sábado, outubro 29, 2005

O saldo negativo das migrações de cérebros

Concordo com o Rui Pena Pires que importa descontar o sensacionalismo e nacionalismo na notícia da fuga dos cérebros portugueses. Mas não será que o problema existe na medida em que o saldo entre saída e entrada de "cérebros" parece ser desvantajoso para Portugal? E não será esse facto um sinal da fraca capacidade nacional, não digo para a retenção desses "cérebros", mas para a atracção de "cérebros" independentemente da sua nacionalidade? Creio ser crescente o número de jovens que emigra (antes de "serem cérebros") para a obtenção de qualificações graduadas e pós-graduadas. Até aí tudo bem. Esse é, por si mesmo, um sinal positivo. Mas o facto de muitos deles (serão a maioria deles?) não regressarem, não será um sintoma da falta de oportunidades e expectativas de melhor futuro em Portugal e da escassez do desenvolvimento do país, face às exigências desses jovens, crescentemente informados sobre as oportunidades profissionais e de vida noutros paises? Por outro lado, não será que a parcela de mão-de-obra altamente qualificada do contingente proveniente dos países de Leste - além de ser ignorada nas suas qualificações, por razões corporativistas mas também porque o país não reune, no seu tecido económico e mercado de emprego, capacidade de absorpção dessa mão-de-obra qualificada - é um contingente em decréscimo à medida que se iniciam processos de acelerado desenvolvimento das respectivas economias, agora que muitos deles aderiram ou estão a preparar-se para aderir à UE? A serem positivas as respostas a estas questões, o problema parece existir, de facto, e possuir a sua origem na debilidade estrutural da base económica nacional e na fraca modernização do nosso aparelho estatal e da nossa estrutura empresarial. Ambos desajustados face às novas exigências do mercado de emprego global no que aos sectores económicos e profissionais mais qualificados diz respeito. Reverter esta situação é, parece-me, tarefa para algumas décadas. Enquanto isso corremos o risco de perder um comboio em andamento e em alta velocidade.

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