terça-feira, março 08, 2005

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E A GLOBALIZAÇÃO ? O QUE NÃO É?

Leituras mais apressadas do significado dos processos de globalização levarão alguns a tomá-la como o que agora se está a passar na costa oriental de África. Ao que parece o tsunami, ao revoltar o fundo do mar naquela região, terá trazido para a costa da Somália os lixos tóxicos que ali foram depositados, porventura há dezenas de anos, estando a afectar a saúde das populações ribeirinhas daquele país africano, começando a registar-se um elevado número de mortes e doenças provocadas pelo lixo dos países industrializados que após a primeira tragédia vem agora dando à costa no que poderá constituir-se numa segunda tragédia: as ondas de efeitos ambientais do maremoto naquela região do globo. Do mesmo modo, dirão outros que a presença de um português e, pela primeira vez na história, de um indiano, na fórmula um, é igualmente um efeito da globalização. Não é verdade. Muito embora estejamos em presença de factos que remetem para a internacionalização dos riscos ambientais, num caso, e circulação global de pessoas, símbolos e capitais, no outro; não estamos em nenhum deles em presença de algo absolutamente novo, e decorrente dos processos de globalização, que mais recentemente marcam a generalidade dos modos como se vêm organizando as sociedades e as economias mundiais. O menosprezo do capitalismo global pela existência humana que habita a sul do equador (e não só) é muito antigo. Pelo menos tão antigo como a presença de um português na fórmula um. Lembro-me disso, nos tempos em que eu me deliciava com a estética que advinha das máquinas Lotus patrocinadas pelos cigarros John Player Special, naquele preto e dourado, conduzido pelo brasileiro campeão do mundo Emerson Fitipaldi. Já nesse tempo o Brasil era um país com a cabeça no ano 2000 e os pés na Pré-história. Já nesse tempo pela fórmula um passou um português, sem deixar grande memória. De seu nome, Mário Cabral. Conhecido no meio como Nicha Cabral. Tem pois, inteira razão o Miguel Cabrita. O facto de haver "um português lá pelo meio - ou melhor, lá para trás", não quer dizer nada mais do que a nossa pequenez no grande circo global que também é a Fórmula Um. Porventura outro não será o lugar do cidadão indiano e a passagem da Índia por esse grande circo global. E assim é desde muito antes do que agora se chama globalização.

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