Não consigo perceber onde possa estar o espectáculo da queda de duas torres. Ainda assim esse momento simbólico significa o fim de uma época. Mas não da época do império do betão ou do turismo nefasto para as condições ambientais e paisagisticas que tipificavam as torres do modelo de turismo de massas. Significa apenas, e ainda bem, o fim de um modelo económico que caracterizou a Torralta na segunda metade da década de setenta. Sendo certo tudo isso, não é menos verdade que o projecto alternativo, agora iniciado, não está isento de muitas interrogações no que ao desenvolvimento sustentável diz respeito. Desde logo porque em lugar daquelas torres outros edificios de betão, de menor densidade, é certo, mas ainda assim de alguma dimensão, ali serão construídos. O maketing SONAE é eficaz mas não torna opaco aquilo que é por demais transparente. O simples facto de haver um
upgrading social do mercado alvo do novo projecto e uma gestão moderna e verdadeiramente empresarial do mesmo, não tranforma, por passo de mágica, aquele projecto em amigo do ambiente e do equilíbrio paisagístico e urbanístico. Depois porque ele se enquadra no grande embuste das economias menos desenvolvidas da era global contemporânea. De facto, embora esteja em voga a ideia de que o turismo é a panaceia do desenvolvimento do país, tal ideia é merecedora de muitas dúvidas porque o turismo não é um sector motriz do desenvolvimento. Ele é sim, à semelhança dos restantes sectores em que aquele grupo económico está envolvido, uma fonte de elevadas mais valias financeiras. O desenvolvimento sócio-económico, porém, é outra coisa. Em primeiro lugar porque é óbvio que ele não vai contribuir para gerar emprego local qualificado, mas vai, isso sim, procurar esse emprego onde ele existe (não na Península de Setúbal). Em segundo lugar, porque o turismo apenas é um factor subsidiário de desenvolvimento nas regiões e países onde outros sectores, nomeadamente de produção de bens transaccionáveis, e em particular aqueles que são fortes em conhecimento e design intensivos, têm importância estruturante nas respectivas economias. Dizer que um projecto como o Troia Resort é um projecto estruturante do desenvolvimento é uma falácia. O sector do turismo e do lazer, por si, não são estruturantes de desenvolvimento em parte alguma do mundo. Finalmente, o turismo representa, do ponto de vista cultural e civilizacional, aquilo que de mais cínico existe nas economias e nas sociedades contemporâneas. Veja-se o que é o objecto de consumo na actividade turística. Quem consome e quem e o quê é consumido nessa actividade. A relação do turista com o seu objecto de consumo constitui a mais vil relação com o "outro" que é possível encontrar nas actividades e interacções humanas. A narrativa do turista e a experiência turística implicam o maior desprezo e afirmação simbólica de domínio, de uma civilização e de algumas das culturas que dela emergiram, ou de uma classe social e de algumas das fracções que dela resultaram, sobre as demais culturas nacionais, regionais ou locais do mundo em que vivemos. Há diversos sinais claros que apontam no sentido da transformação do país no lugar do grande "resort da europa", o que significaria conformarmo-nos com um lugar rasteiro em matéria de desenvolvimento socioeconómico no contexto europeu e mundial.
1 comentário:
O país "parou" para ver a implosão de dois edifícios na península de Tróia. O Primeiro-Ministro deslocou-se ao local para ter a honra de detonar os explosivos. Eu nunca esqueço que vivo num país provinciano (para não dizer parolo), mas por vezes fazem com que o sinta com maior intensidade.
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