segunda-feira, outubro 30, 2006

Onde está o problema? (2)

Sucede que daqueles dois factores, apenas o primeiro está exclusivamente nas mãos do governo, podendo e devendo ser corrigido pelo executivo. O segundo é bem mais complexo, depende largamente da acção dos cidadãos e dos agentes económicos, e apenas poderá encontrar solução no longo prazo. Trata-se, não do défice das contas do Estado, mas do défice estrutural do tecido económico nacional. Défice de modernização e de produtividade das empresas.

É claro que o governo também pode, e deveria, procurar actuar numa estratégia concertada com os agentes económicos e não o estará a fazer, pelo menos de modo consistente e publicamente notório. Mas, ainda assim, qualquer actuação a este nível, não produzirá nunca efeitos no curto ou médio prazo, o que facilita a “impaciência” dos cidadãos e compromete um aspecto fundamental do sucesso da governação, que afinal é largamente independente da acção governativa e não susceptível de mudança senão no tempo longo: a criação sustentada de riqueza pela economia que permita a ultrapassagem do impasse a que chegámos.

Só isso possibilitaria a recuperação das expectativas de condições de vida e de consumo que os portugueses foram criando, desde os primeiros anos da década de noventa, e que culminou no que designamos “crise” após e dealbar do novo século, levando-os agora para “a rua”.

Outra questão seria saber por que razões aquelas expectativas, de mais consumo e melhores condições de vida, saíram goradas e culminaram abruptamente na “crise” actual. O eixo fundamental da resposta a essa questão, se não estou enganado, creio ser o que está já acima aludido: a não sustentabilidade da riqueza gerada pelo tecido económico nacional que, no entanto, permitiu, graças aos mecanismos de mercado ascendentes após os primeiros anos de noventa (descida das taxas de juro, crescimento súbito da concorrência, facilitação do crédito ao consumo, afectação pelos fluxos globais do capitalismo de consumo e leque salarial desajustado face à riqueza efectivamente produzida) criar ilusórias expectativas de consumo nas classes médias nacionais.

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