Os portugueses são um povo fantástico. São o povo mais asseado do mundo. No seu pequeno mundo, a sua casa, a sua família, o seu ego, não há mácula. São de uma alvura que impressiona. Só têm um problema, é a relação com o "outro". Mas o "outro", para os portugueses, antes de ser o "estranho cultural", o de outras geografias, é o que está logo ali ao seu lado, o seu vizinho, o seu colega, aquele que caminha ao seu lado na rua, na fila do trânsito. Os portugueses preocupam-se extremamente com a higiene da sua casa, por isso sacodem as migalhas do pão e os restos do almoço para as varandas dos vizinhos. Porque os vizinhos são o "outro" e esse não existe para eles. Os portugueses defendem como nenhum povo os seus interesses individuais e das suas famílias mas não se lhes pode pedir que vejam além disso, porque o seu mundo acaba logo ali, à porta do seu pequeno mundo que é a sua casa, o seu umbigo. Os portugueses defendem e exigem um mundo melhor para todos. Por isso dão facilmente aos que precisam aquilo que eles já não precisam, aproveitando para fazer umas limpezas lá em casa. Sempre é mais algum lixo que vai para "o outro". Os portugueses comovem-se facilmente com a miséria alheia. Mas gostam de a ver ao longe, de preferência pela televisão, porque por esse meio a realidade é só meia realidade. É distante e confunde-se com a ilusão. O que não podemos pedir aos portugueses é que partilhem o seu mundo com o "outro" e muito menos que partilhem com o "outro" um esforço colectivo para construir um mundo melhor, ou sequer um país melhor. Pedir-lhes que não sacudam a toalha, com migalhas de pão e restos do almoço, do seu pequeno mundo para o mundo do "outro", é pedir-lhes demasiado.
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