quinta-feira, outubro 28, 2004

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Rua da Judiaria

É um daqueles blogs indispensáveis. Menos "jornal" e mais boletim cultural. No caso, sobre a cultura judaica. Textos de grande qualidade e um template de fazer inveja aos ciber-estetas. É um prazer visitá-lo e com ele aprender sempre algo. Obrigado ao Nuno Guerreiro por nos permitir passar pela sua Rua e parabéns pelo primeiro ano de vida dessa Rua tão antiga.
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AR FRESCO



Tornar respirável este ar é como tornar-te respirável? Eis o meu dilema: conseguirei eu respirar de novo?

quarta-feira, outubro 27, 2004

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Quando o poder não está no poder

Marcelo Rebelo de Sousa ostentou hoje, nas suas declarações na audição à Alta Autoridade para a Comunicação Social, um poder singular na sociedade portuguesa. De um só golpe feriu gravemente um governo e uma das maiores empresas do império mediático nacional. Ao contrário de JPP penso que MRS sai extremamente reforçado no seu poder mediático, tendo recolhido um importante acréscimo de capital de simpatia junto de um potencial eleitorado, ou junto de uma audiência que lhe confere um poder de que pode usufruir para o exercer exclusivamente no terreno dos media, com todas as ramificações que esse terreno, hoje em dia, permite em matéria de capital social e simbólico. Os partidos da maioria tinham, pois, boas razões para não permitir a sua deslocação ao Parlamento. Como seria de esperar MRS jogou no tabuleiro que domina: a comunicação mediática, ao ensaiar e apresentar perante os media as suas razões. Concordo com JPP que a AACS ao invés de fazer o seu papel, teve uma postura de completa submissão ao jogo da sedução comunicacional que MRS impôs. Incompreensivelmente pediram-lhe opiniões além dos factos, jogando desse modo com as regras que não deveriam ser as suas mas sim aquelas que MRS melhor sabe usar a seu favor. Independentemente de todas essas questões de forma, quanto ao conteúdo da prestação de MRS, importa perguntar: vai o governo sair incólume desta situação perante os factos relatados por Marcelo? E se assim for, vai o Presidente da República uma vez mais "assobiar para o ar", em nome de uma estabilidade que é em si mesma um contrasenso quando associamos tal palavra aos nomes de Pedro Santana Lopes e Paulo Portas?
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Rocco e i suoi fratelli



KO ao primeiro round. Começa bem.
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Colocar-se a jeito

Paes do Amaral tentou pressionar Marcelo Rebelo de Sousa, porque "as televisões dependem do Estado", colocando-se a jeito para os negócios que aí vinham. O governo, pela boca do seu homem de mão, sem grande cabeça, tentou pressionar ambos (Marcelo e Paes do Amaral). Paes do Amaral e o Ministro sem cabeça nem jeito, colocaram-se ambos a jeito para a paulada final do impiedoso Prof. Marcelo Rebelo de Sousa.

Crianças aprendam. Se sois um caso de absentismo escolar do universo da política e apenas olhais para o bendito vil metal, ou se sois um caso de nítido insucesso escolar desse mesmo universo da política porque jamais passareis de meninos que levam recados, não vos deveis meter com os professores. Pelo menos não com os professores de ciência política.
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A cabala voluntária

Aposto o que quiserem que hoje entre as 15 e as 16 horas nenhum membro do governo conseguiu respirar.

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- Vai falar? Vai falar! Vai falar...vai falar...
- Falou!

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Falou? E o que disse? Disse que a cabala afinal é voluntária. Uma cabala do governo contra a liberdade de imprensa e a favor do condicionamento dos media e da subordinação dos seus negócios com o Estado aos interesses partidários e políticos de alguns governantes

terça-feira, outubro 26, 2004

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Importa lembrar que o monstro apenas dorme

domingo, outubro 24, 2004

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O que é isso de se ser liberal?

