domingo, outubro 24, 2004

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O que é isso de se ser liberal?

Neste post do Terras do Nunca, o JMF responde a este post do JM do Blasfémias no mesmo registo. Perante a adesão de JM do Blasfémias a mais uma "bacoquice" do actual primeiro ministro o JMF responde, com razão, com o seu habitual humor sarcástico. Mas quem nos diz que a simples visão anti-Estado é uma perspectiva política liberal?
Não basta postular uma perspectiva "anti Estado" e a favor da "iniciativa privada ou individual" para se ser um liberal. Se afirmar a supremacia do indivíduo enquanto a razão de ser, não apenas da democracia, como da própria Modernidade, é ser-se liberal, eu também sou liberal. A liberdade individual é um valor em si, que coloca na actual fase da modernidade sérios problemas e paradoxos às sociedades democráticas que com ela terão de se confrontar nas próximas décadas. Mas a Modernidade é isso mesmo: crescente liberdade dos indivíduos, (também face ao Estado). No entanto, não acredito em sociedades democráticas sem um papel central por parte do Estado. É que, precisamente, um Estado democrático, republicano, laico e socialmente responsável constitui, a meu ver, outra exigência de modernidade. Uma "sociedade de indivíduos", sem um tal papel do Estado, é apenas uma sociedade de interesses individuais e não uma sociedade onde a liberdade dos indivíduos e a sua realização e dignificação, enquanto cidadãos, está acima dos meros interesses individuais. Acresce que, ao contrário do que alguns "liberais" cá da nossa praça supõem, o Estado Moderno dos nossos dias terá de ser um Estado actuante para que os cidadãos alcancem a maior liberdade individual que o seu estatuto de cidadãos exige. Isso significará, precisamente, maior poder (e liberdade de escolha) dos indivíduos, enquanto cidadãos. O que temos vindo a presenciar, inversamente, entre nós e não só, é uma desresponsabilização social (e financeira) do Estado, o que apenas é confundível com formas mais arcaicas de desenvolvimento das sociedades e jamais com a Modernidade (ou sequer liberalismo). A nossa política doméstica está, pois, num estádio subdesenvolvido da noção do papel do Estado Moderno, bem como da noção de liberdade e cidadania inerentes a esse Estado.

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