É verdade que as manifestações a que se tem assistido não resultam substancialmente de tentativas de manipulação partidária. Sabemos, de facto, que as pessoas já não são manipuláveis em absoluto. Inversamente, tendem cada vez mais a pensar, bem ou mal, pelas suas próprias cabeças, agindo em conformidade com a sua consciência, ou a sua leitura da realidade. É, igualmente, verdade que alguns episódios recentes da governação beliscaram seriamente o capital de expectativa positiva depositada na acção governativa desde que o governo tomou posse. Mas será que o problema é de ordem comunicacional, resolúvel por uma melhor ou maior explicação das medidas governamentais? Ou será, antes, que o verdadeiro problema reside nos dois factores seguintes?
Por um lado na natureza aleatória, para não dizer errática, de algumas medidas desesperadas com vista ao cumprimento do objectivo conjuntural de redução do défice das contas públicas. A sensação com que o cidadão fica é que o governo anda a "catar" fontes de obtenção de receita e redução de despesa, como um garimpeiro que nunca sabe onde estará realmente a pepita de ouro. Ora, o que o cidadão espera ver no governo, ainda que nem sempre o consciencialize, é acção integrada e coerente, com vista a atingir um fim para o qual foi eleito.
Por outro lado, na limitação do alcance e impacto da esfera em que a governação pode, efectivamente, intervir de modo directivo e com resultados a curto e médio prazo. Ora, essa esfera, onde é possível obter ganhos no curto e médio prazo é, como sabemos, o Estado, ele próprio.
(Continua no post anterior, por razões de apresentação)
Morreu François Ascher
Há 15 anos
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