sexta-feira, junho 04, 2004

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EUGÉNIO DE ANDRADE, (Nas Ervas)

Escalar-te lábio a lábio,/percorrer-te: eis a cintura,/o lume breve entre as nádegas/e o ventre, o peito, o dorso,/descer aos flancos, enterrar//os olhos na pedra fresca/dos teus olhos,/entregar-me poro a poro/ao furor da tua boca,/esquecer a mão errante/na festa ou na fresta//aberta a doce penetração/das águas duras,/respirar como quem tropeça/no escuro, gritar/às portas da alegria,/da solidão,//porque é terrível/subir assim às hastes da loucura,/do fogo descer à neve,//abandonar-me agora/nas ervas do orvalho-/a glande leve


(Amedeo Modigliani, 1884-1920)

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