O tema de contestação mais mediatizado na greve e manifestação dos professores foi as chamadas "aulas de substituição". O modo como a medida de actividades de compensação das faltas dos professores foi recebida pelos mesmos diz tudo do sistema de ensino que temos. Em primeiro lugar diz-nos que o abstencionismo dos professores se transformou numa regra e não numa excepção, como seria normal. E isso deveria ser merecedor de reflexão e analise. Em segundo lugar diz-nos que uma tal medida não encontra eco num modelo de ensino que, por mais reformas de que tenha sido alvo, se mantém impermeável à mudança há décadas, para não dizer há mais de um século. Pelas mesmas razões que o conteúdo, a efectividade e a produtividade de espaços educativos como Estudo Acompanhado, Área de Projecto e Educação Cívica, são iguais a zero, na generalidade dos casos. Não admira, pois, que não saibamos trabalhar em equipa, construir um projecto de trabalho, ter educação cívica nas estradas. Em suma, que não saibamos organizar-nos com civilidade. Mas estou já a ouvir os resmungos dos que defendem ser a escola o lugar onde se deve ensinar Matemática, História e Português e ponto final. É para isso que a escola serve. Pois bem, e ao menos a esse nível, quais têm sido os resultados? O que se sabe... Talvez as causas desses maus resultados nas "matérias fundamentais" estejam nos motivos que levam à necessidade de compensar tanta falta dos professores. Nas razões desse abstencionismo reside a explicação para o estado das coisas em matéria de ensino.
1 comentário:
Seria muito enfadonho retomar o equívoco gerado pelas aulas de substituição. Já se percebeu que este assunto foi contaminado para desviar os holofotes da opinião pública dos grandes problemas da escola. Há outras questões para debater: A escola insiste na sua tradição unidimensional quando ninguém ousa defender a “unidimensionalidade” da pessoa. A escola é uma organização “imutável” [as palavras são do Rui Canário] e nenhum governo ousa apontar uma mudança de paradigma. Esta escola não está preparada para abordar os problemas da inclusão e da diversidade.
Claro que é mais fácil afunilar a discussão disfarçando a falta de vontade em atacar os problemas estruturais: o parque escolar continuará a servir as necessidades de organização de uma escola do passado; a formação inicial de professores é um baldio de ideias onde poucos se atrevem a entrar; a formação contínua de professores não incorpora a inovação; o Ministério da Educação promete autonomia às escolas e reforça os mecanismos de controlo…
Esta caravana passa... e os médicos serão os próximos “bombos de festa”, digo eu.
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