Neste post do Terras do Nunca, o JMF responde a este post do JM do Blasfémias no mesmo registo. Perante a adesão de JM do Blasfémias a mais uma "bacoquice" do actual primeiro ministro o JMF responde, com razão, com o seu habitual humor sarcástico. Mas quem nos diz que a simples visão anti-Estado é uma perspectiva política liberal?
Não basta postular uma perspectiva "anti Estado" e a favor da "iniciativa privada ou individual" para se ser um liberal. Se afirmar a supremacia do indivíduo enquanto a razão de ser, não apenas da democracia, como da própria Modernidade, é ser-se liberal, eu também sou liberal. A liberdade individual é um valor em si, que coloca na actual fase da modernidade sérios problemas e paradoxos às sociedades democráticas que com ela terão de se confrontar nas próximas décadas. Mas a Modernidade é isso mesmo: crescente liberdade dos indivíduos, (também face ao Estado). No entanto, não acredito em sociedades democráticas sem um papel central por parte do Estado. É que, precisamente, um Estado democrático, republicano, laico e socialmente responsável constitui, a meu ver, outra exigência de modernidade. Uma "sociedade de indivíduos", sem um tal papel do Estado, é apenas uma sociedade de interesses individuais e não uma sociedade onde a liberdade dos indivíduos e a sua realização e dignificação, enquanto cidadãos, está acima dos meros interesses individuais. Acresce que, ao contrário do que alguns "liberais" cá da nossa praça supõem, o Estado Moderno dos nossos dias terá de ser um Estado actuante para que os cidadãos alcancem a maior liberdade individual que o seu estatuto de cidadãos exige. Isso significará, precisamente, maior poder (e liberdade de escolha) dos indivíduos, enquanto cidadãos. O que temos vindo a presenciar, inversamente, entre nós e não só, é uma desresponsabilização social (e financeira) do Estado, o que apenas é confundível com formas mais arcaicas de desenvolvimento das sociedades e jamais com a Modernidade (ou sequer liberalismo). A nossa política doméstica está, pois, num estádio subdesenvolvido da noção do papel do Estado Moderno, bem como da noção de liberdade e cidadania inerentes a esse Estado.
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Propinas

Eis, por exemplo, uma questão em que sou liberal. Acho que o Estado não tem de financiar, em exclusivo, o ensino superior público. Devem, a meu ver, os estudantes com capacidade económica (eles, as suas famílias, ou outros a quem recorram) financiar o investimento na aquisição de um diploma. Deve o Estado financiar a obtenção de um diploma de estudos superiores por parte dos estudantes sem capacidade económica para o pagamento das propinas. Deve o Estado, antes disso, ter critérios adequados de avaliação rigorosa dos rendimentos que auferem as respectivas famílias, não podendo ser, obviamente, num país de fuga aos impostos, o rendimento declarado para efeitos fiscais, o elemento decisivo para a isenção da propina.

sábado, outubro 23, 2004

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No país do M&M



Ao invés de uma reforma profunda do sistema fiscal e das respectivas decisões que acabariam com a evasão fiscal, o Ministro das Finanças propõe classificar os contribuintes por cores. E depois? vamos ver na rua os vermelhos, os amerelos e os verdes? Não seria preferível, tão singelamente, cobrar as dívidas e encontrar mecanismos que obviassem à actual situação, de fuga ao pagamento de impostos por parte daqueles que maiores rendimentos auferem, nomeadamente, uma parte substancial das empresas e dos profissionais liberais?

quinta-feira, outubro 21, 2004

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Renovação

Mudam-se os tempos, mudam-se as ligações. Como sempre se disse aqui, a lista de elos, ao lado, nunca foi imutável. A alguns se disse adeus e a outros, assumidamente, se destinou um lugar mais consentâneo com a realidade. São assim as ligações.
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Aqui mesmo ao lado, outro mundo



Cada dia que passa é um dia a menos para que possa definitivamente concluir: "Também eu queria hoje ser Espanhol"
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Uma boa ideia

teve-a Pacheco Pereira ao re-editar, para memória futura, os seus posts sob o lema "Pobre País", agora com bibliografia e tudo. Gostariamos de ver uma edição revista e actualizada. A bibliografia já a dispensamos, porque infelizmente temos tido acesso diário à respectiva biblioteca.

