quarta-feira, abril 20, 2005

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PORQUE NÃO SOU ATEU

O companheiro João Tunes, ao que parece, enfiou a carapuça da minha referência à obsessão do ateísmo militante com a Igreja. Não me referia a este lugar, onde não tenho lido nada que se assemelhe ao fundamentalismo ateu que existe em outras paragens. Até partilho do humor que ali se inscreve, por vezes, a propósito das questões eclesiásticas. Mas algumas passagens do texto do João Tunes merecem-me outras tantas questões. Então não posso eu considerar-me agnóstico, se entendo por agnosticismo uma postura descrente em relação à prática religiosa e à fé divina? Sim, por motu próprio, pois claro. Ou será que são os outros a decidir das minhas crenças ou descrenças? Não é verdade que a eleição do Papa diz apenas respeito à Igreja? Ou, porventura, fomos nós leigos chamados a decidir sobre tal matéria? E deveríamos sê-lo, tanto mais que não partilhamos da mesma fé? Como poderia eu invocar a não importância do acto, ou falar de uma Igreja abstracta, se referi que me interessa a dimensão política dos resultados da eleição e sei bem a influência que a Igreja, e o seu Papa, têm no mundo? O que sucede é que não sou, ao contrário do João Tunes, opositor da intervenção da Igreja no mundo. Mas também não me coíbo de ter uma perspectiva crítica do seu papel social e político. Nem nunca poderia, obviamente, negar tal coisa aos que se consideram ateus. O papel da Igreja no mundo tem tido sentidos muito variados ao longo da História e em cada contexto preciso. É contraditório e, portanto, não passível de um julgamento sumário e linear. Não se trata de um "voto em branco", ou de “indiferença perante a Igreja”, católica em particular, e muito menos de uma atitude acrítica face à sua História, ou face ao seu conservadorismo, ou mesmo reaccionarismo, quando ele existe, por oposição a uma implacabilidade face ao ateísmo. O que julgo é que não podemos ter uma visão generalizadora, necessariamente reduccionista, do clero, da religiosidade, do catolicismo em particular e muito menos da intervenção da Igreja na sociedade. Bom seria podermos contar com uma intervenção semelhante, àquela que verificamos por parte da Igreja, complementar, ou de contraponto, por parte de outros sectores da sociedade, ao nível do exercício da cidadania, da solidariedade social, da participação cívica. O que infelizmente escasseia, nomeadamente neste nosso país. O que condeno é que, não por acaso no mesmo terreno do branqueamento desse lado da Igreja católica encontremos o anti-clericalismo primário e os julgamentos pré concebidos - porque os considero de intolerância de sinal simétrico àquela que a Igreja teve, não raramente na História, e por vezes continua a ter, como já tive oportunidade de manifestar aqui. Essa é uma postura fundamentalista de um certo ateísmo militante, protagonizado com frequência por quem faz, ou fez ao longo da sua vida, a defesa do totalitarismo ideológico, parente próximo daquele ateísmo militante, e que eu não reconheço no blog do João Tunes.

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