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Problemas de timing and space
A ideia de que no mundo actual, resultado dos processos de globalização, tudo é decidido em instâncias supranacionais e, como tal, nada há a fazer a nível da política nacional senão o voto em branco como forma de protesto veemente contra um mundo assim (des) estruturado, não me parece grande ideia. De facto, esta leitura fatalista e impotente da globalização, parece-me altamente desaconselhável porque produtora de riscos perigosos, a diversos níveis, bem mais nefastos do que os chamados processos de globalização. Até porque nem sequer corresponde, em bom rigor, à realidade dos efeitos da globalização. Esses são contraditórios, de múltiplas direcções e, por vezes, mesmo paradoxais. As escalas de decisão e actuacção politica, económica e social, infraglobais, não só não foram absolutamente suprimidas pela globalização, como são requeridas e pressupostas nos próprios princípios da mesma globalização. Não podemos aceitar leituras da globalização efectuadas com as lentes do mundo pré-globalizado de finais do século XIX até ao final do terceiro quartel do século XX.
Por esse motivo, espero, e desejo, que os potenciais eleitores da área política do actual governo não sigam o conselho de Saramago, agora reabilitado por Durão Barroso, e não se deixem levar pelo "génio literário" de apelo ao voto em branco. Porque isso seria péssimo para a Democracia, num momento em que há vários sinais da sua fragilidade. Quanto aos eleitores potenciais na área política que se opõe à actual coligação no poder, onde julgo que se integra o escritor José Saramago, penso que se deverão interrogar sobre o sentido desta reabilitação do "génio literário" que se impõe independentemente dos circunstancialismos e "contingências de natureza politico-partidária". Dever-se-ão interrogar sobretudo dos porquês do surgimento deste elogio do Nobel no actual momento. A isto chama-se, actualmente, em politics: timing.
Morreu François Ascher
Há 15 anos
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