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AS INFLUÊNCIAS NO TRÁFICO NATURAL DAS COISAS
Quantos políticos não teriam feito a quarta classe, e assim chegado mais tarde a deputados da nação, se no seu tempo o pai não tivesse oferecido um cabrito à senhora professora? Quantos polícias não teriam contrariado o êxodo rural e o decréscimo do sector primário, se o seu conterrâneo notável a viver em Lisboa não tivesse metido a cunha para a sua colocação na esquadra de xabregas? Quantas empresas familiares sem contabilidade organizada poderiam ter sido constituídas se não fossem os queijos e presuntos que o funcionário das finanças comeu com a mulher, os filhos e a sogra? Quantos prédios não deixariam de ser construídos em férteis terrenos agrícolas na antiga zona saloia de Lisboa se não fossem a casa no algarve do presidente da autarquia, as garrafas de vinho do porto vintage e o mercedes da mulher? Quantos empresários de mobiliário urbano, de publicidade e marketing, gráficas, construções e arranjos urbanísticos, não teriam arranjado suporte financeiro para tanto bmw, monte alentejano e férias na república dominicana? Será que não se percebe que é toda uma lógica de dinamismo económico, toda uma cultura nacional que está em causa com esta coisa de querer influenciar o tráfico natural das coisas?
Morreu François Ascher
Há 15 anos
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