Desde há alguns anos que o conceito de "família desestruturada" é muito usado nos meios da intervenção social (acção social?), pretendendo referir as famílias onde pelo menos um dos seguintes factores está presente: O desemprego, a reclusão, o alcoolismo, a toxicodependência, a violência doméstica, a deficiência mental, a monoparentalidade sem recursos suficientes para fazer face à gestão da vida, ou a desordem pessoal proveniente da pobreza e exclusão social. São situações que, provavelmente, para a generalidade dos leitores deste blogue, estão distantes e com elas apenas mantêm um contacto remoto. Mas há outras situações de "desestruturação pessoal e familiar", em meios sociais só aparentemente improváveis de se encontrarem em tal situação. Foi uma dessas famílias que recentemente me caiu em cima. No sentido próprio. Um jovem, muito jovem, e muito irresponsável também, que conduzindo um automóvel propriedade da sua progenitora, incapaz de o controlar devido ao excesso de velocidade e à inépcia total, embateu violentamente na traseira do meu próprio veículo. Primeiro o jovem diz que se distraiu. Depois diria que é o terceiro acidente que tem desde que conduz (não admira, penso eu). Depois diz que eu não tenho de me queixar porque não vou pagar nada, pois quem paga são os seguros (e algumas mãezinhas também, desconfio), depois telefona para a mãe e de seguida para a irmã. Esta, habituada a ter acidentes, ao que referiu, (problema endémico, penso eu...) diz que "nem sempre quem bate por trás é culpado". Depois chega a mãe e o jovem chora no ombro da mãe. De seguida a irmã telefona para o pai que, ao que se podia deduzir, se demarcou da responsabilidade na ocorrência, pelo que a jovem desata numa sequência de gritos e choro no meio da rua. Perante este quadro, julguei ser conveniente chamar as autoridades para tomarem a devida nota do acidente. Só de seguida proponho a assinatura da declaração amigável, que é rejeitada pela mãe (proprietária do veículo) que deste modo desresponsabiliza o filho e tenta desresponsabilizar-se a si própria. Pois, coitadinho do seu filhinho não tem culpa que haja outros carros a circular na via, sendo assim inevitável que ele os abalroe. Não sendo o primeiro, mas o terceiro acidente (confessado pelo próprio) que este irresponsável provoca, quer isso dizer que aquela mãe continuará a permitir que o seu filhinho maior de idade, mas menor de responsabilidade e auto-sustento, ande por aí a atirar com a sua desestruturação e a desestruturação da sua família, para cima dos outros pacatos cidadãos que circulam pela via pública. Em face deste caso que sabemos frequente, nos tempos que correm, neste país, só podemos concluir que
legislação mais severa no tocante à responsabilização dos condutores parece tão necessária quanto procurar urgentemente as formas e os meios de intervir na
cultura de generalizada desresponsabilização e facilitismo que impera nas instâncias de socialização cá neste reino.
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