terça-feira, maio 31, 2005

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DEFICIT OU SUPERAVIT DO PARADOXO?

Uma colega alertava-me hoje para um paradoxo em que nos encontramos, nós os fumadores. Com uma das medidas apontadas para combater o défice, o aumento da taxa de imposto sobre o tabaco, ficamos num dilema. Quanto mais fumarmos mais contribuimos patrioticamente para combater o défice. Mas quanto mais fumarmos mais damos cabo da nossa saúde e da saúde, já muito débil, do sistema de saúde nacional. Agora decidam-se, querem reduzir as despesas de saúde ou reduzir o défice? Esperemos que tenham feito bem as contas para saberem se na diferença entre o aumento do preço do tabaco e o aumento previsível com despesas de saúde resultante do nosso esforço patriótico de fumadores compulsivos, resultará um deficit ou um superavit das contas públicas.

segunda-feira, maio 30, 2005

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O SIGNIFICADO GLOBAL DO NÃO

«As reacções anticapitalistas de franceses e alemães são defensivas. São ditadas pelo medo e pela incapacidade de adaptação às novas realidades da globalização e até de uma integração europeia alargada a novos Estados membros. O populismo antimercado da França e da Alemanha não aponta para reformas com futuro, mas para regressar artificialmente a um passado que não voltará. É uma atitude reaccionária, que nada tem a ver com o combate aos reais defeitos do capitalismo liberal nem com o desejo de outros modelos possíveis (como o escandinavo, que funciona). Algo semelhante, e dramático, aconteceu nos anos 30, com a escalada proteccionista. A integração europeia surgiu, também, para que tal jamais se repetisse.»

Francisco Sarsfield Cabral
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NÃO !

A vitória do Não à Constituição Europeia em França, é um voto "contra o capitalismo neo-liberal, contra a globalização selvagem, contra o desemprego da deslocalização empresarial sem regras". É. E é também um voto a favor de tudo o que Le Pen pensa dever ser a Europa e a França.
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INTERLÚDIO NOS TEMAS TABU DA QUESTÃO ANGOLANA

O João Tunes tem vindo a acompanhar esta nossa incursão nos acontecimentos que conduziram ao 27 de Maio e seus efeitos em Angola, com posts réplica de grande qualidade de análise. Ao fazê-lo, o João Tunes antecipa-se, em algumas passagens, aos argumentos que vou apresentando. Não respondi até ao presente para não confundir os meus próprios argumentos. Para quem se interesse por este tema, deverá acompanhar também os textos do Água Lisa, com os quais estou genericamente de acordo. Como nunca há espaço num post para apresentar todos os argumentos e todos os aspectos de uma perspectiva, ainda bem que o João Tunes vai complementando os meus posts, com outras achegas para este tema. Para mim o interesse do tema reside no facto de eu ter uma visão que assenta, sobretudo, no que foi dado a conhecer dos acontecimentos, ao mesmo tempo que tenho a clara consciência que uma parte não negligenciável, e fundamental, do processo, não será facilmente cognoscível. Como bem refere um leitor nas caixas de comentários, importaria consultar os arquivos da KGB e da secreta cubana para poder aceder a toda a verdade. Lateralmente, e a talhe de foice, aproveito para dizer aqui ao João que tenho as mais sérias dúvidas que o progressivo afastamento de muitos angolanos brancos e mestiços, ou de alinhados com a orientação de Agostinho Neto, independentemente de "raças", após a sua morte, possa ser interpretado como um "auto-afastamento". Mas essa é mais uma dúvida, entre outras que aqui quero trazer e às quais o João Tunes se vai antecipando. Ainda bem que assim é. Desse modo temos uma "postagem" interactiva, e a quatro mãos, deste tema.
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OS TEMAS PROIBIDOS NA HISTÓRIA RECENTE DE ANGOLA

Um tema tabu na história dos movimentos de libertação de Angola é a questão racial. Trata-se de uma questão desconfortável para a generalidade dos angolanos, porque acaba por mexer com preconceitos, com discriminações e desigualdades sociais aí baseadas. Por outro lado, trata-se de uma questão complexa do ponto de vista analítico ou científico. Não há como a tratar senão a partir dos factos históricos. A verdade é que na origem da constituição das diversas forças políticas que se opuseram ao colonialismo português e lutaram pela independência de Angola, surgem claras diferenças, no que concerne à questão racial. Tanto a UNITA como a FNLA, são fundados, na sua quase totalidade, por angolanos negros. Angolanos que na sua formação não têm praticamente nenhuma relação com outras culturas que não as daquela zona de África. Angolanos, na sua esmagadora maioria, sem formação universitária. Inversamente, o MPLA é fundado fundamentalmente por um grupo de angolanos que se encontraram em Portugal a estudar nas diversas universidades portuguesas e tem uma matriz fundadora multiracial. Esta diferença haveria de marcar de modo nem sempre assumido, nomeadamente em termos formais, os conflitos entre os movimentos de libertação e mesmo no interior do próprio MPLA. Acresce a este factor a existência de uma quarta força política, constituída fundamentalmente por angolanos brancos e mestiços, a FUA (Frente de Unidade Angolana) que jamais haveria de optar, ao contrário das restantes, pela luta armada e a qual acabaria por ter uma relação paradoxalmente distante e próxima do MPLA. Distante porque a FUA não partilhava da ideologia marxista, e muito menos da ideia de "internacionalismo" da URSS e, sobretudo, do modelo cubano, que serviam de guia ao MPLA. Próxima porque da FUA haveriam de partir, rumo ao MPLA, vários militantes, conservando-se entre as duas forças uma relação de cumplicidade de "companheiros de estrada", que em vários casos partilharam as mesmas celas das prisões da PIDE. O poder constituído em Angola após a independência, em 1975, bem como os conflitos políticos entre movimentos e intra MPLA, desde 1974, haveriam de estar marcados por esta questão tabu. O primeiro presidente da República Popular de Angola será Agostinho Neto (médico e poeta negro formado nas universidades portuguesas e casado com uma portuguesa). Mas, além de Neto seriam vários os angolanos, não negros, que haveriam de ocupar lugares chave no poder em Angola, em 1975. A começar pelo número dois do MPLA, desde a fundação do movimento, Lúcio Lara. Homem que nunca viria a pertencer a nenhum governo, ou exercer cargo de grande visibilidade pública, embora fosse portador de grande poder ao nível da magistratura de influência que exercia, nomeadamente através da cumplicidade com Neto, proveniente de uma amizade sedimentada nas lutas a partir da universidade em Portugal. Depois, temos o Ministro da Defesa, Henrique Carreira, o Ministro da Justiça, Diógenes Boavida, o Ministro da Educação, António Jacinto do Amaral Martins, o Ministro das Relações Exteriores, Paulo Teixeira Jorge. Jonas Savimbi costumava referir-se ao MPLA - nunca nos seus discursos e entrevistas no estrangeiro, ou para os órgãos de informação internacionais - mas nos seus comícios, como um “movimento de mestiços”, em tom que evidenciava claramente um ódio de natureza racial. Mas esse ódio racial vinha também a lume, subtil ou frontalmente, por parte de alguns desses “mestiços” que militavam nos vários níveis da hierarquia no poder em 1975 e 1976. Tanto em relação a Savimbi e seus correligionários, como em relação aos seus próprios ascendentes “de raça branca”. O interior do MPLA era, também, atravessado pela questão racial. Nem todos os angolanos negros que militavam naquele movimento partilhavam do percurso político, e de vida, de Agostinho Neto e outros fundadores do movimento. A escolha de Fernando Falcão (angolano branco e um dos fundadores da FUA) por Agostinho Neto, para Procurador-Geral da República em 1976, viria a tornar-se no acto que fez transbordar o copo, já cheio, para a “paciência” daqueles que defendiam uma visão mais restritiva do exercício do poder em Angola, após a independência. Dir-nos-ão esses que a questão não era racial mas política. Da memória que temos das intervenções, discussões e opiniões que à “boca pequena” se tinham nesses tempos, e que testemunhámos presencialmente, não temos grandes dúvidas que a questão era, para alguns, também uma questão racial. Falo, em particular, de um grupo dentro do MPLA, constituído fundamentalmente por jovens, que desde cedo começaram a citar e referenciar elogiosamente, as intervenções do então Ministro do Interior (Administração Interna), Nito Alves, também ele mais jovem do que a maioria dos seus colegas de governo e com um percurso de vida que não havia passado por Portugal, mas sim directamente do Liceu Salvador Correia em Luanda, para a 1ª Região Político-Militar do MPLA, para a mata, em 1966, com 21 anos.

