quarta-feira, junho 16, 2004

___________________________________________

A globalização da percepção da globalização

Há tempos encontrei no foguetabraze um texto que parodiava, com humor inteligente, a globalização, e que me deixou perplexo. Pareceu-me óbvio que o autor daquele blogue desconhecia uma paródia idêntica, que eu havia lido há muitos anos, e que a minha memória reteve, como exemplo prático para os alunos. Contactei o foguetabraze, e não tenho dúvidas que ele não faz a mínima ideia do texto de que eu falo. Isto apenas prova que há, de facto, coincidências inexplicáveis ou que, afinal, a percepção da globalização é, ela própria, globalizada.

Aqui fica, finalmente, o registo, que julgo irá deixar perplexo o próprio Nuno Almeida e Sousa:

"Globalização
O Ezequiel estava a falar de organizar um jantar de peixe no Porto Formoso. E se fosse um Cabrito asado? Comi um muito bom num "tasco" ali para as Feteiras. Está mesmo a apetecer-me um cabrito assado no forno. Mas é perigoso comer assim cabrito sem saber de onde vem. E se for um borrego, de Santa Maria? diz o Pedro. Borrego de Santa Maria não há, nem de São Miguel. Mas há uns óptimos lombos de Borrego da Nova Zelândia no Sol-Mar, que podem ser cozinhados "Au vin" conjuntamente com Javali da Austrália e castanhas também congeladas Espanholas da Pescanova tudo regado com champanhe francês (há outro?). Na minha cozinha Italiana Spazi, vai tudo ao forno AEG alemão, numa assadeira Pirex americana, acompanhado com cerveja sem álcool Irlandesa para mim que sou abstémio e um Bordeaux para os convidados que são bêbados. Acabamos de Jantar na minha mesa Altamira Espanhola e passamos aos sofás Divani&Divani italianos. Refastelamo-nos uns com uma água Perrier francesa em copo de cristal da Boémia, outros degustando um bom whisky Irlandês. Vamos assistir ao Jogo do FCP com jogadores brasileiros, e do Mónaco com Jogadores Espanhóis através de uma televisão de fabrico coreano. No fim cada um vai para casa no seu carro alemão gastando petróleo Árabe e pagando a única coisa que é Portuguesa, os impostos (...)."


(Nuno Barata Almeida e Sousa, Blogue Foguetabraze)

"There was this Englishman who worked in the London office of a multinational corporation based in the United States. He drove home one evening in his Japanese car. His wife, who worked in a firm which imported German Kitchen equipment, was already at home. Her small Italian car was often quicker through the traffic. After a meal which included New Zealand lamb, Californian carrots, Mexican honey, French cheese and Spanish wine, they settled down to watch a programme on their television set, which has been made in Finland. The programme was a retrospective celebration of the war to recapture the Falkland Islands. As they watched it they felt warmly patriotic, and very proud to be British"

(Raymond Williams,(1983), Towards 2000, London: Chatto & Windus, p.177)

Sem comentários: