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Utopias
Ficcionemos, por instantes, que o universo do futebol deixava de existir. Que em sua substituição tomávamos três grandes ideias estratégicas para o país. Imaginemos, ainda, que outras quinze ideias contribuíam para a concretização das três primeiras. Como hoje os outros clubes trabalham para a valorização dos três grandes clubes nacionais. Que um conjunto de cidadãos se organizava em torno de cada uma daquelas três ideias e concorriam por elas. Que os meios de comunicação divulgavam tão massivamente aquelas três ideias, como hoje divulgam os três maiores clubes nacionais de futebol. Que havia tantos programas televisivos sobre essas três ideias como há hoje sobre os três grandes clubes nacionais de futebol. Que havia o mesmo número de debates, comentários, análises, reflexões, transmissões em directo, em diferido, em repetição, como hoje há sobre o futebol nacional. Que em todos os cafés, locais de trabalho, ruas, casas, ministérios, autarquias, empresas, se debatia essas ideias, e a sua melhor concretização, como hoje se debate o futebol nacional. De forma minuciosa, problematizada, argumentativa. Qual o melhor pé do sujeito que joga a extremo esquerdo na ideia estratégica xis? Porque a ideia estratégica zê deveria mobilizar, para o objectivo específico da defesa central, não este jogador mas sim aquele?
Imaginemos ainda, por instantes, que construíamos empresas e empreendimentos e investíamos os nossos recursos financeiros nessas três grandes ideias estratégicas, como investimos hoje no mundo do futebol. Que os cidadãos se mobilizavam, em torno dessas três ideias, apaixonadamente e de modo tão motivado e empenhado como hoje se mobilizam para o futebol…
Que sofríamos e nos emocionávamos, rasgávamos as camisolas, morríamos de ataque fulminante nas bancadas, ríamos e chorávamos, com os sucessos e insucessos de cada passo da concretização de cada uma daquelas três grandes ideias estratégicas para o país.
Julgo que seríamos o melhor país, não da Europa, mas do mundo. Mas isto é apenas uma utopia, claro, não realizável…
Post-scriptum: Este post foi actualizado às 23 horas e 45 minutos
Morreu François Ascher
Há 15 anos
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