sexta-feira, setembro 30, 2005

Sondagens de Opinião

Recentemente respondi a uma sondagem de opinião, telefonicamente. Acreditem que não sabia qual a marca de pneus que uso no meu carro. Na verdade já terei reparado na dita cuja, mas confesso que com a quantidade de informação relevante que tenho de memorizar, a marca dos pneus do meu carro é uma informação que entra por um olho e sai pelo outro. Pior ainda. Fui confrontado com a pergunta sobre as marcas de pneus que conhecia e apenas fui capaz de mencionar cinco, quando na realidade, fiquei a saber pelo entrevistador, existem mais de vinte. As cinco marcas que fui capaz de referir são, obviamente, aquelas que mais frequentemente são publicitadas nos media. Quando questionado sobre a próxima data em que iria trocar de pneus e sobre a marca que iria adquirir, fui compelido, perante embaraçosa indecisão, a avançar uma data aproximada e uma marca hipotética. "Olhe, se não for em Outubro, já só será em Janeiro e pode ser Michelin porque gosto do boneco gordo..."

quarta-feira, setembro 28, 2005

Terrorismos

Alguém não terá apreciado a entrada anterior e resolveu eliminar-me o template. Uma cópia de segurança (desactualizada) resolveu a questão. Por esse motivo algumas ligações ressuscitaram e outras mais recentes desapareceram. Actualizações in progress. Também eu sou obstinado. Até já...

É a pronúncia do norte

Uma concorrente de um programa televisivo, guia turística de profissão, contava que os turistas americanos julgando com frequência ser Portugal uma província espanhola, a questionavam: "vocês têm um grupo terrorista no norte do país, não é?". Ela lá explicava um pouco da história da Nação e da Península Ibérica. Mas enganava-se. Deveria responder que sim. Que temos um grupo separatista no norte e que os seus líderes máximos se chamam Pinto da Costa e Ludgero Marques.

segunda-feira, setembro 26, 2005

Nos bastidores do reality show

Quem não se sente não é filho de boa gente, disse Carrilho na sequência do episódio do aperto de mão cínico de Carmona ao qual não correspondeu. A frase pretendia afirmar uma superioridade moral de carácter e de linhagem, em matéria de honra e dignidade. Mas acima de tudo pretendia significar uma postura de honestidade política e sinceridade de sentimentos. Menos de uma semana depois Carrilho apertava a mão a Carmona. Foi quanto durou a honestidade política e a sinceridade de sentimentos de Carrilho: Menos de uma semana. O cínico Carmona, por sua vez, permaneceu cínico e estendeu a mão a Carrilho, demonstrando-lhe a sua sinceridade de sentimentos e a sua honestidade política. Depois de lhe chamar ordinário. Carmona mostrou que sabe perdoar um ímpeto mais irreflectido de quem desconhecia continuar a ser seguido pelas lentes que podem levar a crua verdade ao povo eleitor. Mostrou ainda, a sua superioridade moral e de carácter àquele que, julgado nos bastidores do reality show da política, não lhe correspondeu em barómetro de cinismo.

Desconfundindo os planos

Para ler atentamente até ao fim. Aqui.

domingo, setembro 25, 2005

Confusão de planos (3)

Não me admiraria que Isaltino, Valentim, Ferreira Torres e Fátima Felgueiras se candidatem por estarem convictos que os resultados da sua corrida eleitoral poderão influenciar a decisão do tribunal. Embora seja inquietante, para a democracia e o Estado de Direito, que uma tal hipótese de confundir a esfera judicial com a esfera política lhes possa, eventualmente, ter passado pela cabeça. O que admira mais, no entanto, é a confusão implícita entre a esfera política e a esfera judicial por parte de comentadores e até políticos responsáveis (como Cavaco Silva e Marques Mendes) ao comentarem o caso do regresso de Fátima Felgueiras. A resposta democrática e dos tribunais a estes casos apenas deve ser a de deixar claro, nos respectivos processos judiciais, que um eventual capital eleitoral não pode ser colocado a render, como eles hipoteticamente julgariam, em sua defesa no banco dos réus e que, portanto, o resultado desses processos é absolutamente independente de quaisquer resultados eleitorais. No plano político, se a justiça funcionar como todos desejamos que funcione, apenas haverá presidentes de câmara declarados inocentes pelos tribunais. Aqueles que o não forem, perderão o direito ao exercício do cargo. Não será assim?

