings", tendo sido um deles classificado em primeiro lugar na avaliação mais recente -, surgiu há tempos no jornal Expresso como tendo ficado em último lugar, a par da Universidade da Madeira. Trata-se, portanto, de uma falsidade jornalística, desmentida na hora, mas o cujo protesto não mereceu qualquer publicação no mesmo jornal. Será porque essa instituição universitária tem sido (injustificadamente diga-se) conotada com um partido político ou, mais especificamente, com o último governo desse partido? Será porque a visibilidade pública e a notoriedade dessa instituição incomoda as suas concorrentes? Será porque o jornal Expresso não faz fretes a ninguém? Será porque a imprensa em Portugal é liberta e imune face aos mais variados interesses políticos, económicos, dos grupos de pressão, dos grupos de amigos? Ou será porque as teorias da conspiração não existem e são apenas invenções da cabeça de alguns?
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SEGUINDO AS SUGESTÕES DE NATAL



O que eu queria mesmo era algo especial que não consigo descobrir em CD. Tenho a versão em vinil, editada em 1986. Trata-se de uma homenagem a Lorca, com interpretações da sua poesia por Leonard Cohen (Take this Waltz), mas ainda por outros como Paco e Pepe de Lucia, Raimundo Fagner e Chico Buarque, George Moustaki e Mikis Theodorakis, Patxi Andion, entre outros. Todas as interpretações da poesia de Lorca nas respectivas línguas dos seus intérpretes. Inglês, castelhano, italiano, hebraico, português, grego, alemão. O verdadeiro espírito de Natal. Alguém me poderá dizer que tomou a liberdade de pensar em algo muito especial e onde posso encontrar a versão CD deste supremo album?

quarta-feira, dezembro 22, 2004

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ALIANÇAS INSUSPEITAS

Mais cedo do que tarde recebi resposta ao ponto 3 do post anterior. A provar como, afinal, como sabíamos, eles estão muito para além dos partidos políticos. Pinto da Costa queixou-se de não ser homenageado pelo presidente da autarquia portuense. Alberto João não perdeu tempo e vai de prestar a sua homenagem a Pinto da Costa. Este, por sua vez, não esperou muito para devolver o galhardete e afirma, logo ali, que Alberto João seria um bom Presidente da República. Como eles se entendem bem.

terça-feira, dezembro 21, 2004

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POST E VARIUS

1. Esperemos que os motivos para voltar a acreditar não sejam apenas um bloqueio temporário das forças que actualmente lideram o poder. Precisamos de razões mais substantivas e menos fugazes para voltar a acreditar.

2. O Barnabé parece ter seguido a nossa sugestão. A partir de agora haverá separação e reciclagem na caixa de comentários. Parece-nos bem, para bem do blog e do nível da blogosfera. O equilíbrio ecológico da democracia agradece.

3. Sim Pacheco Pereira, nestas coisas PS e PSD são iguais. Desta vez foi Sócrates que se calou face a Pinto da Costa, de outras vezes são os líderes do PSD que se calam face a Valentim Loureiro ou Alberto João Jardim. Por mim, digo-o já aqui publicamente, jamais votarei num partido que tenha como candidato autárquico ou o que quer que seja, alguém como Pinto da Costa. E o Pacheco Pereira diz o mesmo em relação a Valentim Loureiro ou Alberto João Jardim?
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PARA ALGUÉM

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Nasceste tu onde os cavalos bebem,
onde os rios se viram para o vento
e os ventos um ao outro se perseguem
até ao nó do seu sustentamento.

Vieste de onde a noite se distingue
tão lentamente em cacto e amarelo;
de onde a papoila aberta não se finge
outra coisa que o grito, a paz e o selo

dos elementos limpos, da alegria
do silêncio acabado de nascer
- tal como tu, que estás na periferia

cheia de centro, e força de viver
a hora longa do primeiro dia
na humildade firme de aparecer.

(Pedro Tamen, Escrito de memória)

segunda-feira, dezembro 20, 2004

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NÃO SE COMPREENDE

que Pacheco Pereira, por quem já aqui repetidamente exprimi a minha consideração intelectual, depois de ter dito e escrito o que disse e escreveu sobre PSL e quem agora detem o poder no PSD, diga que vai votar em PSL e neste PSD. Indefensáveis e incompreensíveis incoerências.
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PARA GANHAR ELEIÇÕES DIGO TUDO O QUE NECESSÁRIO FOR

Pronto, já percebeu, finalmente (demorou mas chegou lá), que os portugueses o desacreditam. "Reconheço que cometemos alguns erros", disse PSL em entrevista "exclusiva" à TVI. Se é necessário dar a mão à palmatória, ele dá. Cremos que se lhe disserem que tem de reconhecer que o seu governo foi o pior governo de que há memória na democracia portuguesa, ele reconhecerá, desde que lhe garantam que isso lhe permitirá angariar votos. Para ganhar eleições estará disposto a reconhecer tudo. A dizer tudo. A negar tudo. Vale tudo.
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O MOTOR DA HISTÓRIA NÃO SÃO AS ELITES

