terça-feira, outubro 31, 2006

Os portugueses médios

Têm inteira razão os Gato Fedorento. O que mais se ajusta aos portugueses não é saber quem são os grandes portugueses, como pretende a RTP, nem sequer saber quem são os piores portugueses, como quer o Inimigo Público. A questão, no nosso caso, é premiar os médios portugueses. A mediania é o que melhor nos distingue e o melhor exemplo é mesmo aquele que os Gato avançaram: tivemos um ditador médio, que mandou matar medianamente e que não morreu devido a um atentado à bomba, ou assassinado à bala, mas sim porque caiu de uma cadeira. Haverá coisa mais prosaicamente mediana?

E o que é que eu tenho a ver com isso?

Há quem divida o mundo entre homens e mulheres. Há quem o faça entre militares e civis. Há ainda quem o faça entre médicos e não médicos. Não há por aí ninguém que diga ao seu camarada João Soares que a divisão do mundo entre os seus amigos e os outros, não é um critério analiticamente pertinente?

O populismo

Lamento dizê-lo, mas a concepção que Lula da Silva tem da política, e em particular da governação, como o atestam os resultados do seu primeiro mandato, não é substantivamente diferente de outras que conhecemos bem : Primeiro, distribuição de televisões e frigoríficos pela população. Depois...bem...depois já sabemos o que vem a seguir...

Esclarecimento público

O que abaixo referi sobre a natureza casuística de algumas medidas recentes do governo, no tocante à obtenção de receita e redução da despesa, não significa que alguns casos não sejam merecedores de medidas. Um desses casos é a Madeira, a que só este governo teve a coragem de retirar o estatuto de impunidade.

segunda-feira, outubro 30, 2006

Onde está o problema? (1)

É verdade que as manifestações a que se tem assistido não resultam substancialmente de tentativas de manipulação partidária. Sabemos, de facto, que as pessoas já não são manipuláveis em absoluto. Inversamente, tendem cada vez mais a pensar, bem ou mal, pelas suas próprias cabeças, agindo em conformidade com a sua consciência, ou a sua leitura da realidade. É, igualmente, verdade que alguns episódios recentes da governação beliscaram seriamente o capital de expectativa positiva depositada na acção governativa desde que o governo tomou posse. Mas será que o problema é de ordem comunicacional, resolúvel por uma melhor ou maior explicação das medidas governamentais? Ou será, antes, que o verdadeiro problema reside nos dois factores seguintes?

Por um lado na natureza aleatória, para não dizer errática, de algumas medidas desesperadas com vista ao cumprimento do objectivo conjuntural de redução do défice das contas públicas. A sensação com que o cidadão fica é que o governo anda a "catar" fontes de obtenção de receita e redução de despesa, como um garimpeiro que nunca sabe onde estará realmente a pepita de ouro. Ora, o que o cidadão espera ver no governo, ainda que nem sempre o consciencialize, é acção integrada e coerente, com vista a atingir um fim para o qual foi eleito.

Por outro lado, na limitação do alcance e impacto da esfera em que a governação pode, efectivamente, intervir de modo directivo e com resultados a curto e médio prazo. Ora, essa esfera, onde é possível obter ganhos no curto e médio prazo é, como sabemos, o Estado, ele próprio.
(Continua no post anterior, por razões de apresentação)

Onde está o problema? (2)

Sucede que daqueles dois factores, apenas o primeiro está exclusivamente nas mãos do governo, podendo e devendo ser corrigido pelo executivo. O segundo é bem mais complexo, depende largamente da acção dos cidadãos e dos agentes económicos, e apenas poderá encontrar solução no longo prazo. Trata-se, não do défice das contas do Estado, mas do défice estrutural do tecido económico nacional. Défice de modernização e de produtividade das empresas.

