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Uma estruturação desestruturante
Embora sempre excessivo na forma, Miguel Sousa Tavares, "põe o dedo na ferida" na substância, no que se refere às questões ambientais, urbanísticas e de ordenamento do território. Aqui, subscrevo quase sempre as suas posições. Recordei-me, agora, de ter ouvido há uns quinze anos a um especialista de ordenamento do território, o relato da máxima de um autarca do interior do país, desse tempo: "Quero fazer desta terra uma Amadora!". Referia-se o edil, ao desordenamento urbano e à densidade urbanística de construção em altura, mas que aquele cidadão tomava como um "modelo de desenvolvimento". Grave era o facto de o homem estar convicto da bondade da sua megalómana, inconsciente e desastrada visão do que é o desenvolvimento. Certamente que os seus objectivos não terão sido inteiramente alcançados. Mas, estou certo que aquele homem deixou obra!
Entretanto, devemos reconhecer que, apesar de tudo, a formação de muitos dos nossos autarcas saiu, ela própria, daquele grau de desenvolvimento. De facto, estávamos, então, no grau zero do poder local. Aquilo de que eu não tenho dúvidas que mudou pouco, ou mudou ainda para pior, foi o papel estruturante (que no caso é desestruturador) do sector imobiliário neste país. É também verdade que não é apenas em Portugal que o sector imobiliário tem a importância que tem. O que está em questão aqui é, também, a própria lógica de funcionamento das economias capitalistas urbanas e do papel que nelas desempenham os mercados fundiários, em particular, e imobiliários em geral. Mas, de facto, em Portugal, aquele sector é mais do que um sector da economia. É o sector que estrutura a economia e a própria política. Está por fazer, mas não será fácil fazê-lo, o estudo aprofundado das redes de relações por que passa aquela "estruturação".
Morreu François Ascher
Há 15 anos
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