Ao contrário do que diz
Pacheco Pereira, o conteúdo da entrevista de Morais Sarmento é para ser levado muito a sério. É certo que em Cavaco não se justifica o pendor revanchista no seu presidencialismo caudilhista e messiânico, como no seu correligionário Sarmento - que ainda não digeriu a varridela do poder que recentemente sofreu - mas isso apenas sucede porque em Cavaco a visão da política sempre consistiu no seu entendimento subjacente à visão que dela tinha Salazar: acima das lutas partidárias. Ela deve ser a arte da liderança individual de um homem só, iluminado e regenerador da Pátria sempre em perigo nas mãos ignóbeis de "políticos profissionais". A sua visão da política, a sua política e as suas políticas, sempre consistiram em colocar a render esse capital político que advém do discurso popular e populista contra os "políticos profissionais". É isso que o povo quer ouvir. Ou, pelo menos, é isso que Cavaco acha que o povo quer ouvir. Esta é uma ideia política. E não é exterior à política. Tem um nome e é extremamente nefasta para uma concepção verdadeiramente liberal e republicana da democracia. É fundamental, por isso, que todos os que partilham dessa concepção da democracia não embarquem em candidaturas ingénuas, de oportunidade político-partidária, ou pessoal, e votem em Soares.
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