(Continua)

domingo, maio 29, 2005

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ÚLTIMA HORA, JÁ É OFICIAL...

Ricardo, guarda-redes do Sporting, no Inter.
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ESPERANÇA, GOVERNAÇÃO E TAXA DE COLOCAÇÃO

Eu quero manter-me esperançado que o país tem solução. Mas a taxa de colocação de reformados do partido do governo na administração de EP's como a Galp e a Águas de Portugal, não me tranquiliza nada o meu ser esperançoso. A colocação de Gomes e Cardoso na administração daquelas empresas desfaz metade da credibilidade que Sócrates granjeou até agora à frente do governo. Assim não vamos lá...
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VITÓRIA AO VITÓRIA

A verdade é que a vitória do Vitória é justa. Portanto, parabéns ao Setúbal. No entanto, não é menos verdade que os derrotados de hoje fizeram por merecer a derrota.

sábado, maio 28, 2005

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UMA LUFADA DE AR FRESCO



A chegada das mulheres a universos profissionais antes reservados aos homens tem sido um dos melhores sinais de mudança social positiva que tem ocorrido no país. Um desses universos é o das fardas. Particularmente, a ascenção de mulheres a comissárias na PSP, tem-nos permitido assistir a uma outra forma de assumir o papel das forças de segurança, evidenciando uma noção de cidadania e até um domínio da língua portuguesa que dignificam a PSP e dão uma imagem de um país mais desenvolvido do que era hábito, em tempos mais recuados. Estão de parabéns a PSP e, sobretudo, as mulheres, ao mostrarem a sua capacidade, não apenas para assumir funções que outrora se consideraram exclusivas do sexo masculino, como por revelarem, genericamente, melhor desempenho nessas funções do que antes era notório por parte dos seus colegas homens.

Adenda: Bem sei que a questão não está no género, mas sim na escolarização e respectivas exigências actuais nos quadros da polícia. Sei que hoje existe uma Escola Superior de Polícia. Sei também, por exemplo, que um comissário que tenho ouvido, com gosto, na televisão, é licenciado em sociologia e foi, lembro-me bem, um dos muitos bons alunos que já tive.
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A COMPETITIVIDADE E O NACIONAL ATAVISMO

A ideia de competitividade, tanto em voga, também entre nós, carece de explicação e contextualização. Acabei de ouvir na televisão que "alguns alunos do superior se suicidam devido à competitividade dos respectivos cursos" (!). Prova irrefutável que andamos a confundir competitividade com competição individualista. Num país que se caracteriza pela acção individualizada, isolada, pela socialização no 'familismo', na ausência do trabalho em parceria, na incompetência para funcionar em equipa, pela falta de educação cívica para a cooperação e solidariedade; é urgente que alguém venha dizer que a competitividade de que se fala é tudo aquilo que é contrário aos factores basilares da nossa 'cultura colectiva', das nossas organizações ainda hoje pré-capitalistas. Para que pessoas, empresas, regiões, países, economias, tenham capacidade competitiva, é fundamental, justamente, alterar factores culturais enraizados que desmotivam a competitividade. É necessário aprender a cooperar para se ser competitivo. É necessário, também, não esquecer a ideia de que a competição é um jogo onde alguém ganha, mas muitos perdem. POr isso mesmo, competitividade exige coesão social e territorial. A competitividade é uma ideologia, mas ainda assim, divergente da ideologia do individualismo simplista e simplório que têm motivado o nosso atraso económico e cultural.
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DESASTRES NACIONAIS

O vice-presidente do CDS vem dizer que as medidas governamentais, no que concerne às taxas de IVA e dos combustíveis, vão ser muito prejudiciais para a economia nacional, sobretudo na zona da Raia, porque levarão os portugueses a consumir do lado espanhol. Tem toda a razão o dirigente democrata-cristão. Tendo em conta a densidade populacional que se verifica naquela parcela do território nacional, estamos em crer que será mesmo um desastre para a economia nacional, considerando o número de portugueses que passarão a fazer as suas compras quinzenais nos hiper de nuestros hermanos e a atestar o depósito em território espanhol.
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SOU DE UMA GERAÇÃO KITSH

A malta da minha geração, que agora terá entre 41 e 47 anos de idade, ocupa hoje o espaço do DN Tema. Gostei de ler, apenas porque tudo aquilo me é familiar. Mas, descubro agora que nos anos de 80' eu devia ser um jovem muito velho. As minhas referências eram, e haviam de continuar a ser, as da geração anterior. Resta-me a consolação de conseguir gostar, e muito, da música do Rui Reininho. Apesar do vanguardismo, há qualquer coisa de kitsh que muito me agrada no Rui e nos GNR.