Mário Cláudio há pouco, em entrevista a Francisco José Viegas, na RTP, negava a tese que postula a ideia de uma "geração rasca" entre os jovens de hoje e, em particular, entre os estudantes. Dizia o escritor que embora o nível geral de conhecimentos dos alunos seja baixo, nunca como hoje houve uma minoria de excelência entre os estudantes. Já por aqui e pela blogos em geral se debateu isto, por contraponto ao que nos media impressos se escreveu sobre o assunto. Concordo em absoluto com Mário Claudio. Mas a mim não me satisfazem elites muito esclarecidas. Preferia uma boa qualidade do estudante médio pois, ao contrário do escritor, acho que embora sejam os muito bons que marcam a história da literatura, são os cidadãos médios que fazem a história de um país. É desses que temos de esperar uma melhor qualidade. É nesses que temos de investir mais. Mas é também necessário que eles queiram investir mais em si próprios.
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À ATENÇÃO DO BARNABÉ



Para colocação nas caixas de comentários. O debate de ideias e opiniões tem de separar os detritos para depois reciclar o que é reciclável. O resto terá de ir para a incineradora. A fragilidade do equilíbrio ecológico da democracia assim o exige.
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HIPER-REALISMO PÓS-MODERNO

Tem levantado celeuma o presépio com figuras mediáticas em cera, ou em plástico (?) a representarem as diversas figuras do nascimento de Cristo. Umberto Eco escreveu há muitos anos sobre o hiper-realismo destes museus de cera. Na verdade acho que a melhor representação, não das figuras natalícias do cristianismo, mas das próprias figuras mediáticas como a família Beckham, são aqueles bonecos de cera, ou de plástico.
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A PALAVRA DA MODA

Eu gosto das modas. Adiro com relativa facilidade a muitas delas. Há, no entanto, uma que não consigo vestir, incorporar talvez. A moda das palavras. Quando, por exemplo, se torna moda o uso recorrente de uma palavra como é o caso, presentemente, de inefável. De repente, inefável passou a ser o palavrão preferido para minimizar alguém. O inefável ministro, ou o inefável fulano, o inefável secretário-de-estado, lê-se em todo o lado e escrito por toda a gente, mesmo pelos mais inefáveis. Garanto que jamais insultarei ninguém com tal palavrão da moda. A moda do uso de expressões em moda não me convence.

sexta-feira, dezembro 17, 2004

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O VALOR DAS PALAVRAS


Egon Schiele, (1890-1918)

6.

Penso Liberdade, Esperança...
Palavras que possuem tua cor,
teu ritmo. Identifico-as
com o teu rosto. Nelas
me reconheço.

E sou livre
e espero.

Penso palavras que erguem
a claridade. Respiro-as
com o vento, o cheiro da resina.
Macias pestanas que auxiliam
a acordar sem fadiga. Laranjas
que eliminam a sede.

Sorris-me
e acordo.

Egito Gonçalves

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Bom fim-de-semana !

quarta-feira, dezembro 15, 2004

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PARABÉNS EMPÁTICOS

O Empatia fez um ano. Por pura empatia desde a fundação do FC, os meus parabéns a preto e branco.
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EDUCAÇÃO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO

Aqui se argumenta que o crescimento económico observável num país em determinada conjuntura, não possui causa no investimento recente em educação. Pois. Ou visto de outro prisma: Os bons investimentos na educação não produzem efeitos imediatos no crescimento económico mas produzirão sim no desenvolvimento de médio e longo prazo. Misturar estas evidências com a pretensa dissociação entre educação e desenvolvimento, ou confundir crescimento com desenvolvimento, é que já me parece forçar a nota para o lado da argumentação sem fundamento nem coerência. Aqui, por exemplo, já se misturam alhos com bugalhos, embrulhando-se argumentação teórica com ideologia.
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A MINHA PONTE É MAIOR DO QUE A TUA

Há uns anos, dizia eu a um amigo francês que a Ponte Vasco da Gama era a maior ponte da Europa, com os seus 17 Km de extensão. Esse amigo, do alto do seu orgulho de gaulês, retorquiu que não, que não acreditava. Parecia-lhe excessivo para um pobre país como Portugal ter a maior ponte da Europa, digo eu. Pois agora, et pour cause, os gauleses ostentam a mais alta ponte do mundo, com mais de trezentos metros de altura no seu ponto mais elevado. Julgo que o orgulho e o espírito competitivo dos franceses, ao invés do tamanho, deveria ir para o facto de não ter morrido nenhum operário na construção da sua ponte. Aí sim, um aspecto em que não podemos competir com eles. Há quem diga que "mais do que o tamanho, conta o desempenho". Assim parece.

terça-feira, dezembro 14, 2004

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SE ATÉ ESTE O DIZ...