Adenda: A hipótese veiculada na imprensa de que o PS teria negociado com FF o seu regresso ao país é, quanto mais não seja do ponto de vista da mera lógica, absurda. Que interesse teria o PS no seu regresso, mesmo a tempo da campanha eleitoral autárquica? Só no registo de uma qualquer teoria conspirativa, alguém no PS militantemente anti-Sócrates poderia beneficiar com um tal "regresso negociado".

Globalização do capital e localização do trabalho?

Caro Paulo,

Eu deixaria a coisa (o futuro não improvável) um pouco menos linear, no que concerne à diferenciação social (ou sócio-profissional) da mobilidade. A capacidade de mobilidade do capital, das mercadoriais, como das pessoas, será um dos factores decisivos das novas formas de diferenciação social, a par (ou em articulação com) o acesso à informação e ao conhecimento. As elites terão maior capacidade de mobilidade, como maior capacidade de aprovisionamento dos meios para tal e bem assim como para acesso à informação e conhecimento. No entanto, a ideia de "fixação ao solo das massas populares" creio que deverá ser relativizada. Uma maior mobilidade do "trabalho" será igualmente um imperativo da economia globalizada. Mesmo do trabalho de fracas exigências em qualificações e especializações. Mas também do trabalho altamente especializado, ainda que em profissões de "trabalho manual". Porque será escassa a oferta do mesmo em alguns países e porque será imperativo das assimetrias mundiais, mas também devido à própria mobilidade dos restantes factores produtivos, nomeadamente do capital. O trabalho "irá atrás" das localizações do capital. A ideia (já actual) do universo cosmopolita das metrópoles contemporâneas não será (também) consequência dessa mobilidade crescente das "massas populares" à escala global? Acontece que poderemos não estar a falar do sector industrial, no caso das metrópoles mundiais, mas do sector dos serviços à produção (localizada esta algures no globo). Ou do sector "reprodutivo" (restauração, lazer, entretenimento, cultura). Todos eles exigentes, também em matéria de "mão-de-obra" de relativa ou baixa qualificação, proveniente das migrações internacionais e não apenas das "elites profissionais" altamente qualificadas que circulam à escala global. Tenho para mim que o grande traço de continuidade da história da humanidade é o crescimento da capacidade de mobilidade e que a modernidade contemporânea intensificou essa capacidade, com a massificação necessária do transporte aéreo e dos meios electrónicos de mobilidade. E tenho também para comigo que embora mantendo diferenciações sociais e criando novas formas de desigualdade a esse nível, a generalidade dos cidadãos de um mundo crescentemente cosmopolita serão cidadãos com crescente capacidade (e necessidade) de mobilidade. As elites, como as "massas populares", de forma diferenciada, bem entendido.

quinta-feira, setembro 22, 2005

Isaltina se tu fores às urnas

Pronto. Já está. O PS já tem a sua Isaltina. As eleições autárquicas podem ser amanhã.

A hipocrisia dos senhoritos

O que os senhoritos quiseram dizer foi que as mulheres que recorrem à interrupção voluntaria da sua gravidez e, por esse facto, são julgadas em tribunal, “apenas” são publicamente humilhadas. Delas “apenas” se expõe publicamente o que de mais íntimo e doloroso haverá nos seus sentimentos. Mas depois são libertadas. Não são presas. O que isto quer dizer é que o que importa, para os senhoritos, é preservar a hipocrisia e perpetuar o seu status quo.

quarta-feira, setembro 21, 2005

The american way of brainwashing

Segundo os meios de comunicação, o Mayor de New Orleans suavizou as suas críticas à administração americana e está agora mais calmo, após ter aceite a proposta de Bush para tomar um duche no Air Force One.

Mais anti-americanismo

Tem estado a dar na SIC-N no programa 60 minutos, versão portuguesa apresentada por Mário Crespo do programa da CBS, uma reportagem sobre o caso Katrina. Os jornalistas conhecedores de fenómenos congéneres nos EUA e no resto do mundo, dizem-se estupefactos não só pelos efeitos do furação, como sobretudo pela ineficácia (ou ausência?) da assistência à população de New Orleans, nos dias seguintes às inundações. Dizem não compreender como tal inércia foi possível num país com os recursos que, como todos sabemos, os EUA possuem. Serão todos aqueles jornalistas americanos da CBS fanáticos anti-americanos?

