terça-feira, novembro 29, 2005

Um problema de desmame

Como toda a gente sabe a parcela maior do desperdício de recursos financeiros do Estado não consiste nos salários dos funcionários, mas sim nas relações clientelares das empresas face ao Estado. Quando os empresários exigem emagrecimento do Estado (com redução de pessoal) apenas estão a exigir isso porque o Estado começou a dar sinais de que o leite estava a chegar ao fim. A preocupação dos empresários reside no facto de que se o número de funcionários diminuir será possível que não diminua o tamanho da mama do Estado onde as suas empresas se alimentam. O problema dos nossos empresários que se preocupam mais com o Estado do que em tornar as suas empresas competitivas no mercado global, é o desmame em que o país está a entrar.

A má moeda está de volta

Ao que parece, de Cavaco não sabemos bem o que pensa do problema israelo-palestino, de política de imigração, do papel das forças armadas nacionais no quadro da UE e da NATO, ou dos direitos humanos na China. Mas em compensação ele "mostra-nos" o que faz na banheira, como se despe e veste, que tipo de pijama usa. Está tudo na Sábado.

O básico

O que está em questão não é nenhuma campanha contra o crucifixo, ou a cruz, qualquer que ela seja. Que nos importa que o ateu, ou o católico, resolva ter um crucifixo no quarto, ou dele fazer o que entender? O que está em questão não é a presença de um símbolo da história que pode constar de moedas, obras de arte, ou museus. O que está em questão - e o que significa a presença do crucifixo nas salas de aulas - é a marca simbólica que funde religião e educação pública, logo, religião e Estado, tal como essa fusão existia no Estado Novo e que, supostamente, deveria ser considerada extinta, pelo menos após a aprovação da Constituição da República em 1976. É assim tão difícil de entender isto?

Os que não são políticos profissionais

Independentemente de todas as dúvidas e questões que o projecto OTA possa suscitar, o ministro Mário Lino deu, o que se costuma chamar um bailinho aos seus adversários neste debate sobre a OTA no Prós e Contras. A miséria da argumentação de Ludgero Marques, ou as indigentes profissões de fé de Carmona Rodrigues foram muito bem aviadas com factos e racionalidade de argumentos de Mário Lino. Ou com o mero deixar a caravana passar perante a baixesa final do argumento, por parte de Carmona Rodrigues, de que o Ministro foi militante do PCP, e era, então, contra as privatizações (...). Quando os verdadeiros argumentos faltam, é caso para parafrasear o autor - um dos tais que não são políticos profissionais: "É extraordinário..."

segunda-feira, novembro 28, 2005

O bom despesismo do Estado

"As obras no aeroporto do Porto, que começaram por orçar em 6.7 milhões de contos, acabaram por ficar nos 33 milhões de contos. Sinal de que fomos ouvidos." Afirmou Ludgero Marques, agora mesmo na RTP1, no programa Prós e Contras. Este é o mesmo homem que permanentemente acusa o Estado de despesismo. Conclusão: O despesismo do Estado é bom, quando verte a favor do Porto.

A calibragem da fruta

Um dos problemas da agricultura nacional é a calibragem da fruta. Ao contrário do que é voz corrente na boca dos próprios portugueses, a fruta portuguesa não tem dimensão suficiente, de acordo com os padrões da UE. Uma vez mais, o problema do excesso de auto-estima nacional. Depois queixamo-nos da invasão espanhola. Os nuestros hermanos não têm culpa de ter a fruta mais calibrada. Aliás, suspeito bem que fazem por isso, enquanto nós nos ficamos a queixar, sem nada fazer para ultrapassar este problema de subdesenvolvimento frutícola.

domingo, novembro 27, 2005

Uma questão de fé

Se Cavaco ganhar será apenas graças àquela parcela do eleitorado que votou em Sócrates para que esse, com a maioria absoluta, os salvasse da crise. Mas como Sócrates não se revelou Messias, antes exigindo esforço colectivo, fim de pequenos e médios privilégios e co-responsabilização na saída da crise, agora, resta-lhes crer noutro Messias que lhes possa trazer a salvação.