Segundo leio no País Relativo, Luís Delgado terá dito a propósito da decisão de PSL e PP: "Eles hoje selaram a derrota". Se até Luís Delgado o diz, pronto, está dito. Já perderam.

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CONTRA O GRANDE CAPITAL MARCHAR MARCHAR

Cuidado com os interesses da alta finança e do mundo dos negócios, são uns perigosos esquerdistas que andaram a influenciar o Presidente de República para demitir o governo e convocar eleições. Por isso, portugueses, contra os interesses do grande capital votem PSL-PP (BR) [Brigadas Revolucionárias]

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TELENOVELA MEXICANA

A telenovela do casamento de PSL e PP baralhou completamente as entradas em vários blogs. Primeiro comentaram a coligação, depois a separação, depois a coligação de novo. Imagino que os nossos bloggers às tantas estivessem zonzos com tanto zig-zag. Hoje Sócrates disse que o namoro não deu em casamento mas em união de facto. Eu creio que não tem razão. Importa não esquecer que já havia casamento e filho (o XVI governo constitucional). Creio, pois, que o MC do País Relativo tem razão ao concluir estarmos em presença de um grave caso de "desestruturação familiar". Portanto, trata-se de um divórcio. De um divórcio não. De uma separação com comunhão de bens e sem tutela do poder paternal (abandono do filho). Confusos? É natural, até o Luís Delgado desta vez não percebe a coligação governamental. A coisa é mesmo confusa. Em parte desestruturada sim. Daí a confusão. Mas trata-se, sobretudo, de um abandono familiar. Um caso para ser apreciado pela Comissão Nacional de Protecção de Crianças e Jovens em Risco. O acordo reza assim: Vamos manter as aparências de casamento, mas fingimos que nos separámos e ao mesmo tempo preservamos a comunhão de bens (o poder, esse bem que tanto estimamos). Quanto ao filho da coligação (a experiência governativa que tivemos e as suas consequências) não tem pai nem mãe. O Presidente da República que se responsabilize por ele. Afinal, a culpa desta crise matrimonial é dele ! Nós não temos nada a ver com a crise.
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A ANTI-UBIQUIDADE

O advogado do ex-Vice-Provedor da Casa Pia diz que vai provar que o seu cliente "não esteve em sítio nenhum a hora nenhuma". Portanto, o homem evaporou-se no tempo e no espaço. Tarefa difícil, digo eu, mas tudo se pode provar. É tudo uma questão de perícia, em advocacia.
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PARABÉNS AO ABRUPTO

Dentro de pouco tempo o Abrupto vai atingir o milhão de visitas. É obra assinalável para um blog português não colectivo. Está de parabéns o JPP não só por possuir um dos melhores blogs nacionais, como por ser o blogger que desencadeou, pela publicitação do Abrupto nos media, o rápido crescimento dos blogs em Portugal. Eis um bom exemplo do que agora se designa por disseminação das best-practices.
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SEGURANÇA ONTOLÓGICA

As coisas efémeras são passageiras, por isso se chamam efémeras. Nada de mal desde que as coisas não efémeras persistam. Estejam lá sempre quando delas precisarmos. Essas são as únicas que valem a pena. Pela sua eternidade. Mesmo quando desaparecerem nunca terão sido efémeras.

segunda-feira, dezembro 13, 2004

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UM ANO FORMAL DE MA-SCHAMBA

Todos os dias eu vou até à Ma-schamba do JPT. Nela encontro sempre algo de interesse para cultivar, mesmo quando o JPT perde as estribeiras com os seus ódios de estimação e os seus fantasmas mais íntimos. Aí é sempre motivo para uma gargalhada quando o JPT solta as suas idiossincrasias, mesmo quando tal resulta do seu irracional lagartismo, como é o caso ainda hoje...É uma visão sempre singular do mundo através de uma escrita irrepetível. A blogos nacional precisa de ter uma machamba assim em terras de Moçambique. Parabéns José Flávio Pimentel Teixeira!
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ONE MAN SHOW

Santana apresentou a demissão do governo. A terra tremeu. Por favor, homem, deixe-se lá estar sossegado antes que não fique pedra sobre pedra neste pobre país.
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TRAGÉDIAS

Domingos Abrantes diz que "Desabou sobre o mundo uma enorme tragédia que foi o desaparecimento da União Soviética". Não se preocupe homem que ainda há quem queira reconstruir o Império.