É claro que o governo também pode, e deveria, procurar actuar numa estratégia concertada com os agentes económicos e não o estará a fazer, pelo menos de modo consistente e publicamente notório. Mas, ainda assim, qualquer actuação a este nível, não produzirá nunca efeitos no curto ou médio prazo, o que facilita a “impaciência” dos cidadãos e compromete um aspecto fundamental do sucesso da governação, que afinal é largamente independente da acção governativa e não susceptível de mudança senão no tempo longo: a criação sustentada de riqueza pela economia que permita a ultrapassagem do impasse a que chegámos.

Só isso possibilitaria a recuperação das expectativas de condições de vida e de consumo que os portugueses foram criando, desde os primeiros anos da década de noventa, e que culminou no que designamos “crise” após e dealbar do novo século, levando-os agora para “a rua”.

Outra questão seria saber por que razões aquelas expectativas, de mais consumo e melhores condições de vida, saíram goradas e culminaram abruptamente na “crise” actual. O eixo fundamental da resposta a essa questão, se não estou enganado, creio ser o que está já acima aludido: a não sustentabilidade da riqueza gerada pelo tecido económico nacional que, no entanto, permitiu, graças aos mecanismos de mercado ascendentes após os primeiros anos de noventa (descida das taxas de juro, crescimento súbito da concorrência, facilitação do crédito ao consumo, afectação pelos fluxos globais do capitalismo de consumo e leque salarial desajustado face à riqueza efectivamente produzida) criar ilusórias expectativas de consumo nas classes médias nacionais.

Plágio, disse ele

Assim que se começou a falar de trapalhadas governamentais, quem é que veio logo à ribalta reclamar direitos autorais? Quem vigilante, andando por aí, reclama esse direito só para si. Solicita-se, pois, ao governo, o favor de não voltar a plagiar o legítimo autor da obra no prelo "Um governo de trapalhadas".

quinta-feira, outubro 26, 2006

Adesões tardias

A oposição vai questionar o governo sobre "violação de compromissos eleitorais". Podiam ter dito logo na campanha que concordavam com as propostas eleitorais do partido socialista.

Tenha tento na língua

Sócrates questionou se "eles [PSD] quando estiveram no governo cresceram 3%". Também não é preciso ofender Marques Mendes.

Back to basics (3)

Zés-Ninguéns inovadores, por Sandro Mendonça.

A cada um a sua corporação

Fiquei a saber que existe um sindicato dos professores licenciados pelos politécnicos e universidades. Perplexidade. Primeiro porque dentro de muito poucos anos não será mais possível ser-se professor sem se ser, pelo menos, licenciado. Depois porque me interrogo por onde são licenciados aqueles que o não são por politécnicos e universidades. Mas este sindicato deu-me uma ideia. Vou constituir também um sindicato. O sindicato dos professores licenciados pelo iscte no ano de 1987 e que têm mais de um metro e setenta e cinco de altura. Estão abertas as inscrições.

Ter um lema como modo de vida

A luta continua Sá Carneiro para a rua.
A luta continua Balsemão para a rua.
A luta continua Soares para a rua.
A luta continua Cavaco para a rua.
A luta continua Guterres para a rua.
A luta continua Sócrates para a rua.
A luta continua...

Back to basics (2)

A realidade não é o que é mas o que nós gostaríamos que ela fosse.

Back to basics

Os bons meios de comunicação são os que dizem muito mal do governo. Deste, em particular.

sexta-feira, outubro 20, 2006

Não há almoços nem noites grátis

Ao que parece as noites não vão ser grátis e muito menos para sempre. A Anacom não achou piada e lá saberá porque é preciso manter a ordem. Afinal quem tinha razão era aquele sujeito inspirado no diácono remédios que desconfia de adesões a coisas grátis.