Micro dúvida

Podiam s.f.f informar-me quem é Maria Filomena Mónica?

O país profundo

Há um país profundo que um terço da população portuguesa, concentrada na sua única metrópole, ignora. É o país onde o 25 de Abril é apenas uma data de vaga memória, onde os crucifixos ainda não foram retirados das paredes das escolas. Estão lá pendurados há mais de trinta anos. Talvez há mais de cinquenta. Mas até agora ninguém se importou com o facto da democracia ainda não ter chegado a esse país. Depois hão-de queixar-se que os eleitores desse país aguardam ainda que um D. Sebastião surja do nevoeiro para os salvar.

sexta-feira, novembro 25, 2005

Materiais para uma sociologia das classes

A blogosfera é um riquíssimo manancial de informação sobre o país. Há, inclusive, textos que nos fornecem material empírico para uma sociologia das classes e da estratificação social, a partir de histórias de vida contadas na primeira pessoa. Quanto da história, da estrutura e da textura social da sociedade portuguesa não é possível recolher nesta fonte inesgotável de conhecimento deste povo e desta nação que é a blogosfera nacional?

Avaliação internacional das universidades

1. É uma boa notícia, que só peca por tardia, a de que as universidades portuguesas vão passar a ser avaliadas por um júri internacional. Uma parte do trabalho das universidades, os seus centros de investigação, já o é há alguns anos. Não se compreendia que o ensino universitário não o fosse também. Mas não se pense, porém, que as universidades não eram já avaliadas, há alguns anos. Até agora, no entanto tratava-se de uma avaliação feita por uma comissão de avaliadores nacionais, composta por docentes de um mesmo curso, embora de outras universidades. Não escamoteando que existe competição entre os cursos ministrados em diferentes universidades, tal situação conduzia a que os cursos fossem avaliados por concorrentes. Não colocando em causa a objectividade de tais avaliações, haverá que reconhecer maior neutralidade a um "árbitro" que simultaneamente não faz parte daquele "jogo".

2. Aquela notícia revela ainda que o critério de empregabilidade dos cursos será um critério decisivo da avaliação. Uma vez mais, uma boa notícia, se em simultâneo se considerarem outros critérios, bem como a especificidade disciplinar de cada curso e a respectiva utilidade social, com base numa visão avançada dessa utilidade social e não a partir de uma qualquer tecnocracia de circunstância, economicismo ou "cientismo" baratos. A esse propósito revelava a notícia que medicina, enfermagem e medicina dentária, são cursos de empregabilidade total. Diríamos mais. Neste caso a percentagem de empregabilidade é "superior a 100%", sendo necessário importar profissionais de Espanha. Com os numerus clausus daqueles cursos em Portugal, não admiram tais taxas excedentárias de empregabilidade. Mas em compensação, não admira, também, que estudantes com média de entrada de 18 valores vão cursar medicina para o estrangeiro, apenas porque não tiveram vaga em tão "exigentes" universidades.

quinta-feira, novembro 24, 2005

Sobre a estratégia do silêncio

Como diria José Pacheco Pereira: "Tenham medo. Tenham muito medo", de quem opta por uma estratégia de silêncio, digo eu. É que o silêncio mata. Digo isto apenas para não recorrer a uma metáfora, em versão adaptada, sobre um animal que morde.

O sentido da homofobia

Não me incomoda nada que duas raparigas se beijem ostensivamente. Não enquanto houver pelo menos uma no mundo que me beija a mim, recatadamente.

A ver passar os aviões

Tenho andado arredado daqui. Mas declaro solenemente que não é por andar a fotografar aviões suspeitos em aeroportos sem suspeição alguma de compromissos com a maior divindade do país. Não ando por aí a ver passar os aviões. Talvez seja por isso que considero que ainda falta um estudo. Um estudo sobre as malhas que o sector imobiliário tece.