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O FUTEBOL COMO ESPELHO DO PAÍS

O que se está a passar no campeonato de futebol da Primeira Liga pode bem ser o espelho do país. Quantas vezes a questão não é a existência ou inexistência de mais ou menos recursos financeiros, mas sim o modo como esses recursos são geridos. Os grandes clubes, com um elevado volume de recursos financeiros e com contratos milionários com os seus jogadores e treinadores, fazem triste figura perante clubes com orçamentos incomparavelmente mais baixos. Além do volume financeiro importa avaliar a qualidade da gestão financeira e desportiva. Além das infraestruturas ideais, como estádios novos e ultra modernos, sofisticados centros de estágio e patrocínios principescos, importa o conteúdo, o sentido e a qualidade do trabalho e da gestão. Não estou com isto a dizer que os pequenos clubes a tenham, mas sim que os grandes, com as condições que a priori possuem, tinham obrigação de fazer muito melhor do que os seus rivais e não o estão a demonstrar. Má gestão e desperdício de recursos não existem apenas no Estado. Também são observáveis nas empresas e nos clubes de futebol e respectivas SAD's.
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AS VIAS DO DESENVOLVIMENTO

A ideia de isenção de portagens nas chamadas SCUT, como factor indutor do desenvolvimento das zonas mais periféricas do país, é falsa. Não é a isenção de pagamento nas portagens de vias que passam ao lado, ou mesmo conduzem a essas zonas, que fixa população e recursos nas mesmas. Quando muito facilita que aqueles que ainda lá habitam procurem esses recursos (emprego qualificado, formação, cultura, consumo e lazer) onde eles existem, nomeadamente nas cidades médias mais próximas, no litoral e, sobretudo, nas duas áreas metropolitanas. A criação de novas dinâmicas de revitalização dessas zonas exige uma outra política de ordenamento do território nacional e a criação de factores que, de facto, fixem e atraiam populaçao e investimento. A captação de receitas com o pagamento de portagens nas SCUT poderia bem ser uma forma de gerar investimento público nessas zonas, criando desse modo as condições necessárias à sua revitalização. Investimento articulado para gerar emprego qualificado e equipamentos e serviços às empresas e à comunidade, em ordem a atrair e fixar, sobretudo jovens no interior do país. Começa, assim, mal a campanha de Sócrates. Dá votos mas não é responsável nem consequente.

sexta-feira, dezembro 10, 2004

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UMA PONTE NOVA


Pierre-Auguste Renoir, (1841-1919)


Para novos destinos.

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Bom fim-de-semana !
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ATÉ AO LODO DESTE CAIS

O país ainda não atingiu o lodo mas vai atingi-lo nos próximos meses. Vai valer o tudo por nada. Nada pode ser o que sobra de se descer tão baixo no mergulho até ao lodo. O descer até ao lodo num mergulho pode provocar falta de oxigénio nos cérebros que se torna irreversível, para a saúde, do país. Vem de longe uma campanha de descredibilização das instituições, dos cargos públicos, dos políticos. De promoção da confusão entre valores, regras, códigos de conduta e normas de ética. Uma campanha que só pode interessar a quem pretende descredibilizar o regime. Mas foi o regime que foi permitindo que tal acontecesse. Por inércia, por envolvimento nas teias da estratégia da aranha. Agora está preso nessas teias e delas terá enorme dificuldade de se livrar. Mas foram algumas figuras públicas que, de livre vontade, mostraram publicamente suas intimas vergonhas, numa ânsia de popularidade e mediatismo. Foram alguns políticos que após terem sido acusados de corrupção, ou de práticas financeiras ilegais, não foram julgados em Tribunal e continuaram a sua vida política como se nada tivesse ocorrido. Foram as acusações públicas da existência de corrupção e práticas financeiras ilegais no futebol que desacreditaram os dirigentes desportivos. Foi a promiscuidade entre o futebol, a política nacional e autárquica e o sector imobiliário. Enfim, um rosário infindável de motivos que o regime deu aos seus adversários, e ao povo, para que ambos possam agora julgar em praça pública, como se tem assistido. O regime (quero dizer os seus defensores, quero dizer os seus pilares institucionais) apenas se podem queixar de si próprios. Porque não tiveram a coragem, a independência dos interesses incrustados em torno do aparelho de Estado, ou tão só a vontade politica, para atalhar a tempo o mergulho às profundezas do pântano. Deixaram o país descer até ao lodo. Resta-nos acreditar na possibilidade da sua expurgação, depois de bater no fundo, para renascer do lodo.
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A ÓSCAR O QUE É DE ÓSCAR

O Ma-shamba resolveu atribuir prémios à blogosfera em 2004. Uma espécie de óscares que ao que parece vai ser corrente neste final de ano de consolidação dos blogs em Portugal. Atribui o JPT ao FC o prémio de "melhor blog da minha Escola". Bonomia do JPT só compreensível pelo sentido da expressão "minha Escola". Quer ele dizer, aqueles que andaram na escolinha, naquela em particular, nos mesmos anos. Desde inícios dos oitenta a meados dessa década. Não conheço outros blogs de gente que partilhe essa mesma condição connosco. Se a expressão "minha Escola" incluísse os que lá foram professores naquele tempo teríamos um exemplo destronante na blogos. Se fosse os que lá foram alunos depois e muito depois de nós, teríamos para aí exemplos aos molhos, todos de muita qualidade. Se fosse, até, os que não foram lá alunos mas são agora lá professores também teríamos exemplo. No sentido que JPT dá a "minha Escola", agradeço inchado o prémio que me atribui e devolvo em dobro o apreço.
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INFORMAÇÃO DE RELEVO

