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Que fazer?
Perguntaram e responderam, já, pessoas a cuja opinião é preciso estar atento. Apesar de hoje não fazer sentido postular a perspectiva política do estratega da revolução russa, eles leram-no há muitos anos. Pacheco Pereira colocou, no programa da SIC-NOTÌCIAS, Quadratura do Círculo e Augusto Santos Silva na sua crónica do Público, as questões essenciais. Cada um do seu prisma, obviamente, entendo que a leitura que fazem do momento político actual e do "que fazer?", perante o populismo de direita é, na sua essência, a mesma. De ASS retenho, em particular, as seguintes passagens:
"(...)Não se pode cair no erro de seguir ou imitar os populistas, na imagem e no estilo: o original ganha sempre à cópia, o emulado ao emulador. Não se poderá fulanizar demasiado o combate político e muito menos atacar "ad hominem" pela via da diabolização: primeiro, os Berlusconis agradecem a promoção que esse tipo de ataques lhes garante e são mestres na autovitimização; segundo, a reacção histérica e a arrogância intelectual não são antídotos, mas vitaminas do populismo. Não se pode responder ao adversário de hoje com as palavras e as atitudes de ontem: os eleitorados castigam severamente as apreciações desproporcionadas, do tipo "regresso ao fascismo", e quem fala, por exemplo, em "resistência ao avanço da extrema-direita" ou exagera o "fulgor" e a "projecção mediática" dos seus caudilhos coloca-se implicitamente, à partida, na posição de acossado e perdedor.
A linha de conduta para enfrentar Santana Lopes parece-me, pois, óbvia. Não subestimar a sua capacidade e influência, mas recusando-lhe qualquer hipótese de colocar o debate no registo histriónico que ele adora. Não dar por adquirido qualquer desenlace do combate político que se avizinha, cortando cerce todas as cenarizações mais ou menos fantasiosas sobre o dia seguinte, que só dispersam e malbaratam energias preciosas para o próprio dia. Ser moderado, falando não para os "santanistas" e na sua linguagem, mas para as pessoas e nos seus problemas, e falando com equilíbrio e convicção tranquila.
(...)
O que se compara são as qualidades dos programas, das equipas e das pessoas, para o exercício efectivo da governação - não para as capas de revistas ou os estúdios de televisão, mas sim para dirigirem o Estado, responderem pelo país e realizarem obra em favor das populações. (...) Conhecem-se as virtudes e os defeitos dos rostos do centro-esquerda para as diferentes áreas políticas e sectoriais, mas quem são os "santanistas", quem há neles de relevante para lá dos homens de mão e das mulheres em pose? Onde está a obra de Santana Lopes, há 25 anos na política, mas sem uma iniciativa que tenha marcado positivamente os lugares por que passou? Qual é a sua obra: a revista no teatro nacional, a plantação de palmeiras na Figueira ou as ilusões desfeitas e os buracos por tapar em Lisboa? Levou alguma coisa até ao fim, mostrou estabilidade política e emocional em algum lado, manteve alguma coerência em coisa alguma?
Eu sei que, na hipervalorização de Santana operada por críticos não menos devotos que os seguidores, espreita a mal disfarçada inveja pelo "animal político" - pela luz dos holofotes, pela sedução pessoal, pelo à-vontade na polémica e no combate, até pela desfaçatez. Mas duvido que esta atitude, realmente influente no campo político-mediático, tenha grande repercussão na generalidade das pessoas. O que estas querem saber é que soluções concretas, práticas e razoáveis lhes são propostas, para sair da profunda crise de meios e de esperança em que as mergulhou o Governo mais desastrado da democracia constitucional portuguesa. E intuem que isso é o contrário da fantasia, do sorriso fácil, do "glamour" das festas e das revistas."
Por seu lado Pacheco Pereira inseriu no Abrupto o seguinte texto, com o qual concordo em absoluto:
"A entrevista de Santana Lopes à SIC, para além de um exercício de simulação política tão exagerado quanto ao Presidente que roça o absurdo - nenhum Primeiro Ministro que se preza se coloca de forma tão subserviente sob a tutela presidencial – mostra, infelizmente, que já começou a revelar-se a marca de água do entrevistado. As únicas coisas que foram ditas de concreto – número de ministérios, descentralização de ministérios, o Ministério da Agricultura em Santarém – são claramente coisas ditas sem qualquer pensamento de fundo, estudo, preparação e ponderação sobre a estrutura do Governo e o modo como se relaciona com o país. São daquelas coisas que são ditas e, depois, se levadas à prática na forma como foram “prometidas”, representam “experiências” com custos enormes. São caras, desorganizam o pouco que funciona e não resolvem problema nenhum.
Não, não é má vontade. É que é exactamente isto que é o costume."
Morreu François Ascher
Há 15 anos
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