Uma causa que também é nossa

Há uma fonte de informação e opinião fundamental no país que agora comemora dois anos de existência. Confesso que se deixasse de existir me faria mais falta do que os jornais impressos que ainda leio. Por isso agradeço aos seus autores, e em especial a Vital Moreira, a perseverança numa causa que é também nossa.

Já falta pouco para descansarmos

"Estamos cansados de palavras sem conteúdo",

Jorge Sampaio, Presidente da República.

domingo, novembro 20, 2005

Matrix

Há quem esteja a rever pela enésima vez um dos filmes Matrix. Só não percebo por que não tem o comando da Playstation nas mãos.

Modelo social spaghetti

Escreveu, em tempos, Boaventura Sousa Santos que em Portugal, na ausência, ou debilidade, de um Estado-Providência, o seu equivalente funcional foi, e é, uma Sociedade-Providência. Julgo ser factualmente verdadeira essa tese. Essa "virtualidade" da sociedade portuguesa para se substituir ao Estado, na sua função de regulador social, não me parece ser, contudo, merecedora de regozijo. Bem pelo contrário. Trata-se de um factor do atraso e do atavismo nacionais. Ela denuncia a presença forte na nossa matriz cultural do "familismo" e do "amiguismo", operantes não apenas na providência face à pobreza e aos desfortúnios da vida, mas genericamente, na providência face a processos de ascenção profissional e social, gestão de carreiras e de trajectos de vida, compadrios, clientelismos e caciquismos. Um conjunto de factores socialmente tipificantes em que a sociedade portuguesa mais se afasta de regiões da europa onde o Estado Providência se institucionalizou e ganhou foros de estrutura fundamental de organização política das respectivas sociedades, sociedades efectivamente modernas. Inversamente, é através daquelas caracteristicas de "sociedade-providência" que mais nos aproximamos daquelas regiões da Itália em que a Camorra e a Máfia têm um peso determinante nas respectivas estruturas sociais.

sábado, novembro 19, 2005

Por que motivos faltam tanto os professores?

O tema de contestação mais mediatizado na greve e manifestação dos professores foi as chamadas "aulas de substituição". O modo como a medida de actividades de compensação das faltas dos professores foi recebida pelos mesmos diz tudo do sistema de ensino que temos. Em primeiro lugar diz-nos que o abstencionismo dos professores se transformou numa regra e não numa excepção, como seria normal. E isso deveria ser merecedor de reflexão e analise. Em segundo lugar diz-nos que uma tal medida não encontra eco num modelo de ensino que, por mais reformas de que tenha sido alvo, se mantém impermeável à mudança há décadas, para não dizer há mais de um século. Pelas mesmas razões que o conteúdo, a efectividade e a produtividade de espaços educativos como Estudo Acompanhado, Área de Projecto e Educação Cívica, são iguais a zero, na generalidade dos casos. Não admira, pois, que não saibamos trabalhar em equipa, construir um projecto de trabalho, ter educação cívica nas estradas. Em suma, que não saibamos organizar-nos com civilidade. Mas estou já a ouvir os resmungos dos que defendem ser a escola o lugar onde se deve ensinar Matemática, História e Português e ponto final. É para isso que a escola serve. Pois bem, e ao menos a esse nível, quais têm sido os resultados? O que se sabe... Talvez as causas desses maus resultados nas "matérias fundamentais" estejam nos motivos que levam à necessidade de compensar tanta falta dos professores. Nas razões desse abstencionismo reside a explicação para o estado das coisas em matéria de ensino.

sexta-feira, novembro 18, 2005

Todos eles são muito importantes

O problema fundamental do país não é a "falta de elites" ou a "falta de qualificações". O problema não é, também, como se julga frequentemente, a falta de auto-estima. Bem pelo contrário. O problema é mesmo o excesso de gente importante. Não me refiro aos vip, não. Falo do mediano português ou portuguesa, seja lá isso o que fôr. São todos muito importantes. Demasiado importantes. A estrutura social imaginária deste povo é, certamente, uma pirâmide social invertida, a avaliar pela elevadíssima auto-estima que por aí se vê. Não se governam, mas também não se deixam governar. Não faltava mais nada !

quinta-feira, novembro 17, 2005

Isto sim, é uma oposição responsável !