O homem voltou, redigiu um post em 3 segundos e sumiu de novo. Pede-se em blogs e caixas de comentários que volte. Bem falta faz como se depreende pela informação relevante que nos trouxe, transmitida pelo melhor da nossa televisão de qualidade. Acabe lá esse kit-kat de uma vez que a blogos anseia por si TdN.
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QUADRA DE NATAL

Estavam referenciados mas não passados a actos.
Um no Abrigo e outro no Guarda Factos.
Agora estão ali ao lado
pois quer um quer outro merece ser visitado.

quinta-feira, dezembro 09, 2004

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A ORDEM NATURAL DAS COISAS

Nada me move contra as revistas cor de rosa ou as festinhas do chamado jet-set nacional. Só acho que as coisas devem estar no seu lugar. Quando na sala de espera do dentista folheio aquelas revistas e as reportagens daquelas festinhas nunca me apercebi da presença nas ditas dos grandes empresários (salvo uma ou duas excepções), dos grandes políticos, dos maiores académicos e cientistas, dos homens de Estado. Não percebo, por isso, por que razão devem agora os frequentadores das ditas festas e dos meios de divulgação das mesmas, surgirem onde não é o seu lugar. Tudo ficará bem quando cada qual ocupar o seu lugar. Gosto de um mundo com diversidade, mas também com uma certa ordem. Cada coisa no seu lugar.

terça-feira, dezembro 07, 2004

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AS CONSEQUÊNCIAS DAS TRAPALHADAS DE SUA EXª O PR

Nada sei de Direito e ainda menos de Direito Constitucional. Foi apenas algum bom senso que, aliás, é no vertente caso voz corrente numa boa parte da blogosfera, me levou a escrever sobre a trapalhada do PR anunciar a futura dissolução do parlamento, ao invés de demitir primeiro o governo e colocá-lo apenas com funções de gestão corrente. Pois bem, pelo que agora diz quem sabe podemos confirmar que o PR, mais uma vez, meteu água. Ou, no mínimo, o que não é de somenos, está a dar azo com aquela sua decisão ao contrário da lógica do bom senso, a tomadas de posição do aparelho do Estado muito graves porque se trata "apenas" de serviços onde a instrumentalização partidária não pode de todo suceder porque seria por demais gravosa para o Estado de direito democrático.
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SOARES É OITENTA VEZES FIXE



Eis um político português do século XX que tem garantido um merecido lugar cimeiro na História. Independentemente de todos os seus erros de um longo trajecto de vida política, e do que ainda está por cumprir do projecto de democratização e desenvolvimento do país iniciado em Abril de 1974, o país deve-lhe a ele mais do que a qualquer outro da sua geração, disso não tenho dúvidas, o facto de vivermos hoje em democracia e liberdade.
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CENÁRIOS

A mim agrada-me este: Cheque ao Rei !
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PARADOXOS DA GLOBALIZAÇÃO

Fala-se ali, no programa Prós e Contras da RTP, na necessidade de valorização da língua portuguesa e da sua afirmação internacional. Parece-me muito bem. De resto, a afirmação (desesperada) das línguas e identidades culturais territorialmente mais enraizadas, e menos difundidas nos fluxos comunicacionais globais, é o outro lado da moeda da globalização. Mas como conciliamos este desiderato com o crescente império da língua inglesa como um "neo-espranto", na comunicção via internet, no mundo dos negócios, no universo académico e científico e nas formas de expressão cultural e artística crescentemente globalizadas com o inglês como idioma dominante? Como conciliamos isso, por exemplo, com as exigências de publicação científica predominantemente em língua inglesa, sendo sabido que é infinitamente maior o peso curricular de um paper (repare-se na lingua que se utiliza) publicado em inglês, face a um outro em português? Aliás, a tendência é para que o peso curricular do artigo que não em inglês seja próximo do zero. Para não falar na língua que teremos de passar a usar nas conferências internacionais, ou mesmo nas aulas onde teremos alunos de diversas nacionalidades, proferidas em Portugal (mobilidade dos estudantes) ou no estrangeiro (mobilidade dos docentes). Pouco adiantarão esforços ciclópicos no sentido do reforço da importância do português na internet, nas leituras e no ensino e aprendizagem da nossa lingua mater por esse mundo, bem como da sua utilização como língua oficial de organismos internacionais, se depois nos vemos confrontados com o imperativo categórico da utilização do inglês, se queremos comunicar globalmente, afirmar o produto do nosso trabalho, ou tornarmo-nos concorrenciais no mercado global dos bens ou dos conteúdos científicos ou culturais. Aliás, alguns dos que defendem a batalha pela nossa identidade cultural e linguística e respectivo património, são os mesmos que se conformam com as exigências anglófilas na comunicação científica e académica actual. Paradoxos da globalização.