sexta-feira, maio 27, 2005

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27 DE MAIO DE 1977

é um dia macabro da história recente de Angola. Os acontecimentos despoletados a partir desse dia, haveriam de marcar indelevelmente o rumo desastroso que aquele país tomou. São acontecimentos envoltos numa nebelina de silêncios, dúvidas, meias-verdades, mas sobretudo em muito sangue e morte. De então para cá, o povo angolano não mais haveria de ser o mesmo. Vou procurar trazer, em breve, alguns elementos que evidenciam a necessidade de uma investigação histórica séria e isenta, que devolva a verdade histórica do que então se passou. Se tal alguma vez vier a ser possível, muito ficaria explicado sobre os motivos pelos quais um país com singulares condições para ser um país próspero, naquele contexto geo-político, se transformou naquilo que hoje é do conhecimento geral: um território devastado pela guerra, pelo caos, pela mais extrema das misérias, a par da opulência insultuosa da riqueza de um punhado de déspotas e oportunistas.
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FORA DE BRINCADEIRAS. ESTAMOS A BRINCAR, NÃO ESTAMOS?

Eu não queria acreditar no que ouvia. Das ideias do candidato do BE à CML, ficámos a saber que o advogado Sá Fernandes acha que "Lisboa é Gente". E mais não disse. Quando questionado sobre diversos temas e problemas da cidade, respondeu invariavelmente: "Lisboa é Gente". Quando lhe perguntaram quais as prioridades, respondeu: "Todas. Tudo é prioritário em Lisboa". Pedi que me beliscassem, poderia ser um daqueles sonhos de humor anacrónico que só existe mesmo nos sonhos ou, então, nas representações do Gato Fedorento.
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ESPERANÇA, GOVERNAÇÃO E TAXA DE EMIGRAÇÃO

Eu quero manter-me esperançado que o país tem solução. Mas a taxa de emigração entre os que passaram pelo governo e puderam experimentar a tentativa de solucionar o país, não me tranquiliza nada o meu ser esperançoso.

quinta-feira, maio 26, 2005

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TRAVLIN LIGHT

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K.O AO PRIMEIRO ROUND

Pela estratégia adoptada, pelo discurso de apresentação das medidas, pelo debate e pela natureza das medidas, Sócrates e o seu governo bateram a oposição por K.O ao primeiro round. Uma avaliação objectiva, isenta, terá de admitir que o governo deixou as oposições sem argumentos. Restam três questões. (1) A persistência das scuts sem portagem, injustificável do meu ponto de vista. Não se justifica que não tenha sido adoptada uma medida de captação de receitas destinadas ao desenvolvimento das regiões mais periféricas do país, à semelhança do que se afirmou vir a suceder com as receitas do IVA, que se destinarão à segurança social. (2) O efeito perverso para o crescimento económico do aumento de parte do IVA, de 19% para 21%. Não sendo economista e tendo de admitir que o governo tem bons economistas e terá consultado muitos outros, parece-me evidente haver aqui a possibilidade, aliás assumida pelo governo, de arrefecimento da economia. Talvez congelamento, pois a economia já está bastante arrefecida. O aumento do IVA vai reduzir ainda mais o consumo das famílias, o que não só acentuará desigualdades, como levará um tecido empresarial, já de si muito débil, a situações muito complexas, para não dizer insustentáveis. Mas vamos admitir a natureza conjuntural da medida e a sua avaliação ex-ante por parte dos especialistas consultados. (3) Finalmente, algo que é relativamente exógeno ao equilíbrio das contas públicas, mas que é determinante para o crescimento económico e desenvolvimento do país: a modernização do tecido empresarial. É também por aqui, e sobretudo por aqui, que passa a questão decisiva, do ponto de vista estrutural. E esta não depende exclusivamente, ou não depende em grande medida, das políticas governamentais, pese embora a ideia do plano tecnológico, o qual não possui ainda substracto suficiente para se poder afirmar a sua eficácia real.

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Em todo o caso, o conjunto de medidas, tanto na área da captação de receitas, como na da redução das despesas, merece genericamente aplauso. Merece igualmente aplauso a credibilidade do discurso e da postura, tanto do governo, como do primeiro-ministro, em particular. Estava na hora daqueles que disseram à boca cheia ser Sócrates um clone de Santana, ou que os dois eram gémeos siameses, separados à nascença, e outras boutades do género, virem reconhecer, dar a mão à palmatória, que estavam redondamente enganados. Poderemos não estar nada de acordo com Sócrates. Poderemos discordar pontualmente. O que não podemos, sem má-fé, é deixar de reconhecer a sua honestidade intelectual e política e a credibilidade que vem imprimindo à governação. Foi isso que hoje deixou a oposição, e em particular, o PSD e o CDS, sem argumentos. Vencidos por K.O, ao primeiro round.
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TPC'S E OPORTUNISMO POPULISTA

Francisco Louçã, ratazana política, tentou apanhar Sócrates embrulhado nos números a não conseguir responder, tentando reeditar a célebre gaffe da percentagem do PIB, de Guterres, apenas com o intuito de daí retirar oportunisticamente dividendos de popularidade mediática. Sócrates esmagou-o com uma tabela que oportunamente lhe foi passada pelo seu ministro das finanças, deixando claro que os tpc's estão feitos, batendo também a habilidade técnicamenente informada do economista Prof. Doutor Louçã.

quarta-feira, maio 25, 2005

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EXORTAÇÃO AO HOMEM DA CULTURA CANDIDATO À CML

O velhinho Marx continua a ter razão em vários níveis da sua análise. Podemos ter boa superestrutura (excelente cultura), mas se não cuidarmos da infraestrutura (condições físicas do edificado, condições sociais de quem lá habita), lá se vai a excelência da cultura.
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UMA VIRGEM DO APARELHISMO PARTIDÁRIO

Marques Mendes vem agora, com todo o desplante, dizer que é contrário ao aumento de impostos (como se o governo de Durão ao qual pertenceu não os tivesse aumentado) e que o que é necessário é "emagrecer" o Estado. Como se não fosse ele um dos homens sombra do aparelho cavaquista, responsável por uma época em que mais se engordou o Estado, com os seus apaniguados partidários. Será possível que esta gente pense que não há memória, ou julgam que a poeira do tempo tudo apaga?

terça-feira, maio 24, 2005

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O DÉFICE DEMOCRÁTICO NA ESFERA DO CONSUMO

