sexta-feira, junho 11, 2004

___________________________________________

Embandeirar em arco

[Cometi a heresia de dizer no café da minha rua, a propósito da enchente de bandeiras nacionais: "Esperemos não estar a embandeirar em arco". Fui literalmente fuzilado pelos olhares patrióticos dos meus concidadãos de café...]

De repente o orgulho pátrio veio à superfície. Bandeiras nacionais hasteadas nos carros, nas janelas, nas varandas. De repente não estarão os portugueses, de novo, a embandeirar em arco? O sonho comanda a vida é, além de um verso de António Gedeão, um lema bem ajustado à identidade nacional. Mas pode o sonho, sem esforço, sem organização, sem trabalho planeado, sem substrato, sem consolidação, permitir alcançar algum desígnio nacional? Porque continuamos a acreditar no virtuosismo, na fortuna, no acaso, no D. Sebastião, sem muito fazermos para alcançar seja o que for? Para depois nos queixarmos da sorte. Da nossa dimensão, do árbitro, dos políticos, dos outros. Mas nunca de nós próprios, das nossas incapacidades. Temos, de facto, excesso de auto-estima e défice de auto-crítica. Orgulho balofo. Depois não saímos do mesmo lugar. Essa coisa mediana, nem boa nem má, nem quente nem fria, mas morna, sofrível. O meio da tabela.

Sem comentários: