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Azedume
Sempre admirei a poesia de Vasco Graça Moura (VGM) e o seu trabalho literário. Nunca admirei as suas intervenções políticas. Nem o seu antigo eanismo, nem o seu cavaquismo. Sempre os achei demasiado aderentes a perspectivas muito pouco poéticas da vida e do mundo. Demasiado acriticas para um poeta e um homem do conhecimento, que como se sabe desde os pré-socráticos assenta no questionamento das evidências, das verdades absolutas e definitivas e do simplismo de raciocínio.
Agora, o azedume do texto de VGM no Diário de Notícias, já me parece mesmo excessivo vindo de um homem da poesia e da sensibilidade literária. Afinal as coisas correm mesmo mal lá para os lados do poder em exercício. Há tempos escrevi aqui que a campanha eleitoral para as europeias não estava a correr nada mal ao Primeiro-Ministro. Parece que me enganei. Eu engano-me com alguma frequência. Ou então o desnorte está em acelerado passo rumo ao descalabro. Só assim se compreende que VGM se veja obrigado a baixar o nível do debate àquele ponto. Por norma, quem está a vencer o jogo não recorre à canelada. Não precisa de o fazer. Por norma, também, é raro que a canelada venha dos melhores jogadores da equipa perdedora. Por isso, apesar da sua respeitosa idade, que quiça lhe estará a conferir esse azedume, que o faz recorrer a uma terminologia menos nobre, permita-me Vasco Graça Moura, ao menos enquanto humilde admirador da sua obra literária, um pequeno conselho: deixe esse trabalho para os "peões de brega", ou para os caceteiros do costume, e retome o seu lugar, para que não se confunda com eles.
Post-scriptum: Já agora, o chavão da má-fé, que se está a tornar um autêntico leitmotiv do discurso dos sectores intelectualizados do lado direito do espectro político nacional, começa a vulgarizar-se de tal modo, que já só me parece revelar a má-fé dos que o usam para criticar os que se posicionam à sua esquerda, na ausência de mais valiosos e sólidos argumentos politico-intelectuais.
[Não leio diariamente o DN. Foi no Causa Nossa que li um comentário de VM que me levou a ler o artigo de VGM]
Morreu François Ascher
Há 15 anos
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