Na noite de sábado passado, vinte e um de Maio, não transitaram comboios entre Pombal e Entroncamento, devido a obras na via férrea. Em todo o caso a CP cobrava exactamente o mesmo valor que na noite anterior, por um serviço que agora implicava saída do comboio, transbordo para um autocarro, percurso pela A1 para apanhar novo comboio até ao destino desejado e pago como se nenhum incómodo, nem acréscimo de tempo, tivesse ocorrido, por razões alheias aos consumidores daquele serviço. Já há uns anos, uma tal situação ocorreu durante meses, creio, para os passageiros do alfa pendular, entre o Porto e Braga. O mesmo se poderia dizer do pagamento de portagens nas AE, com obras, como tem sido o caso da A1. Com, ou sem obras, a portagem é exactamente a mesma. O mesmo se poderia ainda dizer das quebras de serviço internet, agora menos frequentes, mas que há uns anos faziam da navegação na internet uma viagem em mar de tempestade. Para não falar da quebra do serviço telefónico sem que o preço da sua assinatura variasse um centavo. É certo que todos estes serviços têm vindo a melhorar significativamente a sua qualidade, mas estamos ainda longe de conferir ao consumidor direitos que são direitos próprios, enquanto consumidor. E, nessa medida, são igualmente direitos de cidadania. Entre nós, longe se ser, também nesta dimensão, uma cidadania plena.
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LEMOS, OUVIMOS E REGISTAMOS

A RTP fez um belo documentário sobre a festa da noite de ontem. Um trabalho que deveria ganhar um prémio, desses que costumam merecidamente atribuir a alguns trabalhos jornalísticos. A TVI, por seu turno, foi ouvir a opinião das mulheres da rua sobre as cuecas dos jogadores e deu-nos uma longa análise da matéria no Jornal da Noite. Merecia um prémio, desses que deveriam começar a dar para distinguir o mau jornalismo.
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A PERSPECTIVA DEPENDE MUITO DO LUGAR DO SUJEITO

Ao meu lado no comboio alfa pendular lêem-me do jornal que Francisco José Viegas terá dito: "Portugal está uma merda". Não é que se eu estivesse a viver numa casa com vista para o mar no Brasil profundo, provavelmente diria o mesmo? Mas não estou. Também não estou a viver no "monstro da lagoa". Aquele morro do Rio de Janeiro. Tanto também não. Estou apenas a viver na merda em que FJV diz que está Portugal. Custa-me admitir que vivo no meio da merda. A sério que me custa. Sobretudo porque o odor não será o da maresia.

segunda-feira, maio 23, 2005

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JÁ MURCHARAM TUA FESTA PÁ

Num domingo o povo saiu à rua com a alegria que costumava ter. No dia seguinte é conhecida a situação económica do país e o primeiro-ministro virá pedir aos portugueses sacrifícios. Mais sacrifícios. Como se o povo não estivesse a ser sacrificado há tanto tempo com os resultados que agora são apresentados. A solução? Aumento de impostos, congelamento de salários, despedimentos. Estas são as soluções apresentadas pelos nossos economistas do costume. Como se o aumento de impostos, o congelamento de salários e os despedimentos, fossem novidade. Como se a aplicação destas receitas, que foi levada a cabo nos últimos três anos, não tivesse já evidenciado o seu fracasso para a contenção do défice e o crescimento da economia. Resta-nos aguardar pelas soluções a apresentar pelo primeiro-ministro. Se essas não forem outras, que não as que os nossos economistas do costume apresentam, bem podemos emigrar. Haja esperança que as soluções a apresentar pelo governo não sejam aquelas que já mostraram à saciedade serem falsas soluções.
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A TAÇA DE PORTUGAL

é já a seguir. Mas é que é já !... a seguir...

domingo, maio 22, 2005

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quinta-feira, maio 19, 2005

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DÚVIDA TECNO-PSICO-ANALÍTICA

È possível quatro pessoas que em princípio não se conhecem, logo não usam o mesmo computador, terem sempre exactamente o mesmo número de IP, ou trata-se mesmo de um caso de esquizofrenia?
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VOLTOU A ACONTECER

O calculismo frio e a inteligência táctica e estratégica venceram a emoção não controlada, a beleza do improviso e a estética da acção não organizada. Não é do jogo que falo, mas do país.

Adenda: À boa maneira das organizações pós-modernas, não faltam alguns imprescindíveis elementos pré-modernos. O tempero do sucesso. No vertente caso, os dois jogadores brasileiros.

quarta-feira, maio 18, 2005

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HÁ QUEM VIVA COM FANTASMAS

Torci pela vitória do Sporting até onde foi possível e realista acreditar na hipótese da vitória do clube nacional. Mas, desportivamente, tive de reconhecer a vitória do clube russo, pelo tipo de jogo que praticam e pelo factor sorte, sempre importante em qualquer jogo. O Sporting não ganhou e tive pena. Mas tenho ainda mais pena de muitos adeptos sportinguistas que antes do jogo gritavam que íam ganhar e que o Boavista também. Tenho ainda mais pena daquele adepto que no final do jogo despejou, para a reportagem televisiva, a sua frustração no Benfica. Do mesmo modo que nunca percebi por que razão nos jogos internacionais do Sporting se gritam insultos contra o Benfica. Nunca percebi a importância que afinal temos para o nosso adversário. Mesmo ausente o Benfica povoa a consciência destes sportinguistas. Estranho, não?
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EIS UMA VERSÃO DE UM ESTADO BEM LIBERAL

A ser verdade que foram encontradas minutas do despacho que havia de ser produzido fora de tempo e da lei, numa empresa privada interessada no negócio em causa, fica provado que, tal como aqui afirmámos, ao contrário do que dizem Pacheco Pereira, Lobo Xavier e os nossos liberais de trazer por casa, o problema não é o excesso de Estado na economia, mas sim o excesso de economia (interesses privados) no Estado.
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EM DEFESA DA CANDIDATURA DE MANUEL ALEGRE A BELÉM

