quinta-feira, junho 10, 2004

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Roupa usada, roupa nova e processos de renovação identitária

Não haverá concerteza nada mais trivial e fútil do que a roupa com que nos vestimos, o calçado que calçamos e os demais adereços com os quais ornamentamos esse elemento primordial da nossa identidade pessoal: o corpo. Mas são esses objectos, também, que pelas suas caracteristicas, desenho, marcas, materiais, estilo, constituem um factor básico dessa identidade pessoal. São, provavelmente, os meios mais elementares a partir dos quais, consciente, ou inconscientemente, voluntária, ou involuntariamente, comunicamos com os outros, uma determinada identidade pessoal, mas também cultural. São, portanto, signos da nossa identidade. Para que deles nos apropriemos, isto é, para que os incorporemos na nossa identidade, precisamos de os usar, de os adaptar ao nosso corpo, para que funcionem como um seu prolongamento. É por esse motivo que nos sentimos mais "à vontade" com roupa e calçado que já foram alvo desse processo de incorporação dos objectos na nossa identidade, constituída também por gestualidade, rotinas, posturas corporais. Mas não é menos certo que a necessidade que julgamos sentir de aquisição de novos e renovados objectos daquele tipo, significa também, a necessidade de renovação identitária. Este processo é intrínseco à própria identidade. Não existem identidades pessoais ou culturais imutáveis. Elas precisam, por definição, de se renovarem e até de se reconstituírem, resultado da mudança social, cultural e da nossa interacção com essa dinâmica, bem como da nossa interacção com os outros, com os quais quotidianamente coabitamos, no espaço público, como no espaço privado. As identidades que não se renovam ciclicamente naquele processo, cristalizam e desaparecem. Morrem.

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