segunda-feira, dezembro 06, 2004

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NÃO FICO CHOCADO

com palavrões como "choque fiscal" ou "choque tecnológico". Alguém, de bom senso e conhecimento da realidade do país, explique aos senhores candidatos a Primeiro-Ministro que esses choques não chocam ninguém. Eu, por mim, votarei naqueles que se proponham objectivos mais singelos e que ainda não atingimos neste rectângulo à beira-mar plantado. Votarei naqueles que definam como objectivos coisas realmente concretizáveis e necessárias para tirar o país do grau de atraso que possui face aos seus parceiros europeus. Depois sim, depois podemos começar a falar de competitividade da nossa economia no actual contexto de globalização, de sociedade da informação e do conhecimento e de outros grandes chavões em voga. Mas primeiro temos de conseguir que a média da escolaridade dos nossos empresários e dirigentes seja razoavelmente superior à quarta classe, que a maioria dos funcionários públicos saiba utilizar um computador para além da sua função de "máquina de escrever", que os professores sejam capazes de nos dizer as taxas de insucesso e abandono escolar das suas escolas, que os cidadãos nacionais sejam capazes de ler um jornal que não seja desportivo nem pasquim, que se interessem por outras formas de cultura além (ou ao invés) do preço certo e do um, dois. três. E assim, outras coisas tão singelas e tão básicas, como estas.
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POST FÚNEBRE



"Aqui jaz o governo de Portugal
Não morreu da crise
Mas do Alto Astral"


Contra-informação, Produções Fictícias, RTP
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SOBRE AS CONSPIRAÇÕES E A SUA TEORIA

Tal como a maioria dos políticamente correctos, (ou politicamente integrados?), também eu não acredito em conspirações. Muito menos nas respectivas teorias. Isso não existe, nem nunca existiu, em política. Aliás, política e conspiração até são coisas que nem ligam, nem nunca ligaram. São, por assim dizer, uma contradição nos termos. Pois. Quem sabe se a tia Guida não terá mesmo razão? Eu não acredito em conspirações, mas que as há, há.

domingo, dezembro 05, 2004

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ONDE ESTÁ VOCÊ AGORA...TERRAS DO NUNCA?

Fez um ponto há já algum tempo. Na altura sugerimos-lhe que fizesse uma pausa, sim, mas que voltasse. Mas ele ainda não voltou. Já cá fazia falta, sobretudo neste momento de crise, ou de piruetas e trapalhadas. Ele que, melhor do que ninguém na blogosfera, driblava a nossa realidade surrealista com o seu humor. Como, por exemplo, quando referiu a tradução (sugestiva) de Apito Dourado para espanhol, tratada na imprensa de nuestros hermanos como o caso do Pito D'ouro.
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QUEM TE AVISA TEU AMIGO NÃO É

"Na política não há amizades", afirmou Santana Lopes à revista Notícias Magazine em 2002. Henrique Chaves não deve ter comprado o DN naquele dia.

sábado, dezembro 04, 2004

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AR FRESCO [AINDA CÉZANNE: CAMINHOS A PERCORRER...]


Paul Cézanne (1839-1906)

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Bom fim-de-semana !
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CONVERGÊNCIA EUROPEIA OU O TERCEIRO MUNDO DA UNIÃO?

Esta semana tive de me deslocar a um gabinete de gestão de um programa comunitário. Um desses gabinetes que gerem milhões e milhões do fundo social europeu. Como é possível que quase vinte anos volvidos, após o início da nossa entrada para a comunidade europeia e a entrada dos respectivos fundos no nosso país, não tivesse sido construído um grande edifício onde albergar, com condições dignas, todas as entidades ligadas à UE? Ao entrar naquele edifício, inicialmente concebido para habitação, e agora já razoavelmente degradado, com o elevador avariado com um papel manhoso a dizer "use o monta-cargas ao fundo", com uma saída do "monta-cargas" lúgubre, em que é necessário ter cuidado para não tropeçar, damos com uma porta fechada, sem qualquer indicação da entidade que procuramos, temos de virar por um corredor às escuras até encontrar a porta de entrada "certa", que dá para o hall da antiga casa de habitação que foi aquela agora espelunca. Lá dentro somos atendidos pelo telefonista que usa meios tecnológicos de comunicação que pouco menos terão do que trinta anos de vida. Lembra-nos o porteiro de antigos prédios de habitação, precisamente. Depois esse telefonista chama alguém que nos vem receber (trinta minutos volvidos) ao hall e nos vai atender... onde? ... onde? ... onde houver uma sala vaga. Não há. Somos atendidos numa secretária de alguém que não foi trabalhar, por qualquer motivo. Empurram-se uns cinzeiros, umas canetas e uns maços de impressos para o lado e é mesmo ali que sentados nós, e em pé o nosso interlocutor, somos finalmente atendidos. Pensei: Estou num filme de Rosselini, na Itália dos anos 1940. Não existe União Europeia nenhuma em 2004 que quer competir com os Estados Unidos e atingir em 2010 a "Sociedade da Informação e do Conhecimento". Agora parece que só em 2020, e em 2014 talvez só em 2030. Ou, então, existe uma União Europeia nos países mais a norte e aqui estamos no terceiro mundo dessa União. Ao que parece nada Convergente.
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(IM)PROBABILIDADES

E se...