Exactamente pela mesma ordem de argumentos porque defendi aqui ser a candidatura de Cavaco à Presidência da República, um equivoco, defendo agora que Manuel Alegre seria um excelente candidato da esquerda e, certamente, um bom Presidente da República. Ouvi Pedro Mexia no programa Eixo do Mal, sustentar a mesma ideia que aqui defendi face a Cavaco mas argumentar, igualmente, se não estou em erro, que Manuel Alegre não teria perfil para o cargo, pois além de um bom tribuno não se lhe reconhecem outras competências políticas. Discordo. Não tenho dúvidas que Alegre tem as competências que um PR precisa e que estão ausentes do putativo candidato Cavaco Silva. Não é o domínio da ciência económica e dos dossiers financeiros que são exigíveis a quem ocupará o Palácio de Belém, mas sim uma visão política global. Uma cultura política e uma visão cultural, lactu sensu, do país e do mundo e mesmo competências relacionais, onde Alegre evidencia claras vantagens na comparação com Cavaco Silva. Eis porque sustento que Manuel Alegre seria um excelente candidato da esquerda a Belém - contra qualquer candidato da direita - e não compreendo os motivos pelos quais o partido socialista não avançou já, inequivocamente, com a sua candidatura.
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A GRANDE FIGURA DO REGIME DEMOCRÁTICO

Nem sempre estou de acordo com as perspectivas apresentadas por Mário Soares. Seriam exemplo disso mesmo a sua ideia da globalização, ou até a unicidade da esquerda (*) que ultimamente vem defendendo (ele que combateu, e bem, essa ideia quando ela vinha de outras fontes que com isso pretendiam engolir o partido socialista). Mas, uma coisa é certa, aos oitenta anos de idade ele revela no programa Sociedade Aberta, mais até do que em muitos textos escritos na imprensa, uma capacidade para ler politicamente a realidade, uma lucidez de análise, uma visão táctica e estratégica e uma ética política que fazem dele, em minha opinião, não uma das figuras da democracia, mas sim a grande figura, ainda hoje, do regime democrático. Pena é que não se vislumbrem figuras de igual estatura na segunda geração de políticos do regime democrático.

(*) Coisa diferente é a defesa da conjugação de forças para obviar vitórias importantes por parte da direita, como é o caso da Câmara de Lisboa ou as presidenciais.
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CRISE? QUAL CRISE?

Enquanto o país agoniza perante tamanha crise económica, para a qual tardam medidas concretas, as televisões vão iludindo a crueza da verdade dos números do défice e do desemprego, enchendo chouriços ininterruptamente, desde manhã cedo, com a final da taça UEFA. Vai ser difícil enfrentar a nudez crua da verdade, em lugar deste manto diáfano da fantasia em que gostamos de viver.
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SETE POR QUANTOS?

Ninguém me conseguirá convencer que um défice de sete por cento, eventualmente mais até, tenha caído de repente do céu. Quem deverá ser responsabilizado pela obrigação de não mentir ou não omitir a verdade? Será apenas Bagão Félix? Ou, pelo contrário, também Manuela Ferreira Leite, Durão Barroso? E o governador do Banco Central, será possível que só agora tenha conhecimento de que as contas nacionais caminhavam neste sentido? E o Presidente da República, acreditou mesmo que os valores que então avançavam Ferreira Leite e depois Bagão, correspondiam à verdade? Julgo que num sistema democrático transparente seria chegada a hora de todos eles virem prestar contas perante os cidadãos e contribuintes. Só depois disso teria o poder político, eventualmente, legitimidade para pedir sacrifícios aos portugueses.
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SIGAMOS O BICHO CARPINTEIRO

Um grande apelo ao voto no BE foi, em tempos, a hipótese de ver e ouvir Joana Amaral Dias na AR. Consegui resistir. Agora, não preciso de oscilar perante apelo ao voto em lado nenhum, vou seguir atentamente o Bicho Carpinteiro. O blogue também tem outros autores, mas isso agora não interessa nada.

terça-feira, maio 17, 2005

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DOIS ANOS E ASSIM

Há blogs para todos os gostos e ainda bem que assim é. A diversidade é democrática e eu gosto. Mas tenho os meus blogs de eleição. Aqueles que mais me dizem, ou com os quais aprendo a pensar. Um dos meus blogs de eleição é o anónimo Almocreve das Petas. Eclético nos conteúdos. Mordaz na crítica, de fino recorte literário, numa boa tradição portuguesa, não só queirosiana mas até, mais remotamente, vicentina. Cultiva uma, por nós muito apreciada, veia historiográfica das coisas boas: da literatura, da pintura, do cinema, da história, ela própria. Sem preconceitos em matéria de alinhamentos e independente sem ser amorfo. Vai à bola com dignidade, o que também me agrada por ser um benfiquista assim. Vai à liça com os nossos liberais de trazer por casa, sem deixar de colocar o dedo nas feridas aos que querem outro país que não se organiza apenas a olhar ao espelho das empresas. Em suma, reúne todas as condições para ser uma fonte de informação e formação para quem outra coisa não procura na blogosfera. Faz hoje dois anos de navegação e, por isso, ao masson aqui deixo o meu agradecido reconhecimento.
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VERDADES ABSOLUTAS

Em Viseu não há homofobia nem xenofobia. Fernando Ruas, o presidente da autarquia, não pinta o cabelo.
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AS INFLUÊNCIAS NO TRÁFICO NATURAL DAS COISAS

Quantos políticos não teriam feito a quarta classe, e assim chegado mais tarde a deputados da nação, se no seu tempo o pai não tivesse oferecido um cabrito à senhora professora? Quantos polícias não teriam contrariado o êxodo rural e o decréscimo do sector primário, se o seu conterrâneo notável a viver em Lisboa não tivesse metido a cunha para a sua colocação na esquadra de xabregas? Quantas empresas familiares sem contabilidade organizada poderiam ter sido constituídas se não fossem os queijos e presuntos que o funcionário das finanças comeu com a mulher, os filhos e a sogra? Quantos prédios não deixariam de ser construídos em férteis terrenos agrícolas na antiga zona saloia de Lisboa se não fossem a casa no algarve do presidente da autarquia, as garrafas de vinho do porto vintage e o mercedes da mulher? Quantos empresários de mobiliário urbano, de publicidade e marketing, gráficas, construções e arranjos urbanísticos, não teriam arranjado suporte financeiro para tanto bmw, monte alentejano e férias na república dominicana? Será que não se percebe que é toda uma lógica de dinamismo económico, toda uma cultura nacional que está em causa com esta coisa de querer influenciar o tráfico natural das coisas?
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OS VALORES E A POLÍTICA

Não percebo por que razão há quem se atire agora aos que sempre disseram estar na política pelos valores. Pela simples razão de que eles nunca disseram a que valores se referiam.
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PARA QUE CONSTE

Desejo aos sportinguistas em geral, aos da blogosfera em particular, e com especial dedicatória aos que estão a torcer pela vitória do FCPorto no campeonato nacional da primeira liga de futebol; que a taça que este fim de semana vi em exposição numa biblioteca perto de mim, e tive oportunidade de tocar, seja na quarta-feira entregue a Pedro Barbosa.
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COISAS DE QUE EU ESTOU CERTO NÃO PRECISAR

Viagra, tratamentos para aumentar o volume do meu orgão sexual e relógios Rolex.
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PIOR DO QUE ISSO É ISTO

Coloquem no Google: "Jaqueline Bisset sexo oral" e vejam qual o primeiro resultado, consequência da mistura de dois posts que nada têm de comum e desgostou, estou certo, quem procurava imagens da conhecida actriz em sua intimidade sexual mais ousada.

domingo, maio 15, 2005

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HOJE VOU PERDER-ME NUM OLHAR ASSIM

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UMA PRESIDÊNCIA POUCO MAIS QUE CONTEMPLATIVA

Jorge Sampaio diz que aprendeu com os arquitectos que é preferível olhar do que não fazer nada. "Então vou olhando"...conclui o nosso presidente.

sábado, maio 14, 2005

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E AGORA, ACORDAMOS?