Adenda: Também este post se poderia incluir com propriedade no lema "Pobre País: o nosso"

terça-feira, outubro 19, 2004

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Alguém me explica por favor...

Por que motivo o governo quer impedir os jovens menores de dezoito anos de comprarem cigarros e ao mesmo tempo quer permitir que possam comprar armas de fogo? Estará o governo preocupado com a tendência de voto dos jovens eleitores que já poderão votar nas próximas legislativas? De facto o cancro do pulmão não mata tão rápido como uma arma de fogo. Serão necessários muitos anos para matar um jovem eleitor com cigarros. Com uma arma de fogo é rápido e eficaz. Não está mal pensado.

E qual o interesse, para nós cidadãos, em saber quem é a namorada do presidente do FCP que, ao que parece, ostenta ordinarices em público, e a esposa que tem uma filha chamada Joana?

E quem é que bebe o champagne de que se falava ali numa dita conferência de imprensa? Referiam-se às declarações do presidente do Governo Regional da Madeira, à noite, após conhecidos os resultados das eleições?

E as ameaças de um senhor muito penteado que dizem ser "empresário" do futebol, agora convertido a indefectível benfiquista dirigente desportivo, são equivalentes às ameaças que o Presidente de um Governo Regional fez aos jornalistas, também numa chamada conferência de imprensa?

E que imprensa é esta que aceita, divulga, debate, espreme, tematiza e amplifica até à exaustão tais "conferências"?

Bem, devo confessar. Não tinha melhor programa. Estafado com o trabalho de uma semana continuado no fim de semana desatei a fazer zapping entre eleições regionais, conferências de imprensa de dirigentes desportivos e quintas das celebridades. Ás tantas baralhei tudo. O que devia ser racional, e nem por isso me parecia, com a animalidade de uma coisa a que chamam quinta das celebridades.

E já agora, eu sempre que posso faço uma sestazita e nunca anunciei isso no Expresso. Aliás, nem sequer num blog escrevi tal coisa. Alguém precisa de saber que o autor de um blog faz uma sesta para enfrentar uma noite de árduo trabalho?


PS: Senhor Presidente Jorge Sampaio. Não sei se Vª Exª ainda aí está no seu Palácio de Belém. Se, de facto, ainda aí está, não faça nada, não diga nada. Não é preciso...

domingo, outubro 17, 2004

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AR FRESCO


(Paul Cézanne, 1839-1906)

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Já caíram as primeiras folhas do Outono. E esta aragem fresca será o prenúncio do recolhimento dos corpos ao aconchego do silêncio?

sexta-feira, outubro 15, 2004

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6-3

Discordo que em futebol o resultado mais bonito seja o 7-1. Considero o 6-3 um resultado mais belo no futebol. Significa mais golos, mais vontade de disputar o resultado pelo perdedor e mais alegria do vencedor que frustra as ganas do perdedor em dar a volta ao resultado. Mais luta, mais competição, mais futebol. Vitória de maior adrenalina. Mais espectáculo. Mais derrota para o adversário. 7-1 é um momento de infelicidade. Deselegante e desumano. Não honra como o 6-3 a equipa vencedora.
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Tudo isto é triste. Mas tudo isto será fado?

De seguida um excerto de mais uma brilhante análise de Augusto Santos Silva. A melhor síntese do momento que o país vive e a necessária pergunta: Vamos permanecer aqui? Neste patamar tão rasteiro da civilização? Isto não é já uma questão partidária ou sequer política. Isto é uma questão mais básica do que a cidadania. É uma questão de nível moral e de civilidade, no sentido dos padrões mínimos exigíveis à civilização na qual julgo que nos inserimos. Mas a análise de Santos Silva deve interpelar-nos a todos, e aos que detêm responsabilidades políticas em primeiro lugar, sobre o que fizemos deste país, permitimos que outros fizessem ou deixámos de fazer o que deveria ter sido feito.