Repare-se no deleite com que os deputados da oposição, toda ela, estão a comemorar, felizes, esfregando as mãos de contentamento, as notícias da estagnação da economia, segundo as previsões do BdP e da CE.

Do PC ao Mac (revisto, como convém neste caso)

Por caminhos ínvios percebi, finalmente, a orientação de voto presidencial de tantos ex-pc's. Não votam no Manuel Alegre Socialista (Mas), mas sim no Manuel Alegre Cidadão(Mac):


"São anos e anos, muitas lutas, muitos sonhos, um sentimento quase familiar. Não se sai do PC de forma leviana. É uma decisão complexa e dolorosa. Mas eu tinha que sair. Estava desiludido, inquieto. Já não aguentava mais. E há três meses abandonei finalmente o PC. Custou um bocado, mas agora estou contentíssimo com o meu Mac."

Também eu nada percebo de economia e finanças

Se a economia não cresce, a produção de riqueza não cresce, as exportações não crescem e o desemprego cresce, como cresce, então, o consumo? Será apenas porque o endividamento cresce? Ou será porque a eficácia no combate ao crime económico também não há maneira de crescer?

"Nunca tenho dúvidas e raramente me engano"

Afinal não era suposto que Cavaco fosse o homem do rigor e do conhecimento da economia e das finanças? Como pode passar praticamente em claro um erro grosseiro destes? Cavaco terá anunciado na TVI que o número de desempregados ascenderia a 400.000 para o próximo ano. Ora, todos sabíamos que esse número já tinha sido largamente ultrapassado este ano. Infelizmente a estagnação da economia aí está a provar um crescimento do desemprego e o IEFP acaba de revelar que neste momento são já 487.730 os desempregados inscritos nos Centros de Emprego. Se assim é, até quem nada percebe de economia e finanças descortina que no próximo ano, numa conjuntura de estaganção económica, aquele número ultrapassará rapidamente os 500.000. Jesus Cristo nada sabia de finanças mas não cometeria, certamente, um tal erro. Não basta perceber muito de finanças a partir da torre de marfim da academia. É necessário, no mínimo, já não digo conhecer o país real, mas pelo menos ler os jornais. Mas Cavaco disse há muito que não os lê. Agora percebe-se.

sábado, novembro 12, 2005

É verdade

que as periferias de Paris são, provavelmente, o contexto territorial de toda a europa que mais tem sido, desde há décadas, alvo de estudos e projectos de integração social. Nessa medida, não sendo inéditos e nem sequer inesperados, os acontecimentos recentes interpelam o trabalho até agora desenvolvido e deverão originar uma profunda reflexão sobre as políticas públicas de integração aí prosseguidas.

La jeunesse n'est qu'un mot *

O culto da "juventude" (que na realidade não existe...) nas sociedades actuais - não por acaso tanto mais praticado quanto essas sociedades sejam sociedades etariamente envelhecidas - não seria preocupante se não tivesse subjacente, simultaneamente, a desvalorização do saber que pode advir da experiência acumulada. O que preocupa, de facto, é que, do mesmo passo, se está a promover a ignorância, em detrimento do saber.

* Texto de Pierre Bourdieu.

A média e a moda

O problema não é o que cada português bebe em média por ano. O problema é o que alguns bebem para que a média seja tão elevada. Ou seja, neste caso, o problema é claramente a moda. A moda é os que bebem muito, mas mesmo muito acima da média.

sexta-feira, novembro 11, 2005

A mandatária de Cavaco para a juventude disse:

(...)













(...)

