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O mito da competência da direita caíu hoje em Portugal
Escrevi aqui, em tempos, que o mito de que só o partido socialista gerava no seu seio, ou na sua entourage, corrupção, já tinha caído, com os diversos casos conhecidos entretanto, no âmago do governo. Faltava apenas caír outro mito, porventura mais enraízado entre os eleitores sem partido. O mito de que só a direita sabe governar o país, só ela percebe de economia e gestão financeira. Simetricamente, é quase do anedotário nacional que o partido socialista esbanja os dinheiros públicos e é de uma inépcia endémica na gestão das contas públicas. Esta é a imagem que a direita sempre fez muito bem passar. Em sintonia com uma tal ideia, eles, a direita, seriam os bons gestores, os que não só são sérios, como competentes, em matéria da economia e finanças públicas. Foi com esse mito que ganharam as últimas legislativas e com ele mantiveram um governo durante mais de dois anos, pedindo compreensão aos portugueses, pedindo tempo para "arrumarem a casa" e as contas da Nação, devolverem a ordem de uma sã economia ao país. Neste coro cantaram, também, reputados economistas e grandes empresários da nossa praça, votantes na coligação, pois claro. O sacrossanto equilíbrio orçamental, que afinal só se conseguiu com complexos malabarismos aritméticos, foi a grande ideia que sustentou este governo. Não teve outra. Nem uma só estratégia de mudança e desenvolvimento para o país. Mas teve essa que não foi de somenos. Em nome dela muita gente perdeu, de facto, o emprego, muitas empresas perderam mercado e lucros, muitas delas faliram, a maioria dos funcionários públicos não tem aumentos há mais de dois anos, e em nome dela os portugueses têm vivido sérias restrições de consumo, e de felicidade também. As caras dos nossos concidadãos na rua, nos locais de trabalho, nos transportes públicos, são bem o espelho de um país cujo único sonho é o equilíbrio das contas públicas. Sonho pequenino este que se ofereceu a uma Nação, mas pelo qual dez milhões de almas têm vindo a definhar, dia após dia, mês após mês, nas suas expectativas de uma vida melhor, e de um país onde desse gosto viver. Mas, em todo o caso, era o sonho que este governo nos permitia. Tínhamos que viver com o único sonho que nos era possibilitado. Por ele, o Primeiro-Ministro estava na disposição de nos iluminar o caminho até 2012.
Pois bem, no final de tudo isto, vêm agora dizer-nos que afinal tanto sacrifício, tanto esforço, não serviu de nada. O líder máximo desse sonho abandona o barco, vira-nos as costas e não quer saber do sonho, nem de nós, nem do país, entregando o governo nas mãos de quem, de certeza, vai mudar radicalmente de política. De rumo. Seja no interior do seu partido (caso o golpe se confirme), seja com o partido socialista, caso a dissolução do parlamento se viabilize. Afinal a política de Durão não era assim tão essencial para o país, como ele nos pretendeu fazer crer. Afinal o mito da exclusividade da competência, por parte da direita, caíu por terra, e é dessa realidade que Durão foge, agora, quando aceita ir para a Presidência da CE e deixa o governo nas mãos da dupla Santana-Portas. Concordo com a Maria Manuel Leitão Marques. Também eu quero os meus retroactivos, de dois anos sem aumentos, de volta...Mas quero mais. Quero também os retroactivos de dois anos de tempo perdido. De um país parado. Para nada, senão para agravar, ainda mais, a distância que nos separa do desenvolvimento.
Morreu François Ascher
Há 15 anos
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