A demagogia hábil de Santana Lopes consegue convencer uma parte do eleitorado de modo a ganhar as eleições?

E se...

Ao invés de apanhar uns pobres árbitros de futebol numa aldeia recôndita do alentejo, a PJ investigasse a fundo a anunciada promiscuidade entre futebol e política e entre futebol e "lavagem de dinheiros sujos", na expressão de uma conhecida magistrada?

E se...

As previsões sobre o início da retoma da economia portuguesa deixassem de descoincidir consoante a instituição internacional que as profere (OCDE, CE, BCE...) ou consoante o media que as divulga entre nós?

E se...

O PP (leia-se Paulo Portas) se consegue demarcar dos "disparates do governo" ("todos feitos pelo PPD"), evitando desse modo o seu previsível fim político?

E se...

O PS começasse o quanto antes a mostrar que tem uma estratégia, um programa, e quem os execute, e a desmontar a táctica de vitimização de PSL?

E se...

O PR explicasse, o quanto antes, aos portugueses por que motivos vai dissolver a Assembleia e convocar eleições antecipadas, inviabilizando antecipações de leituras que apenas servem os interesses de quem as profere e difunde nos media?
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JÁ COMEÇOU

a campanha do demagogo. O JPP é que os topa. Tal e qual como hoje mesmo escreveu, foi o que se ouviu na Póvoa de Varzim.

sexta-feira, dezembro 03, 2004

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O PAÍS ÀS AVESSAS (2)

Não bastavam já as trapalhadas do governo de Santana e Portas, para termos ainda as trapalhadas do nosso PR. A decisão que tomou, só pecou por tardia, é bem verdade. Até porque a crise não surgiu agora. Foi criada pela saída intempestiva de Barroso para a CE e pela decisão de Sampaio de não convocar eleições, nesse momento. Santana que nunca ganharia o partido em congresso viu o lugar de presidente do PSD cair-lhe nos braços, e por consequência o lugar de PM, sem ter de ser sufragado pelo voto. Foi o que se sabe em matéria de trapalhada. Agora temos um presidente que decidiu arrepender-se e acabar com as trapalhadas que ele próprio gerou, mas acrescentado-lhe mais trapalhadas. Ao invés de demitir o factor de instabilidade e de poder não legitimado (o governo), dissolve a Assembleia legitimamente eleita. Esqueceu-se de notificar o Presidente da Assembleia de que pensava dissolvê-la e é ao PM que diz que a vai dissolver. Entretanto deu posse a secretários de estado de um governo que vai demitir (pressupomos) dentro de dias...Entretanto quer que um orçamento elaborado por um governo que vai demitir (supomos) depois de decretar a dissolução da Assembleia, seja aprovado antes dessa dissolução, para ser executado pelo governo que vier a saír de eleições. Obriga, assim, esse governo a governar com um orçamento que não é o seu. Entretanto, vai ouvir o Conselho de Estado para quê se já tomou a decisão que deveria tomar após a consulta daquele orgão? Enfim, tudo ao contrário da lógica. Estamos perante um país às avessas.

quinta-feira, dezembro 02, 2004

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O PAÍS ÀS AVESSAS: CEGUEIRA, INÉRCIA E O NOSSO DESTINO

1. Neste post, JPP está, quanto a mim, equivocado por três razões diferentes. Em primeiro lugar porque a nossa economia sofre os efeitos da globalização e das decisões de Bruxelas, mas funciona, ainda, largamente numa base territorial nacional. A sua fraca internacionalização e capacidade competitiva nos actuais fluxos globalizados é um dos seus problemas. A sua lógica organizacional e de mercados, é ainda demasiado nacional e por esse motivo, também, depende mais das decisões do governo nacional do que seria normal no actual contexto de globalização. Porventura essa dependência reforça a sua debilidade quanto à internacionalização, num efeito de "pescadinha de rabo na boca". Em segundo lugar porque o sector da educação e formação representa, apesar de tudo, um dos sectores onde a internacionalização e o funcionamento numa lógica globalizada está mais presente, por exigência da nossa integração europeia, apesar de estarmos longe do ideal, mesmo a esse nível. Em terceiro lugar porque a parcela de fracasso da nossa formação profissional, como da nossa educação, resulta precisamente de não termos ouvido os verdadeiros empresários (que são poucos, infelizmente) e ter sido conduzida, sobretudo por aqueles agentes que JPP acha que devíamos ouvir, nomeadamente, professores sem grande ligação à realidade da economia do país. O principal factor de fracasso do investimento (desperdício?) na formação, foi o facto de termos promovido muita formação (a sua maioria?) sem conexão com o mundo real do emprego e das empresas. Não se atendendo às necessidades reais de formação da economia do país. Para a inversão dessa realidade seria fundamental, e não se fez, ouvir os empresários.