Portugal telecomido

O princípio de que devem partir os bloggers que se queixam, com inteira razão, da velocidade real das suas ligações, ou da sua largura de banda útil, é que estão a falar de uma empresa do grupo tele come. A partir daí tudo é possível, inclusive velocidades de 25 Kb quando a contratada é de 4 Mb. Mas importa não esquecer que tal como a publicidade diz: "a partir de" -, por exemplo para o valor de uma mensalidade a pagar por um crédito automóvel, dependendo depois do valor do montante de entrada para a aquisição do veículo, nunca explicitamente referido na publicidade - também aqui se diz: "velocidade até 4Mb", o que não quer dizer que se chegue lá. Por vezes fica-se pelos 25Kb... Os restantes Kapas e Megas foram comidos pelo caminho e pela tele come. Dizem os entendidos que a distância entre o ponto de ligação (a casa ou escritório do cliente) e o nó mais próximo da autoestrada (nó de distribuição da rede), pode influir na velocidade. Dizem também os entendidos que a velocidade pode ficar próxima de zero se o número e grau de maldade de intrusões (trojans) no computador for elevado. Trata-se de bichesas mandadas para os nossos pc's quando navegamos na net. Alguns são "inofensivos", outros podem pilhar, apagar, espiar, o conteúdo das nossas vidas informáticas. Aquelas bichesas não são eliminadas pelos melhores anti-virus do mercado, exigem mesmo violência extrema para os liquidar, com arma apropriada. Uma delas, bastante eficaz, dá pelo nome de Spyware Doctor. Quem sou eu, para mandar bitaites informáticos. Ainda mais a quem trata os "baites" por tu. Em todo o caso, a empresa à qual contratei o serviço em causa, há alguns anos, disponibiliza aos clientes um aferidor de velocidade. Faço aí, com regularidade, os testes, bem como na ferramenta disponibilizada pela beltrónica, há algum tempo, e agora testei na maquineta divulgada pelo Tugir. Neste caso pude constatar uma velocidade de 1.52 Mb, quando a velocidade contratada é de 2Mb. Descontando os nós da autoestrada e os espiões que por ela viajam, parece-me haver direitos de consumidor a serem violados na solução tele come e noutras que por aí andam.

Declaração de desinteresse: Não tenho participação nos dividendos da vianetworks, mas até ao presente não tenho tido cortes de serviço frequentes como os que ocorrem com a NetCabo, nem diferenciais de velocidade assinaláveis e não resolúveis com o mata bichesas supra referido. De igual modo, o serviço de suporte ao cliente é rápido e eficaz.Eu cá não aceitaria continuar a ser, assim, telecomido...

quinta-feira, novembro 10, 2005

As injustiças da praxe nacional

Alguns sobreviventes da luta estudantil contra as propinas manifestaram-se hoje em Lisboa, engrossando o contingente da nova luta de classes que tem oposto os pobres e oprimidos deste país ao governo em exercício: farmaceuticos, polícias, militares, enfermeiros, professores, juízes. Em relação aos que lutam contra o pagamento de propinas quero sugerir que devido à indigência que os impede de pagar as propinas, deixem ficar o automóvel em casa, que a crise petrolífera não vai meiga e o passe social sempre é mais em conta para quem não pode pagar propinas. A vantagem seria o descongestionamento do estacionamento nos parques em redor dos estabelecimentos de ensino superior.

Declaração de interesse: tal opção implicaria que eu não tivesse de pagar estacionamento, passando a poder usufruir do estacionamento gratuito, agora superlotado, devido à enchente de automóveis dos indigentes que não podem pagar propinas.

A estupidez da praxe

Sempre achei reaccionária a ideia da ritualização das "tradições". A ideia de que as coisas são como são, "porque é da praxe". Quando as tradições nem sequer o são, então, as respectivas práticas são apenas estúpidas.

Cidadão global retro-activo

Ontem recebi um mail do Tribunal Eleitoral do Brasil informando-me que o meu cartão de eleitor tinha sido apreendido. Como não sabia que estava inscrito nos cadernos eleitorais do Brasil vou exigir agora votar retroactivamente. Quem sabe se não poderei influenciar o rumo dos acontecimentos políticos no Brasil, nos últimos anos.

quarta-feira, novembro 09, 2005

Há dias assim...

