sábado, outubro 07, 2006

Afinal o JPP também tem graça

«Prova um: o Manchester United processou o Benfica, porque, quando os seus jogadores negros apareciam, as bancadas desatavam a gritar umas coisas com us, com a boca atirada para cima e o beiço grosso, que os adeptos aprenderam com os macacos. Percebe-se: macacos nas bancadas num diálogo multicultural com os macacos no relvado. Esta dos macacos já eu vi num dos raros jogos de futebol a que assisti, confesso que a sua maioria em campanhas eleitorais, eis o tributo que o vício paga à virtude, e de clubes de pequena dimensão. Num desses jogos, começaram os macacos sincopados a urrar e eu, que não sabia o que era aquilo, perguntei, penso que ao Hermínio Loureiro, o que é que se passava, se era o hino do clube, e ele, com infinita paciência, explicou-me. O Benfica ficou naturalmente indignado com tão vil acusação e nega que haja racismo entre os seus adeptos, tudo gente que paga as quotas ao SOS Racismo, e presumo que o Manchester também não é um poço de virtudes.»

(...)

«Prova dois: esta semana ouvi na televisão mais um virtuoso exemplo de um clube que para agradecer aos árbitros os bons serviços prestados lhes garantia "fruta", ou melhor, "fruta para a noite". Mais uma vez me surpreendi pela indigência do nosso futebol que paga um bom resultado apenas com fruta, embora possa pressupor que fruta nocturna deva ser mais rara. Uma pesquisa na Internet sobre o que era essa "fruta nocturna" não deu resultados, pelo que o Google ainda está para apanhar as subtilezas das prendas aos árbitros portugueses. Há um Night Fruit Café, um Starry Night Fruit Cake. Há uma recomendação de que não se deve comer uma Night Fruit Pie antes de se ser operado, o que me parece recomendável, mas nada que explique o sucedido. Ainda me inclinei, metaforicamente claro, a favor da bebida, porque parece que o presidente Pinto da Costa teria sido consultado ou teria perguntado se queriam "café com leite, com muito leite ou mais café". Podia também ser um caramelo, um doce, uma pastilha, visto que alguém escutado diz ao outro escutado, o presidente, que um árbitro estaria "à espera de um rebuçadinho", ao que lhe foi respondido "pois está-lhe garantido". Aqui está um retalho da vida desportiva ímpar de virtudes frugais. Basta um "rebuçadinho". Só intelectuais maldosos ou apoiantes do presidente do Benfica é que falam da corrupção no desporto.»

In: Abrupto

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