Temores pós-modernos

Eu temo outra coisa. Temo que a formação em sociologia ou filosofia dessas jovens seja apenas um adereço, como os óculos, o chicote ou as algemas. Ou, então, qualquer coisa como: "eu faço ténis", "eu vou ao ginásio trabalhar os abdominais". Qualquer coisa como "a era do vazio" cantada por Lipovetski.

Questionamentos eleitorais germânicos

Será que os resultados eleitorais da Alemanha querem dizer que o modelo de Estado social defendido genericamente pelas social democracias europeias é demasiado bom para ser perfeito e demasiado perfeito para ser bom?

O candidato vómito

O político que apenas tem um projecto de poder pessoal cai invariavelmente no discurso e nas promessas demagógicas. O populismo é a argamassa de que é feito. A feira o seu palco preferido. Vazio é o conteúdo das suas propostas. Políticos sem projecto que não seja unicamente o seu projecto de poder pessoal são, além do mais, o cancro das democracias. Apenas servem para minar a razão de ser do sistema democrático.

A prova antes do delito

Cenário: um grupo de professores aguarda a ministra da educação e o primeiro-ministro, insultando ambos e chamando fascista a Sócrates. Encenação: o líder sindical, organizador da manifestação e dos respectivos métodos, mais próximo dos jornalistas, entrega um envelope ao primeiro-ministro e como este não o aceita pergunta: "a sua democracia não o permite aceitar uma carta dos professores?" Estas tácticas de manipulação política e de opinião são por demais conhecidas e a autoria do método utilizado também. Em linguagem judicial diríamos que se trata de primeiro acusar, depois fabricar o crime para provar a acusação produzida à anteriori.

quinta-feira, setembro 15, 2005

Ensino: as razões do insucesso

Vale a pena ler este texto de Paulo Pedroso a propósito do relatório da OCDE sobre insucesso escolar. As coexistências são mais complexas e difíceis de gerir do que as segregações. Ao nível residencial como ao nível escolar. Mas não tenho dúvidas que só as coexistências pensadas, seriamente trabalhadas, isto é, planeadas e estudadas, são frutíferas em matéria de coesão social. Ao invés das segregações ou getizações, continuadamente perpetradas na prática de quem urbaniza como de quem gere o sistema escolar. No que concerne em particular ao ensino, os frutos da coexistência não residem apenas ao nível das taxas de sucesso escolar dos alunos "mais dificeis", como da promoção social dos alunos provenientes de meios menos providos dos capitais, ou recursos, que fazem normalmente a diferença entre o sucesso e o insucesso escolar.

A ver passar os comboios

[Declaração de desinteresse nº perdi-lhe a conta]

Não tenho nada a ver com o sindicato nacional democrático da ferrovia (nem a haver do mesmo)

[Declaração de interesse nº 1]

Sempre gostei de comboios e de viajar nos mesmos.


O Fórum Comunitário registou hoje um pico inédito de audiências. Não por ter sido citado pelo Abrupto ou pelo Terras do Nunca. Nada disso. Mas por ter sido citado pelo site do Sindicato Nacional Democrático da Ferrovia.

quarta-feira, setembro 14, 2005

Maria, vai lá tu por mim

Apetecia-me dar umas murraças nuns tipos que por aí andam. Mas não o faço porque sei que estaria a atentar contra a integridade física de alguém e por esse motivo poderia ser detido, julgado e condenado em tribunal. Assim sendo, vou pedir à minha mulher que vá dar essas murraças por mim. A ela não a poderão incriminar pois terá agido em meu nome e a meu pedido e a mim não me podem julgar pois eu não terei agredido ninguém.

Algo que não acontecerá em parte alguma deste mundo

Depois de assumir a sua responsabilidade na falta de assistência à cidade de Nova Orleães, durante os quatro longos dias que se seguiram ao furacão, Bush vai devolver a vida aos mais de 500 habitantes da cidade que morreram devido à sua incúria.

terça-feira, setembro 13, 2005

Um estado à parte

Por que será que tantos autarcas quando se referem ao Estado Central dizem: "o Estado", por contraponto às autarquias, como se essas não fossem o Estado Local. Ou melhor, como se essas fossem exógenas ao Estado. Algo independente, não sujeito às regras democráticas e às leis que regem o Estado, em geral...

Confusão de planos (1)

Chama a atenção RPP: "o problema com a candidatura autárquica do BE em Lisboa é a confusão, perigosa, entre combate político e confronto judicial".

