domingo, maio 30, 2004

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Poemário

TRÍPTICO

I
Nem a água corrente torna ao seu manancial
nem a flor desprendida da haste
volta jamais à árvore que a deixou cair.

II
Aqui era a morada antiga do rei de Wu
e livre cresce a erva agora nas suas ruínas.
Mais longe, o imenso palácio dos T'sing,
tão sumptuoso e tão temido outrora.
Tudo isso foi e não é, que tudo chega a seu termo.
Os feitos e os homens viajam para a morte,
como as águas do rio Azul passam e vão perder-se no mar.

III
Um relâmpago fugitivo é a vida,
que mal dá tempo de a sentirmos passar.
Imutável é a face da terra, e a do céu;
mas quão rápido muda o nosso próprio rosto!

LI TAI PO (C. 701- C.762)
Mesa de Amigos
(versões de poesia por Pedro da Silveira)

***

O TRIUNFO DO DIA

O sol entra na casa O que
perdemos é já demasiado
para podermos distinguir da parede
o retrato Houve um futuro
no fumo que sangrava
É a forma invisível que uma onda
de luz irá salvar? Esse encontro
da casa com o dia criará uma névoa
que nega a própria luz e vai como
uma nuvem guardar todo o poder
até se transformar num relâmpago
que não pertence ao dia
porque é o que ficou do que perdeu a
existência e de novo se perde
quando a onda regressa
ao dia de onde veio
enrolada levando na sua luz o rosto

GASTÃO CRUZ (1941)
Crateras

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