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PARADOXOS DA GLOBALIZAÇÃO
Fala-se ali, no programa Prós e Contras da RTP, na necessidade de valorização da língua portuguesa e da sua afirmação internacional. Parece-me muito bem. De resto, a afirmação (desesperada) das línguas e identidades culturais territorialmente mais enraizadas, e menos difundidas nos fluxos comunicacionais globais, é o outro lado da moeda da globalização. Mas como conciliamos este desiderato com o crescente império da língua inglesa como um "neo-espranto", na comunicção via internet, no mundo dos negócios, no universo académico e científico e nas formas de expressão cultural e artística crescentemente globalizadas com o inglês como idioma dominante? Como conciliamos isso, por exemplo, com as exigências de publicação científica predominantemente em língua inglesa, sendo sabido que é infinitamente maior o peso curricular de um paper (repare-se na lingua que se utiliza) publicado em inglês, face a um outro em português? Aliás, a tendência é para que o peso curricular do artigo que não em inglês seja próximo do zero. Para não falar na língua que teremos de passar a usar nas conferências internacionais, ou mesmo nas aulas onde teremos alunos de diversas nacionalidades, proferidas em Portugal (mobilidade dos estudantes) ou no estrangeiro (mobilidade dos docentes). Pouco adiantarão esforços ciclópicos no sentido do reforço da importância do português na internet, nas leituras e no ensino e aprendizagem da nossa lingua mater por esse mundo, bem como da sua utilização como língua oficial de organismos internacionais, se depois nos vemos confrontados com o imperativo categórico da utilização do inglês, se queremos comunicar globalmente, afirmar o produto do nosso trabalho, ou tornarmo-nos concorrenciais no mercado global dos bens ou dos conteúdos científicos ou culturais. Aliás, alguns dos que defendem a batalha pela nossa identidade cultural e linguística e respectivo património, são os mesmos que se conformam com as exigências anglófilas na comunicação científica e académica actual. Paradoxos da globalização.
Morreu François Ascher
Há 15 anos
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