Os poucos leitores deste blogue recordar-se-ão que aqui escrevi já se ter demonstrado que o mito nacional que a corrupção apenas surgia em governos socialistas estava desmontado, faltando apenas desconstruir o mito da exclusividade da competência na condução das finanças públicas, por parte da direita. Foi durante muito tempo do senso comum a ideia que o PS descontrolava as contas do Estado, para depois vir a direita equilibrar as coisas. Pois chegámos a um ponto em que o que a realidade dos factos prova é exactamente o contrário. A direita desgovernou as finanças, ao invés de equilibrar um barco que vinha já a meter água do último governo PS. Agora caberá a um governo socialista a difícil, e árdua para todos nós, tarefa de equilibrar as contas públicas. Ao que vamos sendo informados pelos meios de comunicação vêm aí tempos muito, muito difíceis. Depois de termos passado por três anos de algum sacrifício que serviu apenas para piorar as coisas, será caso para perguntar, o que nos espera ainda em matéria de contenção de gastos dos orçamentos familiares? O problema é estrutural, temos de o concluir. A sensação que temos é que temos andado a tapar o sol com a peneira sobre a verdadeira realidade, não só das nossas finanças, como de toda a nossa incapacidade para promover um verdadeiro desenvolvimento económico sustentado que permita fazer face às exigências dos tempos que correm, em matéria económica. A nossa maldita tradição para colocar a cabeça debaixo da areia e esperar que a tempestade passe estará agora a evidenciar os seus efeitos. Isto sim, é muito triste. Será agora que vamos acordar para enfrentar a realidade?
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A LER

Vale a pena ler este texto do Estranho Estrangeiro, uma excelente análise do fenómeno religioso, a propósito da religião como comércio. O Estranho Estrangeiro é um blogue, estranha e injustamente, pouco conhecido e muito pouco lido. É pena, porque se aprende muito com a sua leitura.
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EFEMÉRIDE: AS PROFECIAS QUE SE AUTO-REALIZAM

E o que é o desgosto de os ver ganhar comparado com o prazer de os derrotar?
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O ESTADO NÃO É UMA ABSTRACÇÃO

Quando se diz que o Estado não acautelou os seus interesses pensa-se que o Estado é uma abstracção? Um edifício? Um papel? O Estado, meus senhores, é composto por pessoas que em determinado momento agem em seu nome. Essas pessoas são actores sociais que podem representar interesses, nem sempre coincidentes com os interesses públicos. Como se está a ver.

sexta-feira, maio 13, 2005

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EXCESSO DE ESTADO NA ECONOMIA, OU DE "ECONOMIA" NO ESTADO?

Ao contrário do que alguns comentadores de direita vêm afirmando, a propósito dos mais recentes acontecimentos que levantam suspeitas de indícios de tráfico de influências, o problema não reside no excesso de Estado na economia. O problema parece existir quando há excesso da presença, ou proximidade, de gente ligada à economia (aos interesses económicos privados) no Estado.
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UM EQUÍVOCO CHAMADO CAVACO

Há vários anos que Cavaco Silva coloca, no que julga serem momentos-chave, artigos de opinião nos jornais. Em todos assume o papel do grande conhecedor acima da mediania. O professor que vem dar a lição. O objectivo, dizem, é marcar pontos a favor da sua candidatura a Presidente da República. Há, porém, um problema. Todos esses artigos são sempre sobre um único tema. O único sobre o qual Cavaco tem opinião formada: economia e finanças. Ora, sucede que essas são boas competências para ministro das finanças ou até para primeiro ministro, não para Presidente da República, que como se sabe não tem qualquer capacidade constitucional para interferir na condução da política financeira ou económica do país. Mais preocupante, porém, é o facto de haver muita gente a regozijar-se com a possibilidade de eleição de Cavaco como próximo PR. Significa que teremos um Presidente da República que além de economia e finanças, não tem opinião, e muito menos visão, sobre qualquer outra matéria. A candidatura de um homem como Cavaco à Presidência da República constitui, pois, o maior equívoco(*) da política portuguesa, desde que a democracia se consolidou no país.

(*) Se excluirmos o caso extremo, em matéria de equívocos, que constituiu a passagem de alguém como Santana Lopes pela liderança de um governo.

quinta-feira, maio 12, 2005

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PORQUE TAMBÉM NÃO SOU CATÓLICO

Uma mulher com uma bandeira nacional às costas caminhava de joelhos centenas de metros, para cumprir uma promessa que fizera a Nossa Senhora de Fátima, caso Portugal fosse à final do Europeu de futebol com aquele golo de Ricardo, nos penalties. Um bombeiro diz ter ido a Fátima pedir ajuda contra o presidente da sua corporação que persegue os bombeiros da corporação. Um padre refere ser mais grave "matar" uma "criança" ainda no seio da sua mãe, do que matar uma criança com cinco anos. É que esta fé não é luz, mas sim trevas. Esta fé católica, não é fé mas procura de uma compensação na fé para a parca racionalidade com que se lida com a vida. Esta fé é apenas a busca de conforto ideológico de pobres ideologias na religião. Esta fé é sinónimo do atraso em que ainda se encontra o país. É o reflexo espelhar da nossa triste realidade, trinta anos depois de iniciado um processo de desenvolvimento, afinal amplamente fracassado.
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LEMOS, OUVIMOS E REGISTAMOS

"Por que razão em África, perdão, em Braga, o Dr. Mesquita Machado é presidente da Câmara desde o tempo de D. Afonso Henriques?"