Hoje foi um dia de boas notícias.

Vale a pena lembrar

1. Que o país "modelo de integração dos imigrantes" é um país de motins urbanos recorrentes, protagonizados não por imigrantes, mas por "afro-americanos", na expressão, não inocente, de alguma literatura e media norte-americanos.

2. Que se o modelo securitário e policial fosse solução do que quer que seja, para lidar com a "desordem", a "criminalidade", o "vandalismo" e a "violência urbana", a sociedade norte-americana seria a mais pacífica sociedade do mundo e não teria as taxas de criminalidade que tem.

3. Que a segregação residencial possui as suas causas na lógica de funcionamento do mercado imobiliário e, no caso europeu, no facto do sector público, sobretudo municipal, ter entrado no jogo do mercado imobiliário - a par dos promotores privados - e aí desempenhar, com frequência, um papel passível de uma grande discussão do ponto de vista do que deveria ser o papel do poder público nas politicas inclusivas, integradoras e de coesão social e territorial. O debate sobre a "guetização" dos "bairros sociais" na europa terá de passar por aquela discussão.

sábado, novembro 05, 2005

Periferias

1. O que até agora se escreveu sobre os acontecimentos na periferia de Paris situa-se, do ponto de vista analítico, nesse espaço geográfico. Periférico. Ninguém ainda se interrogou, com seriedade e objectividade de análise, sobre o significado do lugar geográfico e social onde os acontecimentos ocorrem.

2. Medeiros Ferreira levanta a questão, contrapondo o lugar periférico dos acontecimentos actuais ao lugar central dos acontecimentos do Maio de 68. Eu acrescentar-lhe-ía que a centralidade social dos "vândalos" de "bandos organizados" de jovens do Maio de 68 e da respectiva "violência", justifica o lugar geográfico central daqueles acontecimentos e a existência de um projecto, ao contrário dos acontecimentos actuais, periféricos até na ausência de projecto e de sentido da violência dos "bandos organizados" dos "vândalos" da periferia.

3. Justificações ideológicas para os acontecimentos é o que mais se lê, quer por parte dos que deram em ver no "neo-liberalismo" a causa de todas as coisas, quer nos que se colocam no pólo oposto daquela perspectiva, reflectindo, qual espelho, o seu simétrico. Para estes, o problema não possui causas nas políticas de imigração, emprego, urbanismo, ou na sua ausência, mas sim numa mera questão de "vandalismo" e "barbárie" que se soluciona com o exercício, puro e simples, da autoridade policial.

sexta-feira, novembro 04, 2005

Estabilidade governativa

Fosse este MTV Awards realizado em Portugal há um ano e teríamos o primeiro-ministro de Portugal debaixo dos holofotes, aos pulos, ao lado de Madonna.

quinta-feira, novembro 03, 2005

quarta-feira, novembro 02, 2005

Causas globais: Proximizade

Proximizade

Proximidade e mão amiga. "Proximizade", feita do entusiasmo voluntário de quem quer ajudar a combater a apatia, a dispersão e a insensibilidade que nos ameaça se continuarmos indiferentes ao que se sabe e ao que se vê. Aqui, já está a acontecer.





Pessoas que precisam, invisíveis. E pessoas que têm muito para dar, quando não desperdiçam. Tempo, motivação, consciência. E dinheiro, também.

Entre este binómio, uma via de comunicação. A blogosfera, internet no seu melhor quando o que se escreve e o que se lê tendem a conjugar-se no verbo aproximar.

Dois mundos nos antípodas, um vítima dos excessos e outro à míngua das suas migalhas. Gente com fome, crianças, que sobrevivem apenas para ganharem forças para fugir à miséria. Rumo ao lado de cá, que os recusa.

A caridade já não basta e é necessária intervenção. Amizade em estado puro, reunida por gente que bloga em torno de um objectivo comum: fomentar a generosidade como uma urgência e canalizá-la para as melhores mãos (as mais necessitadas).