Confusão de planos (2)

"O plano cívico e o plano jurídico-constitucional são distintos", afirmou Maria José Morgado, para justificar que pode haver uma discussão pública sobre o tema da corrupção nas autarquias, sem que isso tenha de implicar apresentação de prova, ou enumeração de casos concretos de corrupção, como se estivéssemos num tribunal. A confusão dos dois planos apenas beneficia os que pretendem reduzir o plano cívico ao mínimo, pois só esse patamar de cidadania permite que aquilo que não se pode provar judicialmente continue a existir e a minar o Estado de Direito.

Pós e contas

1. Quando se diz: "não generalize, fale de casos concretos" é porque se sabe que não é possível enumerar os casos concretos, porque a corrupção e o tráfico de influências em discussão, pela sua própria natureza, faz-se de modo a não deixar rasto.

2. Quando se diz: "apresente provas", é porque se sabe que não é possível apresentar provas, porque a corrupção e o tráfico de influências em discussão, pela sua própria natureza, faz-se de modo a não deixar rasto.

3. Quando se diz: "as inspecções que se façam" é porque se sabe que as inspecções são feitas e nada encontram, porque a corrupção e o tráfico de influências em discussão, pela sua própria natureza, faz-se de modo a não deixar rasto.

segunda-feira, setembro 12, 2005

A fatídica frase

Ao contrário da mais fatídica frase da blogosfera, este blog não "acaba aqui". Apenas vai entrar em regime de intermitência.

sábado, setembro 10, 2005

Por que será Cavaco o próximo PR?

Ao contrário do putativo candidato a PR, Professor Cavaco, eu tenho muitas dúvidas e engano-me com alguma frequência, tal como já aqui referi por mais de uma vez. Mas, se não estou de novo enganado, o próximo PR será o Professor Cavaco. Muito desejaria eu que assim não fosse pois, como também já aqui escrevi, votarei Soares. Considero que a ideia de Cavaco como PR é um equívoco e, apesar de não partilhar da sua visão do mundo, preferia mil vezes vê-lo como ministro das finanças (para o que julgo reunir competências indiscutíveis) do que como PR. Mas julgo, também, que o povo português, crispado, desiludido, deprimido como anda e parco em cultura política, como sempre andou, votará maioritariamente em Cavaco. (i) Porque acredita no mito de D. Sebastião. (ii) Porque pensa que as bibliotecas não fazem falta, mas perceber de finanças é fundamental mesmo para se ser PR. (iii) Porque não gosta do gesto daqueles que retornam em busca do poder que outrora já detiveram. (iv) Porque encontrando-se em situação de acentuada crise e algum desespero, não é da bonomia [Soares é fixe] que outrora via em Soares que esse povo agora espera, mas antes - como se ouve tantas vezes na rua - de alguém com "mão de ferro", como julga ser o caso de Cavaco. Acresce que, desta vez, não há a mínima hipótese de se repetir o incidente da Marinha Grande que deu a vitória a Soares há vinte anos, quando um militante comunista ali agrediu o então arqui-inimigo do PCP. Por via de regra os portugueses (militantes comunistas incluídos) não maltratam os idosos. Ora, agora Soares já goza desse estatuto, pelo que aqueles que acreditam no volte face das sondagens não poderão contar com os efeitos perversos (em sentido favorável) desse gesto agressivo pois, passados vinte anos, não acredito que alguém volte a ter o despautério de sequer beliscar a face de Mário Soares. Esse estatuto senatorial que os portugueses reservam para os idosos inactivos, aos quais falam mais alto, com condescendência e passando a mão pelos respectivos cabelos brancos, correrá contra Soares e, inversamente, beneficiará Cavaco que julgarão ainda merecedor de uma derradeira oportunidade.

sexta-feira, setembro 09, 2005

O Milagre socrático

E de repente a economia nacional está já a sair da recessão. Ainda antes de nela entrar a sério.