Saldanha Sanches, na SIC-Notícias hoje de manhã.
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IMOBILIÁRIO E POLÍTICA: BREVE HISTÓRIA DE UMA UNIÃO INFELIZ

Já aqui escrevi por diversas vezes que este país é estruturado pelo sector imobiliário. É também isso que faz dele aquilo que ele é. Por trás de um grande evento está o imobiliário. Por trás do futebol está o imobiliário. Por trás das decisões de política autárquica está o imobiliário. Por trás, inclusive, das decisões de política governamental está o imobiliário. Por trás do financiamento dos partidos políticos está o imobiliário. Por trás dos grandes empreendimentos económico-financeiros está o imobiliário. Somos um país de construtores civis. É o que somos. Mas quem decide isso não são os construtores civis, mas sim o sistema político. Se a política não aceitasse casar, o noivo ficaria no altar. Assim, casaram e foram felizes para sempre, mas dessa união nasceu um filho infeliz a que chamaram Portugal.

quarta-feira, maio 11, 2005

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SINERGIAS

Ambiente-Turismo-Ambiente-Turismo-PP-Turismo-Ambiente-PP.
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UMA CAUSA TAMBÉM NOSSA

Porque todos nós somos consumidores e cidadãos, desejamos o maior sucesso nas funções que agora vai desempenhar a Maria Manuel Leitão Marques como coordenadora da modernização e desburocratização da administração pública.
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ACTUAL

Vai realizar-se nos dias 19-20 de Maio no ISCTE, uma conferência internacional com o título: "Corruption Control in Political Life and the Quality of Democracy: A Comparative Perspective Europe-Latin America"
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ESSES TAIS SOBREIROS SÃO PERIGOSOS ESQUERDISTAS?

O abate dos sobreiros chegou a estar aprovado no último governo de Cavaco Silva, tendo tal decisão sido revogada pelo governo Guterres. Agora voltou a ser aprovado pelo governo PPD-PP, e de novo revogado pelo governo PS. Mas afinal o que é que a direita tem contra os pobres sobreiros?
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REPRISE

Estão a ver Quatro Casamentos e um Funeral, Notting Hill, Two Weeks Notice, O Diário de Bridget Jones? Por que será que alguns actores desempenham sempre o mesmo papel em todos os filmes? Não. Não estou a falar de Hugh Grant. Refiro-me a Luís Nobre Guedes.

terça-feira, maio 10, 2005

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PROFECIAS

Resta-nos acreditar que há profecias que se auto realizam.

segunda-feira, maio 09, 2005

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FALTA DE DIGNIDADE DESPORTIVA

Sou benfiquista e reconheço que pelo menos o derrube de Simão era passível de grande penalidade. Quanto ao de Geovani, não tenho a certeza. Mas que importa isso se comparado com a total falta de resposta táctica que o Benfica apresentou em Penafiel? Por que raio os argumentos que agora apresentamos são sempre penalties não assinalados? Já só somos capazes de ganhar com penalties? Que falta de dignidade. E que falta de desportivismo aquelas lamentáveis cenas na bancada e o arremesso de objectos aos jogadores adversários. Que triste espectáculo.
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ESTOU BEM LINKADO COM ESTES TIPOS

Curiosa de seguir esta conversa dos links a propósito do Abrupto. Tenho gostado em particular da colocação da tónica das farpas no facto do Abrupto ser parcimonioso nos links. Interessante quando essa crítica vem de quem faz uma cuidada gestão dessa matéria. Deixemo-nos de mariquices que, como se diz aqui, isto parece uma conversa de gajas: "faz-me um link, mas com meiguice"...

sábado, maio 07, 2005

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LIMITAÇÃO DE MANDATOS POUCO DEMOCRÁTICOS

Referindo-se ao seu discurso a favor da limitação de mandatos em 1974, Alberto João Jardim disse agora que a ideia na altura era evitar a perpetuação dos militares no poder. Pois neste momento dr. Alberto João, a ideia é exactamente a mesma, mas desta feita para evitar a eternização dos jardins no poder...
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LEVANTA-ME ESSE MATACO Ó MADIÊ !



O Jorge Perestrelo era um cromo da bola. Sempre foi apanhado da bola e apanhado pela bola. E sempre foi apanhado pelo "sporteng". Era eu um teenager e ele um homem da rádio (com 25, 26 anos), lá na terra que nos viu nascer aos dois. Não nos conhecemos, como é natural devido à diferença de onze anos de idade que na juventude são uma eternidade. Mas lembro-me que frequentávamos o mesmo "barbeiro" (para agradar ao conservadorismo do JPT) e lembro-me bem da sua voz na rádio. Usava mais o coração do que a cabeça, como se perceberá pelo tipo de relatos que fazia e respectivo conteúdo verbal. Relatou a passagem do seu sporteng à final, na Holanda, como sempre com o coração nas mãos. E terá sido isso que levou o Jorge Perestrelo. Até qualquer dia madiê.

sexta-feira, maio 06, 2005

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QUE DIZER

das vitórias de Blair e do Sporting? Que há vacas leiteiras que dão leite de qualquer maneira. Mas eu, como progressista e português, não posso deixar de estar contente. Meio contente com a vitória de um clube nacional e meio contente com a vitória do Labour.
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UM DESAFIO A QUE NÃO CONSEGUI ESCAPAR

1. Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?

Não me consigo imaginar a ser imolado pelo fogo. Há outras formas menos dolorosas de morrer. Quem gosta de livros pode alguma vez escolher ser um para imolação? Há algo de perverso nesta pergunta.

2. Já alguma vez ficaste apanhadinha(o) por uma personagem de ficção?

Já, por muitas. Por exemplo: Na minha adolescência, pela personagem de um filme de que não me recordo, interpretada por Jaqueline Bisset que se constitui, então, na minha paixão platónica e algo freudianamente incestuosa. Mais tarde por Fanny Ardant em “La Femme d'à côté”, de François Truffaut e por personagens interpretadas por Nastassja Kinski – uma mocinha mais ou menos da minha idade -, em “Tess” de Polanski; “One from the heart” de Coppola; “Paris, Texas” de Wenders. Mais recentemente, por personagens interpretadas por Julia Roberts, em Notting Hill ou Closer, como se tem visto por aqui. Como já se percebeu, mesmo em ficção preciso da dimensão visual para ficar apanhadinho.

3. Qual foi o último livro que compraste?

Não comprei. Mandei comprar, para oferta, um livro de poesia do Pedro Mexia: “Eliot e outras observações”.

4. Qual o último livro que leste?

Por razões profissionais, neste momento não estou a ler um livro mas sim a consultar ou ler excertos/capítulos de algumas dezenas deles.

