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Como eu compreendo o Ma-schamba...
Quando diz que um blog é uma ilusão. É verdade. O que ele acaba de exprimir também eu o tenho reflectido nas últimas semanas. Há, pelo menos, uma pessoa com a qual já troquei impressões sobre o assunto.
Que sentido faz esta coisa dos blogs, quando lhe damos determinados objectivos, como o sermos lidos por um número crescentemente razoável de pessoas, procurando por este meio exercer o nosso papel enquanto cidadãos, enquanto pessoas com gosto pela comunicação escrita sobre diversos temas?
Quem nos disse que a nossa opinião, sobre determinadas matérias, era importante? Quem nos disse que o facto de pretendermos, por este meio, comunicar, significaria que haveria pessoas a querer comunicar connosco, precisamente sobre esses temas?
Um blog é assim como um jornal diário feito ao minuto, ao segundo, ou apenas à semana. Não me parece anacrónico o que acabo de escrever. Um jornal em que qualquer pessoa com o domínio de técnicas elementares pode ser editor, jornalista, cronista, analista político, poeta, artista plástico. Uma parafernália de facetas. Mas todas elas, em boa parte, virtuais, fictícias. Quer queiramos quer não, há o mundo dos blogs, a blogosfera, e há o mundo real, onde a realidade existe. Poucos são os blogs que conseguem, ou querem, fazer pontes entre os dois universos. Há qualquer coisa de esquizóide neste universo virtual que vive incrustado no mundo real e com ele interage de um modo estranho, quase subterrâneo, quase marginal...
Encontramos, por outro lado, na blogosfera, todas as regras e códigos do modo como funcionam as nossas sociedade reais. E a blogolândia nacional reflecte bem a especificidade da sociedade portuguesa, e das suas culturas, a vários níveis. Não, não vou dizer quais são.
Iniciei este projecto de forma absolutamente individual, mas com o intuito de o ir colectivizando. Não encontrei até hoje eco razoável que justifique a continuação deste desafio. O Forum Comunitário, tem-me absorvido umas razoáveis horas de um misto de lazer e trabalho árduo. Mas o número de leitores tem vindo a diminuir drasticamente nas últimas semanas. O projecto começou sério. Quase só escrevia aqui coisas muito maturadas e trabalhadas razoavelmente do ponto de vista da construção do texto, elaboração das frases, estilo, correcção gramatical e ortográfica em particular. Enfim, fazia o meu melhor, embora não tenha formação de escrita criativa ou outra qualquer especialidade que não a formação escolar e algum treino advindo da minha profissão. Aos poucos fui deixando para trás todas essas preocupações e fui escrevendo "de rajada", quase sem revisões de texto. Ultimamente, por vezes, tenho corrigido gralhas já depois de ter inserido o post. Após uma tendência crescente do "gráfico das audiências" que o aproximou seriamente da centena de leitores diários, o número de visitas que em média consultam o FC tem vindo dramaticamente a diminuir. Tinha apenas como objectivo permanecer nos três dígitos. Entre as 100 e as 999 visitas diárias. Não era um objectivo muito ambicioso, tendo em conta as horas que diariamente invisto neste projecto. No presente, o FC está a transformar-se num blog lido por um "pequeno grupo de amigos", pessoas que muito considero pela sua paciência em continuarem, persistentemente a ler-me, e até, muitos deles, a comentar, os meus posts.
Mas, por muita estima que este pequeno grupo de pouco mais de trinta leitores permanentes, quase assinantes do blog, me mereçam, e merecem-no de facto - em meu entender, a disponibilidade exigida pela manutenção regular do blog, no modelo inicial, é incompatível com outras dimensões da vida, incomparavelmente mais decisivas.
Afinal, um blog é, de facto, uma ilusão. A realidade real está noutro lugar...
É bem provável que o FC mude de registo. Adopte uma modalidade menos exigente e mais coerente com a sua verdadeira dimensão: um diário pessoal, disponível online. Por agora não vai ser encerrado, mas sim reconfigurado.
É por tudo isto que compreendo bem o JPT do Ma-schamba...
Sei que o Zé Flávio nos está a fintar. Sei que ele conseguiu arranjar a tal casinha para umas boas férias e vai voltar. Uma casinha num sítio onde não há internet, nem telefones, nem problemas grandes. Onde só há coisas pequenas e importantes. Essas sim. Com isto ele quer auscultar, tomar o pulso à ilusão. Compreendo. Porque tal como o poeta, também o bloguista é um fingidor. Neste caso, chega a achar que é uma ilusão a ilusão que deveras sempre soube que o era.
Morreu François Ascher
Há 15 anos
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