Laranja catatónica

Os tempos estão difíceis para o psd. É preciso ouvir e ler com atenção alguns analistas da área laranja, para perceber como os sucessos da actual governação estão a transformar o psd num partido catatónico. O olhar desses analistas para as manifestações pré-fabricadas pelo pcp, ou para o debate entre António Costa e o lobby organizado do poder autárquico, diz tudo o que é preciso saber sobre o desespero laranja. Perderam os reflexos e a capacidade reflexiva. Fosse o psd o governo e alguém tem dúvidas que as manifs da cgtp e o levantamento autárquico teriam a costumeira adjectivação?

quinta-feira, outubro 19, 2006

Refresh the browser please

Deve ser cansativo, muito cansativo, governar. Nem todos aguentam muito tempo no poder executivo do país. Está empiricamente provado. Primeiro veio um ministro dizer que a "crise acabou", agora veio um secretário de estado dizer que "a culpa do aumento da electricidade era dos consumidores". Não haja dúvidas que ao fim de algum tempo é preciso fazer um refresh do browser da governação, colocando alguns governantes na moldura e passe bem.

domingo, outubro 15, 2006

Assim se vê a força da cgtp

Vindos de todo o país, 80 mil cidadãos nacionais, transportados em camionetas, vieram a Lisboa manifestar-se contra o governo. Sinal de vitalidade da nossa democracia. Desde a década de oitenta que não se assistia a uma manifestação desta envergadura. Ficámos, assim, a saber que pelo menos 0,8% dos portugueses estão disponíveis para protestar, desde que devidamente transportados, contra a política do actual governo. É um dado a ter conta.

A crise acabou














Há cromos que, realmente, merecem moldura.

sábado, outubro 07, 2006

Afinal o JPP também tem graça

«Prova um: o Manchester United processou o Benfica, porque, quando os seus jogadores negros apareciam, as bancadas desatavam a gritar umas coisas com us, com a boca atirada para cima e o beiço grosso, que os adeptos aprenderam com os macacos. Percebe-se: macacos nas bancadas num diálogo multicultural com os macacos no relvado. Esta dos macacos já eu vi num dos raros jogos de futebol a que assisti, confesso que a sua maioria em campanhas eleitorais, eis o tributo que o vício paga à virtude, e de clubes de pequena dimensão. Num desses jogos, começaram os macacos sincopados a urrar e eu, que não sabia o que era aquilo, perguntei, penso que ao Hermínio Loureiro, o que é que se passava, se era o hino do clube, e ele, com infinita paciência, explicou-me. O Benfica ficou naturalmente indignado com tão vil acusação e nega que haja racismo entre os seus adeptos, tudo gente que paga as quotas ao SOS Racismo, e presumo que o Manchester também não é um poço de virtudes.»

(...)

«Prova dois: esta semana ouvi na televisão mais um virtuoso exemplo de um clube que para agradecer aos árbitros os bons serviços prestados lhes garantia "fruta", ou melhor, "fruta para a noite". Mais uma vez me surpreendi pela indigência do nosso futebol que paga um bom resultado apenas com fruta, embora possa pressupor que fruta nocturna deva ser mais rara. Uma pesquisa na Internet sobre o que era essa "fruta nocturna" não deu resultados, pelo que o Google ainda está para apanhar as subtilezas das prendas aos árbitros portugueses. Há um Night Fruit Café, um Starry Night Fruit Cake. Há uma recomendação de que não se deve comer uma Night Fruit Pie antes de se ser operado, o que me parece recomendável, mas nada que explique o sucedido. Ainda me inclinei, metaforicamente claro, a favor da bebida, porque parece que o presidente Pinto da Costa teria sido consultado ou teria perguntado se queriam "café com leite, com muito leite ou mais café". Podia também ser um caramelo, um doce, uma pastilha, visto que alguém escutado diz ao outro escutado, o presidente, que um árbitro estaria "à espera de um rebuçadinho", ao que lhe foi respondido "pois está-lhe garantido". Aqui está um retalho da vida desportiva ímpar de virtudes frugais. Basta um "rebuçadinho". Só intelectuais maldosos ou apoiantes do presidente do Benfica é que falam da corrupção no desporto.»