quinta-feira, setembro 08, 2005

A queda das torraltas

Não consigo perceber onde possa estar o espectáculo da queda de duas torres. Ainda assim esse momento simbólico significa o fim de uma época. Mas não da época do império do betão ou do turismo nefasto para as condições ambientais e paisagisticas que tipificavam as torres do modelo de turismo de massas. Significa apenas, e ainda bem, o fim de um modelo económico que caracterizou a Torralta na segunda metade da década de setenta. Sendo certo tudo isso, não é menos verdade que o projecto alternativo, agora iniciado, não está isento de muitas interrogações no que ao desenvolvimento sustentável diz respeito. Desde logo porque em lugar daquelas torres outros edificios de betão, de menor densidade, é certo, mas ainda assim de alguma dimensão, ali serão construídos. O maketing SONAE é eficaz mas não torna opaco aquilo que é por demais transparente. O simples facto de haver um upgrading social do mercado alvo do novo projecto e uma gestão moderna e verdadeiramente empresarial do mesmo, não tranforma, por passo de mágica, aquele projecto em amigo do ambiente e do equilíbrio paisagístico e urbanístico. Depois porque ele se enquadra no grande embuste das economias menos desenvolvidas da era global contemporânea. De facto, embora esteja em voga a ideia de que o turismo é a panaceia do desenvolvimento do país, tal ideia é merecedora de muitas dúvidas porque o turismo não é um sector motriz do desenvolvimento. Ele é sim, à semelhança dos restantes sectores em que aquele grupo económico está envolvido, uma fonte de elevadas mais valias financeiras. O desenvolvimento sócio-económico, porém, é outra coisa. Em primeiro lugar porque é óbvio que ele não vai contribuir para gerar emprego local qualificado, mas vai, isso sim, procurar esse emprego onde ele existe (não na Península de Setúbal). Em segundo lugar, porque o turismo apenas é um factor subsidiário de desenvolvimento nas regiões e países onde outros sectores, nomeadamente de produção de bens transaccionáveis, e em particular aqueles que são fortes em conhecimento e design intensivos, têm importância estruturante nas respectivas economias. Dizer que um projecto como o Troia Resort é um projecto estruturante do desenvolvimento é uma falácia. O sector do turismo e do lazer, por si, não são estruturantes de desenvolvimento em parte alguma do mundo. Finalmente, o turismo representa, do ponto de vista cultural e civilizacional, aquilo que de mais cínico existe nas economias e nas sociedades contemporâneas. Veja-se o que é o objecto de consumo na actividade turística. Quem consome e quem e o quê é consumido nessa actividade. A relação do turista com o seu objecto de consumo constitui a mais vil relação com o "outro" que é possível encontrar nas actividades e interacções humanas. A narrativa do turista e a experiência turística implicam o maior desprezo e afirmação simbólica de domínio, de uma civilização e de algumas das culturas que dela emergiram, ou de uma classe social e de algumas das fracções que dela resultaram, sobre as demais culturas nacionais, regionais ou locais do mundo em que vivemos. Há diversos sinais claros que apontam no sentido da transformação do país no lugar do grande "resort da europa", o que significaria conformarmo-nos com um lugar rasteiro em matéria de desenvolvimento socioeconómico no contexto europeu e mundial.

Katrina: The American Beauty

1. O que espanta é o espanto subitamente demonstrado, por pessoas geralmente bem informadas, sobre a "outra face" dos EUA que agora veio à tona mediática com os efeitos do furacão Katrina, nomeadamente na cidade de Nova Orleães. Embora não seja uma realidade tão recorrente nos media como a América da NASA, da Microsoft e do MacDonalds, a América das profundas desigualdades sociais, da segregação racial das suas cidades e da pobreza urbana é suficientemente difundida na literatura, no cinema e, apesar de tudo, nos media impressos, para ser do conhecimento comum.

2. Aos que persistem em vislumbrar "anti-americanismo" na constatação daquele facto, chama-se aqui a atenção para o facto de ter sido nos EUA que nasceu (no início do séc.XX) um ramo especializado da sociologia - a sociologia urbana - que ficou a dever o seu êxito [porventura muito superior ao que possui na europa], em boa parte devido ao apoio ao seu desenvolvimento que recebeu do poder político norte-americano, justamente numa tentativa de procurar solucionar, ou minimizar, as situações de pobreza e de discriminação racial geradas nas cidades norte-americanas e sobre as quais o poder político norte-americano de então tinha perfeita consciência e manifesta preocupação.

