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Um coração exagerado
Maria de Lourdes Pintasilgo terá exagerado ao afirmar que vivíamos a maior crise política desde o 25 de Abril de 1974. Sem dúvida que momentos bem mais graves houve-os no período revolucionário anterior ao 25 de Novembro de 1975. Não sei, no entanto, se este não será o momento em que a democracia portuguesa sofre as mais sérias ameaças desde que se institucionalizou em Portugal, após 1975 e, sobretudo, desde que a Constituição da República a enquadrou formalmente. Pintassilgo foi, a muitos níveis, uma mulher que esteve à frente do seu tempo, num país como Portugal, onde o discurso político é tão frequentemente, e cada vez mais, paupérrimo. Ela foi uma referência do pensamento político independente e por isso, também, incómoda tanto para os sectores mais reaccionários da Igreja Católica, como para a esquerda tradicional e do status quo. Não vamos, agora, discutir das suas razões. Mas foi pena que a sua voz bem informada, lúcida e bem intencionada, não tenha sido ouvida mais vezes. Fóssemos nós uma democracia onde a cidadania não é palavra vã e tal teria, certamente, acontecido. A vida politica nacional está a ficar ainda mais pobre, com o desaparecimento de gente que colocando a sua inteligência ao serviço da razão das causas, não deixa de intervir políticamente com a nobreza dos melhores sentimentos que lhe vêm do coração.
Morreu François Ascher
Há 15 anos
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