5. Que livros estás a ler?

Respondido atrás.

6. Que livros (5) levarias para uma ilha deserta?

Podia responder, “Poesia Toda” de Herberto Hélder, “Véspera da Água” de Eugénio de Andrade. “Poemas” de Alberto Caeiro. “Poesias” de Álvaro de Campos. “O último romântico” de José Agostinho Baptista. Mas pressupondo que poderia não voltar da ilha deserta, talvez escolhesse os cinco maiores livros de sempre. Iria, portanto, para os clássicos que nunca li.

7. A quem vais passar este testemunho (3 pessoas) e porquê?

À mãe dos meus filhos, ao meu filho e à minha filha. Porque eles não têm blogs.
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A ESQUERDA E AS AUTÁRQUICAS EM LISBOA

Primeiro foi a má escolha do candidato, por parte do PS. Depois foi o PCP com a aposta forte em Ruben de Carvalho e agora é a vez do advogado José Sá Fernandes, com a hipótese da sua candidatura à autarquia lisboeta, vir também dar o seu contributo para a vitória de Carmona Rodrigues na CML. Tudo se conjuga para que o PSD venha a ganhar as eleições em Lisboa, como se costuma dizer, "sem saber ler nem escrever". O que não se poderá dizer é que a esquerda não terá dado um grande contributo para essa vitória, caso venha, como tudo o indica, a ocorrer. Dir-nos-ão que nos resta a consolação de que essa vitória será, simultaneamente, uma dupla derrota para Pedro Santana Lopes. Mas, neste momento, dado o carácter gasoso da personagem, já nem isso tem qualquer significado.
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A LER A PROPÓSITO DE DOIS ANOS DE ABRUPTO

Se quiserem ler um blog que realmente vale a pena ser lido, fechem este blog e vão ler este texto de Pedro Mexia. Brilhante.
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PARABÉNS ABRUPTO

Manter um blog durante dois anos não é dificil. O dificil é manter um blog com esta qualidade durante dois anos.

quarta-feira, maio 04, 2005

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A CALAMIDADE PÚBLICA DO PSD

Depois dos níveis de pluviosidade terem sido dramaticamente baixos em Outubro, Novembro, Dezembro, Janeiro e Fevereiro, maugrado o governo do PSD ter metido tanta água, o PSD vem agora exigir ao governo que declare o estado de calamidade pública. Não se sabe se devido à seca ou às inundações causadas pela água que meteu na governação do país.
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ESTÁ NA HORA DO PRESIDENTE IR EMBORA

Já não há paciência para o tom professoral e paternalista do senhor presidente. Como se, no meio de tudo isto, fosse ele o dono da verdade e o imaculado. O único, de todos nós, que viu a luz e está isento de responsabilidades pelas trevas que sobre o país pairam.
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PRESIDÊNCIA ABERTAMENTE DEMAGÓGICA

Jorge Sampaio continua a surpreender-nos. Agora decidiu atribuir a responsabilidade do congestionamento do IC19 aos promotores imobiliários. Como se os nossos construtores civis - pois promotores imobiliários temos poucos - pudessem construir sem licenças camarárias. Como se o problema não estivesse na perversa lógica jurídica de financiamento das autarquias que é a grande promotora imobiliária do país. Constituindo tal lógica jurídica, o maior incentivo ao crescimento urbanístico, a todo o custo. Quanto mais e maiores edifícios, mais população, logo mais eleitores, mais contribuintes, mais contribuições. Quanto mais população, mais eleitores, logo mais financiamento do Orçamento de Estado para as autarquias. Como se o problema nem sequer estivesse na insuficiência do transporte ferroviário alternativo entre Sintra e Lisboa. Ou mesmo, como se o problema não estivesse também no facto da grande maioria dos automóveis que congestionam o IC19, transportarem uma só pessoa, que se recusa a usar o transporte público e prefere secar durante duas horas nas filas da via mais congestionada da Europa. Quando o senhor Presidente apela à responsabilidade dos cidadãos, e agora espeta o dedo acusatório aos patos bravos, bom seria que não desresponsabilizasse o poder político, ao qual julgo que não é alheio. O legislativo e governamental, por manter em vigor um mecanismo legal que só beneficia patos bravos e o caciquismo local, e o poder político autárquico pelas conhecidas cumplicidades e promiscuidades com o sector imobiliário e afins.
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POST IT

Não esquecer de responder ao inquérito dos intelectuais que anda a circular na blogosfera e que afinal também me veio bater à porta pela mão do amigo MJMatos. Pensava eu que me livrava de expôr aqui a falta de espírito cultivado pela literatura.

terça-feira, maio 03, 2005

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VALE A PENA LER

este post como complemento deste outro. Concordo com a tese do TdN.
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ESTRANHO

Como alguns dos que acusavam Guterres de excesso de diálogo, falta de firmeza e indecisão na chefia do governo, são os mesmos que agora acusam Sócrates de ser homem para pouca conversa, mau feitio, dureza e inflexibilidade na condução da governação. Se vão mal os tempos para a oposição, isso é sinal que algo vai bem no país. Continuamos atentos.
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COMO É LINDA

esta chinesa que toca ali no ecrã um instrumento de cordas que desconheço.

domingo, maio 01, 2005

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DIA DO TRABALHADOR

Para o comemorar, vou trabalhar.

Bom dia de descanso a todos os trabalhadores do mundo !
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NEM TUDO É RELATIVO

Também eu me dei conta agora que os posts com algum tempo continuam, ainda assim, a merecer comentários que não li a tempo. Exemplo disso é o excelente comentário do JPN aqui. Tal como lá escrevi um destes dias, se a minha análise não foi excelente, este comentário do jpn foi. Obrigado pela crítica. Percebo-a do ponto de vista argumentativo. Na essência, no entanto, creio que tenho razão para refutar o ateísmo militante. Mas admito que os ateus convictos possam discordar de mim. Estão no seu direito.
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O RELATIVISMO MORAL

Referendar o aborto é inconstitucional, porque o aborto é uma questão das consciências individuais.

Condenar um cidadão português a cinco anos de prisão, por fumar um cigarro de haxixe no seu quarto de hotel no Dubai, não nos deve merecer reprovação moral porque cada cultura e cada civilização têm os seus próprios códigos, a sua própria moral que temos de respeitar.

(em actualização permanente)
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VERDES MARINHEIROS

São devidos parabéns aos verdes da bola. Conseguiram levar de vencida uma equipa que dá pelo nome de "azia do alto mar". O segredo está no Alka-Seltzer que precisam de tomar de tão vermelhos de raiva que andam.