3. Que a questão da pobreza nos EUA é indissociável da questão racial, é algo que constitui uma evidência empírica comprovada por todos os estudos sociológicos americanos sobre tal temática, desde o início do século vinte até à actualidade. Seria impossível enumerar aqui todos esses estudos. No Canhoto RPP chamou a atenção para um deles (American Apartheid. Segregation and the Making of the Underclass). É do conhecimento comum a estratificação racial da pobreza norte-americana, onde a população negra está sobrerepresentada. Do mesmo modo que é do conhecimento comum a profunda segregação residencial, de natureza classista e racial, das cidades norte-americanas. Peter Marcuse da Columbia University demonstra essa realidade no caso da cidade de Nova York, com base no mapeamento dos habitantes da cidade segundo a sua pertença racial e a sua residência, analisando as razões para a continuidade e reforço dessa "guetização" no que chama "cidade pós-fordista", no caso americano. [ Cf. MARCUSE, Peter, (1996), "Space and Race in the Post-fordist City: The Outcast Ghetto and Advanced Homelesseness in the United States Today", in MINGIONI, Enzo (ed.), Urban Poverty and the Underclass,Cambridge, Massachusetts, Blackwell Publishers.]

quarta-feira, setembro 07, 2005

A Ler

Optimismos d´aquém e racismos d'além mar.

terça-feira, setembro 06, 2005

O maior ignorante é aquele que tudo sabe

A ignorância é aquela qualidade que considera conhecimento e verdade absoluta o acesso ao mínimo de informação sobre o que quer que seja.

Pergunto...

e qual é o grupo empresarial de comunicação do PSD? Será o Impresa?

domingo, setembro 04, 2005

I'm goin' back to New Orleans


Os habitantes desta cidade não mereciam tanta desgraça: uma da natureza, Katrina, outra anti-natura, Bush.

E o prémio olho de lince

vai para o Estranho Estrangeiro que conseguiu identificar o livro que aqui o autor deste fórum tem sob as mãos na foto que passou a figurar no canto superior direito.

quinta-feira, setembro 01, 2005

Darwinismo blogosférico (2)

É elevada a taxa de mortalidade na blogosfera. São as leis de Darwin a funcionar. Esta noite dediquei-me à limpeza dos defuntos ali ao lado.

E a traulitada continua

Hoje é Gondomar (também na SIC-N). E lá está o Major. Pois claro. Começou bem (com Amarante e Ferreira Torres) e continua melhor (com Gondomar e o Major) o debate trauliteiro.

Darwinismo blogosférico

Alguns blogues estão permanentemente a começar. A origem das espécies é assim mesmo. Que seja bem (re) vindo o Francisco José Viegas.

Glória aos rapazes da praia



Como alguém disse: I Get Around, para sentir Good Vibrations. Depois será melhor Catch a Wave. Fiquem com os Rapazes da Praia. Eles ainda andam por aí...

Trauliteiros de Amarante

A SIC-N iniciou a noite passada um ciclo de debates (?) com os candidatos autárquicos. Não poderia ter escolhido melhor princípio para o debate trauliteiro. Lá estava o concelho de Amarante e Avelino Ferreira Torres às traulitadas em outros dois candidatos.

Pior a emenda que o soneto

O que é inquietante na política nacional é que sempre que o governo é mau a oposição consegue ser pior, independentemente dos partidos que desempenham ambos os papeis.

Allegro ma non tropo

Por todas as razões que aqui tenho deixado claras votarei em Mário Soares, mas não acredito que seja uma candidatura (a sua ou qualquer outra) ou sequer uma presidência da república que vá reverter o "estado depressivo do país" ou a "falta de sentido cívico" que por aí vai.

Nexus

A noite passada Mário Soares anunciou que é de novo candidato à Presidência. Talvez por isso os Beach Boys deram um concerto em Portugal. No Japão foi lançada a PSP (Playstation Portátil). Talvez por isso a PSP (Polícia de Segurança Pública) disse em concerto frente a S.Bento que um polícia com sessenta anos não pode correr atrás de um criminoso.

O princípio de Peter

O problema da candidatura de Soares não é o próprio Soares. Personalidade ímpar na história nacional do século vinte. Muito menos a sua idade. O problema é o que isso tem de reflexo espelhar do estado do país e o déjá vu que a sua candidatura representa. E isto apenas quer dizer uma coisa: o país atingiu o princípio de Peter.

Um símbolo da nação

Simão é hoje um símbolo da nação. Esteve a um passo do grande salto e viu-se forçado à permanência na mediocritas.

Desistir

Regresso de férias e tenho de imediato más notícias. Na blogos como no país são os melhores que desistem primeiro. O Aviz e o Fora do Mundo acabaram.