Caro Paulo,
Eu deixaria a coisa (o futuro não improvável) um pouco menos linear, no que concerne à diferenciação social (ou sócio-profissional) da mobilidade. A capacidade de mobilidade do capital, das mercadoriais, como das pessoas, será um dos factores decisivos das novas formas de diferenciação social, a par (ou em articulação com) o acesso à informação e ao conhecimento. As elites terão maior capacidade de mobilidade, como maior capacidade de aprovisionamento dos meios para tal e bem assim como para acesso à informação e conhecimento. No entanto, a ideia de "fixação ao solo das massas populares" creio que deverá ser relativizada. Uma maior mobilidade do "trabalho" será igualmente um imperativo da economia globalizada. Mesmo do trabalho de fracas exigências em qualificações e especializações. Mas também do trabalho altamente especializado, ainda que em profissões de "trabalho manual". Porque será escassa a oferta do mesmo em alguns países e porque será imperativo das assimetrias mundiais, mas também devido à própria mobilidade dos restantes factores produtivos, nomeadamente do capital. O trabalho "irá atrás" das localizações do capital. A ideia (já actual) do universo cosmopolita das metrópoles contemporâneas não será (também) consequência dessa mobilidade crescente das "massas populares" à escala global? Acontece que poderemos não estar a falar do sector industrial, no caso das metrópoles mundiais, mas do sector dos serviços à produção (localizada esta algures no globo). Ou do sector "reprodutivo" (restauração, lazer, entretenimento, cultura). Todos eles exigentes, também em matéria de "mão-de-obra" de relativa ou baixa qualificação, proveniente das migrações internacionais e não apenas das "elites profissionais" altamente qualificadas que circulam à escala global. Tenho para mim que o grande traço de continuidade da história da humanidade é o crescimento da capacidade de mobilidade e que a modernidade contemporânea intensificou essa capacidade, com a massificação necessária do transporte aéreo e dos meios electrónicos de mobilidade. E tenho também para comigo que embora mantendo diferenciações sociais e criando novas formas de desigualdade a esse nível, a generalidade dos cidadãos de um mundo crescentemente cosmopolita serão cidadãos com crescente capacidade (e necessidade) de mobilidade. As elites, como as "massas populares", de forma diferenciada, bem entendido.
Morreu François Ascher
Há 15 anos
1 comentário:
A propósito desta globalização, dei c/ um livrinho mto interessante de
Thomas L. Friedman :"The World is Flat"
Tenho um post no cookie, se quiseres ver.
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