Proximidade e mão amiga. Proximizade, feita do entusiasmo voluntário de quem quer ajudar a combater a apatia, a dispersão e a insensibilidade que nos ameaça se continuarmos indiferentes ao que se sabe e ao que se vê. E ao que se deixa por sentir.

Nós sentimos assim. E acreditamos numa sociedade que quer sentir da mesma forma e intervir sem demora.

Aqui, já está a acontecer.

terça-feira, novembro 01, 2005

Terramoto - um novo blog de Rui Tavares

Um dos meus bloggers favoritos dos tempos do Barnabé, o Rui Tavares, criou um novo blog sobre o Terramoto de 1755, como complemento ao livro que acaba de publicar sobre o tema. Uma referência obrigatória, portanto, de ora em diante, na blogosfera.

O argumento contra a partidocracia

«E, se formos para as autárquicas, exemplos não faltam de como o eleitorado, cada vez mais, premeia as listas de “independentes” face às listas partidárias.»

Exemplos de listas de "independentes" premiadas pelo eleitorado:
- a lista do Major Valentim,
- a lista da Drª Fátima Felgueiras,
- a lista do Dr. Isaltino Morais.

Não premiado pelo eleitorado, desta vez:
- Avelino Ferreira Torres.

Mas quem sabe se com a vaga de fundo contra a "partidocracia" que por aí vai, este "independente" não verá, no futuro, a sua sorte mudar.

Resposta apenas ensaiada

O companheiro João Tunes ensaia uma resposta à minha solicitação de definição de cidadania, não para definir cidadania, mas tão só para ripostar a um outro post que aqui inseri e ao qual, pelos vistos, apenas responde agora. Numa espécie de prato frio. A verdade é que fico sem resposta em ambos os casos. No caso da demagogia que antes critiquei e no caso da bizarra noção de "cidadania exógena aos partidos" que agora solicitei me fosse definida. Mas não deixo de registar os belos exemplos de "alegre cidadania" que nos deixa. Destaco o do movimento em torno de Otelo Presidente. Uma espécie de cidadania, "ou és por nós, ou vais dentro", "fascistas para o campo pequeno" e etc. Por outro lado, outro exemplo de "cidadania", o partido do generalíssimo Eanes. O partido contra os partidos. Um epifenómeno que não deixou saudades à democracia e que agora defende, pois claro, uma cidadania com uma "presidência musculada". Quiça, uma coisa assim latino americana, tipo Hugo Chaves, Perón, ou coisa parecida. Finalmente, sustenta como exemplo os "independentes nas autárquicas". Neste caso é o paradigma da cidadania à Major Valentim, a chamada cidadania "fo**-se", à Ferreira Torres, a chamada cidadania "aos pontapés", ou a cidadania à Fátima Felgueiras, a chamada "cidadania responsável mas não parva", ou cidadania foragida à justiça. Que belos exemplos de "cidadania encenada", não haja dúvidas...

Adenda: Responde o JT a este post acusando-me de não ir à substância da questão. Na verdade não fui à substância porque dela não havia rasto na resposta do JT. Relembro que o ponto era o conceito de cidadania. Por esse motivo peguei nos exemplos dados pelo JT para deixar clara a minha perspectiva. E essa é a que defende não ser a oposição partidos versus cidadãos organizados fora dos partidos, uma boa oposição para a democracia, já que esta deve ter nos partidos uma base fundamental. Mas essa é uma discussão para a qual o JT não oferece argumentos que mereçam discussão. Pelo contrário, o JT prefere enveredar pelo ataque pessoal, chamando para ela quem não tinha de ser chamado, já que a minha questão sobre a cidadania não tinha necessariamente relação com a candidatura de Mário Soares, e aí obriga-me a encerrar esta discussão por se tratar de um nível ao qual não desço e muito menos reconheço ao JT, pessoa que nem sequer conheço pessoalmente, condições para sobre mim formular juízos de carácter.