2. Neste post, JPP tem razão quando diz que perdemos uma grande oportunidade de colocar o país noutro patamar de desenvolvimento, tendo desperdiçado muitos milhões provenientes dos fundos comunitários. Oportunidade irrepetível, sem dúvida. Já escrevi sobre isso aqui no FC. A frustração que muitos de nós hoje sentem com o "estado da nação", prende-se com esse factor. E tal como o JPP julgo que temos boas razões de preocupação em relação ao futuro do país, devido ao mau uso que fizemos daqueles fundos. A responsabilidade desta situação é partilhada pela generalidade dos partidos, com particular incidência nos dois maiores, mas é também dos cidadãos que genericamente se deitaram à sombra dos fundos ou utilizaram-nos para fins menos nobres do que o bem público.

3. Embora tenha razão, no geral deste post, JPP só se engana, em minha opinião, numa coisa. É que o problema não está no Estado. Mas nas utilizações que os cidadãos (políticos e suas clientelas) dele têm feito. Num país com o nosso nível de desenvolvimento é, por maioria de razão, fundamental que o Estado tenha um papel decisivo nas políticas que, por isso mesmo, se chamam públicas. O problema reside no facto de não termos tido políticas públicas em muitas matérias e termos funcionado ao sabor das oportunidades, da gestão da inércia, dos interesses instalados, das resistências das corporações, do clientelismo e da falta de visão de futuro. Não só do Estado, como das suas clientelas, incluindo uma grande parte do nosso tecido empresarial, designação já de si eufemística, tendo em conta a qualidade e a natureza da maioria desse "tecido empresarial".

A questão é saber se ainda iremos a tempo de inverter este "estado de coisas" nos próximos tempos. A mudança é difícil, mas necessária, se de facto queremos sair da nossa mediocridade. Concordo com JPP quando diz: "Só há três antídotos a esta situação: poder forte, com a força dos votos [e sublinho a força dos votos], autoridade que vem da credibilidade [e sublinho a credibilidade], e vontade de mudança [e sublinho a vontade]. A conjugação é raríssima, mas existe [e sublinho que existe, acrescentando que está nas nossas mãos]".

quarta-feira, dezembro 01, 2004

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A LER

Hoje e nos próximos dias no Memória Virtual, uma análise da blogosfera no ano da sua consolidação, 2004.
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EIS UM BOM ANALISTA A PENSAR MAL

Pacheco Pereira, assumido cavaquista, ainda nos tempos actuais, queria agora que os relógios andassem ao contrário e lhe restituíssem os "ontens" que já lhe cantaram fundo. Não. A História até se pode repetir, por vezes, mas não se repetem as circunstâncias, os contextos, as condições necessárias. Nem Cavaco Silva aceitaria, alguma vez, vir substituir Santana Lopes. É absolutamente inverosímil que Cavaco Silva quisesse voltar ao mesmo papel que já ocupou na história do país. Por outro lado, ainda que tal fosse a sua vontade, não me parece que os eleitores fossem premiar eleitoralmente uma repetição da História, mesmo que o capítulo a repetir fosse maioritariamente avaliado como um bom capítulo. E por que razão ao PSD só o próprio PSD lhe pode suceder? É péssima a ideia, para o sistema democrático, de que a alternativa a um partido é o próprio partido. Qualquer que ele fosse. Não tivemos já suficiente prova de que é um mito a ideia de que só o PSD é um partido de poder? Sobretudo quando demonstrou tanta incompetência, no caso de Santana e fuga às responsabilidades democráticas, no caso de Barroso? Se alguma coisa ficou provada nos últimos tempos foi que este PSD fez oposição mesmo quando foi governo. Este governo do PSD foi o maior opositor de si próprio. Finalmente, tal como já aqui escrevi, pese embora o facto de José Sócrates não ter ainda suficientes provas dadas no seu trajecto político e de Estado, deu já prova bastante que não é, de facto, ao contrário do que diz JPP, a "outra face da mesma moeda má" representada na alegoria de Cavaco por Santana Lopes. Demonstrou já, ter substrato incomparável face a Santana e sentido de Estado para constituir um governo de pessoas competentes mas com visão política, independentemente dos núcleos de apoiantes e amigos, e até independentemente de filiações partidárias. E é disso que o país precisa. Não é de um Messias salvador e muito menos de alguém com uma visão teimosamente tecnocrática da política.
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SMS DE UMA AMIGA

Aleluia! o Sampaio começou finalmente a ler o teu blog.
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ADEUS BEBÉ CHORÃO

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FINALMENTE...

Sampaio desligou a incubadora.