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Vícios privados e públicas virtudes: o universo dos valores em política
Subscrevo inteiramente este post do Celso Martins no Barnabé. Mencionar aspectos da vida privada de um político como “defeito” ou “virtude” para fins políticos, faz parte de um universo de valores e normas de conduta, no qual não me revejo. Apenas admito que em contexto de sociabilidade se possa participar no anedotário nacional, volátil e politicamente abrangente, como se sabe. Mas isso, diria, é quase equivalente de brincar com a expressão "seis vezes três dezoito", sempre que alguém evidencia dificuldades no cálculo mental, ou quando se responde com a expressão "é a vida", quando alguém está perante facto consumado, após ter falhado a tentativa de solução de um problema. Expressões que se instalaram, com facilidade, na nossa cultura de escárnio e maldizer do anedotário nacional quotidiano, com a qual os portugueses sabem iludir a sua triste condição de país do fado. Essas expressões são, de resto, partilhadas pela generalidade do espectro político do eleitorado, e independentemente do posicionamento partidário ocupado pelos protagonistas das respectivas "gaffes". Já a utilização, para fins de argumentação política, dos estilos de vida e de aspectos da vida privada, e até intima, dos titulares de cargos políticos, como de qualquer cidadão, me parece acto ignóbil e impróprio dos valores e princípios que defendo. O que contesto, no entanto, e com veemência visceral, é que os protagonistas de determinados estilos de vida, socialmente menos sincronizados, soi-disant, com os valores dominantes, assumam, enquanto políticos, um discurso defensor desses valores dominantes, na sua versão mais conservadora e até reaccionária. Isso já acho de uma hipocrisia repelente que não só me causa nojo moral, como provoca mesmo, em mim, uma náusea profunda, para não dizer desprezo intelectual por tais personagens.
Morreu François Ascher
Há 15 anos
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