In: Abrupto

quinta-feira, outubro 05, 2006

Contrastes urbanos (2)


Automóveis na baixa de Nova York


Atomóveis na baixa de Luanda


Automóveis na baixa de São Tomé (isto é, Táxis, excedendo largamente a procura)

(Para aumentar, clicar nas imagens)

quarta-feira, outubro 04, 2006

O direito à falta de assunto

O homem que se manteve, sem que se perceba porquê, no cargo de Procurador Gral da República até final do mandato, diz agora que se vai remeter ao silêncio. Será porque, finalmente, não tem assunto?

terça-feira, outubro 03, 2006

Revitalização urbana da Baixa de Lisboa em alta

Maria José Nogueira Pinto está a investir nas suas funções de vereadora da CML muito para além do que seria expectável do cargo que exerce. Por vezes arrogante na forma, mas pelos vistos eficaz nos resultados, a veradora deixa ficar claro, pela sua acção, que os seus objectivos são bem mais amplos do que o cargo para o qual tão obstinadamente negociou posições dentro da estrutura da CML. A prová-lo, aí está a Proposta para a Revitalização da Baixa, encomendada em Março a um grupo de peritos liderado por Augusto Mateus e que em apenas seis meses realizou estudos e elaborou um relatório do qual consta um Plano para a Revitalização da Baixa. O plano aponta genericamente para as direcções correctas em matéria de revitalização urbana da baixa de Lisboa. Não pretendendo levanta,r neste contexto, questões de natureza mais técnica, ou de política urbana, não queria deixar de registar dois pontos. Um primeiro diz respeito ao hábito nacional de se fazer tábua rasa do conhecimento produzido sobre um tema, ou dos diagnósticos e planos pré-existentes, sempre que se produz um estudo de natureza técnica, como é o caso em apreço. De facto, o Plano agora produzido e os respectivos estudos são omissos no que toca aos estudos anteriores, que deveriam ser sempre um ponto de partida para quem trabalha no sentido de produzir um novo diagnóstico, ou plano. Inversamente, ao fazermos tábua rasa do que já foi produzido, desperdiçamos o capital de conhecimento adquirido e os dinheiros públicos investidos. Ao fazê-lo estamos, ainda, a dar razão à vox populi que postula com frequência a ideia de que se fazem estudos muito interessantes mas que nunca chegam a conhecer a sua operacionalização. O segundo ponto que gostaria de aqui colocar prende-se com o prazo previsto para a execução do Plano e a respectiva orçamentação. Planear acções tão concretas e específicas a um prazo tão dilatado - 14 anos - nos tempos de incerteza que correm, deixa-nos, no mínimo, interrogativos. Não sei se haverá por aí algum economista que nos queira esclarecer sobre a razoabilidade e realismo de programar financeiramente uma intervenção para um prazo de 14 anos, já que o Plano em causa prevê o início da sua execução em 2007 e a sua conclusão em 2020.

Se assim o pretender faça o download da Proposta de Revitalização da Baixa-Chiado aqui.

Ei-los, os que não são alinhados

Jornalismo de plástico

Definitivamente o universo dos jornais rendeu-se, também ele, à macdonaldização da sociedade. Agora, no lugar da qualidade do jornalismo discute-se o tamanho e o formato da embalagem, o saco de plástico.

segunda-feira, outubro 02, 2006

Contrastes urbanos


Maputo, Moçambique (Clicar nas imagens para aumentar)

Urban divide

Maputo, Moçambique (Clicar na imagem para aumentar)

Dia Mundial do Habitat

Um dos principais problemas, mas também um dos principais desafios, que a humanidade enfrenta neste século, é a gestão das cidades. Os números dizem, neste caso, quase tudo. Em 2050, 6 mil milhões de pessoas viverão em cidades, ou seja, um em cada três seres humanos será habitante de uma urbe. Mas, como sempre, este esmagador indicador pressupõe múltiplas e diversificadas realidades. As cidades serão, necessariamente, cidades desiguais. Desigualdade entre cidades e desigualdade dentro de cada cidade. Compete-nos procurar contribuir para a difícil tarefa de promoção de uma eficaz redução dessas desigualdades e desenvolvimento da melhor gestão de políticas urbanas que promovam a possível coesão social e territorial a todas as escalas, isto é, às escalas local, regional, nacional e global.