"Tudo isto é comunicação", dizem-nos. Pois é: mas no modo da manipulação alienante. E é aqui que convergem os vários planos do sistema de dominação simbólica que se está implantando nas sociedades com pouca tradição democrático-liberal e fraca cultura civil, como a nossa. As audiências acorriam à TVI, ao domingo, para se regalarem com vários circos. Das celebridades, queriam e querem saber quando é que o actor porno ataca o magrinho efeminado, quando é que se despirá a apresentadora que está lá porque se despe, ou até quando resiste o autarca que pontapeia cadeiras à tentação de esbofetear alguém. Do prof. Marcelo, pretendiam bicadas distribuídas em todas as direcções, incluindo, como mais picantes, as que fustigassem os seus próprios parentes políticos. Do jornal televisivo, queriam o drama em directo, a emoção rápida, a crucificação expedita de qualquer "poderoso". As Cinhas do momento faziam a ligação de tudo isto: estrelas da vida mundana, amigas dos líderes políticos, engomadeiras e feitoras de quinta, a troco de dinheiro, muito dinheiro. Eram e são os símbolos de um novo regime de propriedade, influência social, degradação moral, comunicação pública e poder político, que é o único que Paulo Portas e Santana Lopes conhecem e o único em que se sentem bem - como peixes na água, ou devo dizer como animais na quinta?

Não sejamos, pois, agora hipócritas. O silenciamento de Marcelo foi apenas mais um passo. Outros houve antes, na mesma direcção: Morais Sarmento na RTP e na central de comunicação, Luís Delgado na Lusa e na Lusomundo Media, Fernando Lima no "Diário de Notícias", exclusivos espontâneos no "Expresso", declarações políticas em cemitérios, e por aí adiante. Para o Governo da nossa direita e para os campeões da nossa televisão, comunicação não é apenas fingimento, simulacro ou ilusão; é também, e sobretudo, propaganda, manipulação, condicionamento. Esse é o único ar que sabem respirar. E, como esse ar é irrespirável por gente civilizada, o que a gente civilizada tem de dizer é se está disposta a romper com isto, ou se preferirá fazer o papel do idiota útil, aquele que só clamará contra Berlusconi quando Berlusconi já estiver confortavelmente instalado dentro de sua casa.

quarta-feira, outubro 06, 2004

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Meio ano é demasiado tempo

No passado dia quatro do corrente mês dever-se-ía ter assinalado neste blog a passagem do seu meio ano de vida. O estado larvar em que o mesmo se encontra justifica bem o facto de não se ter feito qualquer referência ao evento. Assinala-se agora, embora tardiamente, a efeméride. Ide em paz e que o Blogger vos acompanhe. Amén.
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Triângulos

Até onde vai a minha memória e conhecimento da vida interna do PS, Ferro Rodrigues era um indefectível sampaísta. Mas afinal, ao que parece, Jorge Sampaio é um convicto socrático.

Não renovável

Avizinha-se uma próxima camada de renovadores no PCP. Considerando apenas as camadas pós 25 de Abril de 1974, temos várias camadas de renovadores: Vital Moreira, José Magalhães, Barros Moura, José Luis Judas, Raimundo Narciso, Edgar Correia, João Amaral, Domingos Lopes. Estes são apenas alguns dos principais nomes que protagonizaram camadas diferentes e sequenciais de tentativas de renovação. Agora teremos certamente Carlos Carvalhas e outros. Todos acabaram ou acabarão por não ter alternativa senão abandonar ou serem expulsos do partido. O PCP vai acabar com quatro dirigentes. O número necessário e bastante para um jogo de sueca: Domingos Abrantes, José Casanova, Vitor Dias e Jerónimo de Sousa. No fim, um deles ficará sozinho, para apagar as luzes.

O império da esquerda nos media

Concordo ! Está definitivamente provado que quem manda nos media é a esquerda! JPP sempre chamou a atenção para esse facto.