quarta-feira, junho 29, 2005

Caminhos Ínvios

E quem me mandou a mim meter-me por estes caminhos? Olhem, vou regressar aos meus, de onde não deveria nunca ter saído. O blogue, este, acaba aqui. O outro virá, um destes dias, por aí...

terça-feira, junho 28, 2005

PSD/CDS Podes Vir, PS Enfim Morto

E ainda há quem duvide que para a esquerda do PCP e do BE, o PS é o principal adversário. Que o PSD e o CDS têm naquelas forças partidárias os seus principais aliados. [Afinal as alianças PCP/PSD e PSD/PCP (conforme a conveniência) que julgávamos espúrias, em algumas autarquias, são a coisa mais lógica e natural que imaginar se possa]. O PCP mobiliza os seus sindicatos mais activos e eficazes, como tão bem o sabe fazer. Mas o BE que não domina os sindicatos não quer ficar atrás. Vai daí o BE organiza acções de formação aos jovens para a agitação de rua, "treino para a desobediência civil". Imagina-se que também ensinarão a fazer o seu cocktail molotov, utilização de matracas e por aí fora. Renasce a "democracia popular", a revolução está na rua. O PREC está de volta. PSD/CDS podes vir, PS enfim morto.

Nota: Notícia lida no Água Lisa e no Causa Nossa

Lamentável Trapalhada

As justificações do ministro das finanças não convencem ninguém. O que se passou com o Orçamento Rectificativo é uma lamentável trapalhada. É tanto mais lamentável quanto o primeiro-ministro, horas antes, havia afirmado a diferença deste governo face aos anteriores e, nomeadamente, face ao "embuste do orçamento do governo anterior", o governo campeão das trapalhadas. É inaceitável que alguém com o crédito do actual titular da pasta das finanças, tenha feito lembrar os tempos de má memória do breve (mas para o país, infelizmente, demasiado longo) consulado do Playboy da política nacional.

Este País Não Existe

Neste país são aprovadas legalmente garagens subterrâneas onde, na respectiva rampa de acesso, os automóveis ao circularem são impedidos de o fazerem por tocarem no chão ficando com uma das rodas completamente no ar. São aprovadas pontes de um declive tal que impede a circulação de qualquer veículo. Seria cómico se não fosse absurdo. Agora, uma via rodoviária que atravessa uma pista de aviação (!) seria cómico se não fosse trágico. Este país não existe. Neste país o surrealismo é a sua própria realidade.

segunda-feira, junho 27, 2005

O que é que tem o Barnabé que não é diferente dos outros?

O fenómeno blogos é bem o reflexo dos tempos que vão correndo. Voláteis, feitos de transitoriedade, simulando centralidade onde apenas há a sua ilusão, mas também democratizando o reconhecimento público, por vezes. Eis tudo o que são os blogues. Um espaço apenas virtual, mas também feito de virtualidades. O sucesso de anónimos blogues feitos de relatos simples das pequenas coisas do quotidiano, a par do relativo insucesso de outros, com autores de reconhecido mérito no universo dos mass media . Mas também, por vezes, o reforço do reconhecimento de sucesso aos que já o possuiam no campo dos media tradicionais. Um universo complexo e contraditório, exactamente como o universo real dos tempos actuais. Um caso de sucesso, entre os blogues nacionais foi o Barnabé. Dois dos seus autores foram, durante muito tempo, os principais dinamizadores daquele sucesso. Com estilos diferentes, o Rui Tavares e o Daniel Oliveira constituíram-se, a meu ver, em dois dos principais "profissionais" da blogos nacional. A usura do tempo parece ter sido implacável. Aqueles dois bloggers, para não falar nos restantes "barnabitas", foram denotando o inevitável cansaço de um militantismo diário da blogosfera, extremamente exigente. Optaram, como solução, pela renovação do plantel. Mas o Barnabé não conseguiu evitar uma dinâmica regressiva a que já havia começado a ceder. Agora, o Daniel despede-se em ruptura com o blogue que ajudou a fundar. O Rui Tavares foi perdendo o fôlego blogoprodutivo de outros tempos e resta saber se resistirá. O Barnabé é apenas uma sombra do blogue que já foi, e tenho pena que assim seja. O que é que tem o Barnabé que não é diferente dos outros? Num tempo em que os debates sobre a blogosfera começam a estar em voga, aqui fica o desafio para um debate de balanço dos primeiros anos do fenómeno blogos.

domingo, junho 26, 2005

BlueInGreen



Miles Davis e John Coltrane

Bom fim-de-semana !

sábado, junho 25, 2005

Dois anos de Terras do Nunca

Nesta data querida, desejamos-lhe muitos anos de vida. E para que não se fique atrás dos seus companheiros de espera nos semáforos, aqui vão as nossas oferendas:


O Bê-éme




e o Gel para o cabelo



Shape & Lift Volumizing Gel
Beautifully styled hair that moves naturally.

sexta-feira, junho 24, 2005

Declaração de Desinteresse

Para os devidos efeitos declaro pensar que existem muitos bons professores no nosso sistema educativo que empenhadamente exercem, muitas vezes em contextos de grandes constrangimentos, a sua profissão. As escolas precisam de mais investimento a muitos níveis. Desde os materiais escolares às próprias instalações. Essas carências são, tal como o empenho e qualidade dos docentes, desiguais na sua distribuição pelo território nacional. Precisam, também, de melhor gestão dos recursos. Em nenhum dos casos se deve generalizar. O sistema educativo e os professores, dentro dele, deveriam ser alvo de uma permanente e profunda reciclagem pedagógica, no que concerne a metodologias de trabalho e formação aos mais diversos níveis. O sistema deveria ser capaz de premiar os bons desempenhos, de modo a que os bons professores não tivessem que recear, mas antes apoiar, as medidas certas para a melhoria da qualidade e justiça social do sistema educativo. Finalmente, em relação a este governo, como em relação aos restantes, não tenho nenhuma ideia apriorística, nenhuma objecção de princípio, nenhum preconceito partidário. Nunca fui filiado em qualquer partido. Logo, nunca precisei de me desfiliar. Assim sendo, não alimento ideias pré-concebidas em relação a nenhum governo. Muito menos em relação a um que tenha um número tão elevado de pessoas sem filiação partidária, sem carreira feita dentro, e à custa, do respectivo partido. Limito-me, pois, a aplaudir o que julgo serem boas medidas e um rumo correcto (do meu ponto de vista, obviamente) e a criticar aquelas que entendo serem merecedoras de crítica (na minha, sempre limitada, opinião, pois claro).

A Diferença

está num governo que até agora tem governado e outros que apenas desgovernaram. O governo respondeu aos "conflitos sociais", pré-fabricados, com medidas simples mas fundamentais na área da educação. O aumento do horário escolar no 1º ciclo é uma delas. O decréscimo das autorizações para isenção de horários por motivos de actividades sindicais de 1327 docentes, para 450, é outra. Finalmente, a apresentação das listas de professores duas semanas antes do previsto, sem trapalhadas, como se viram obrigados a reconhecer já os sindicatos. Enquanto uns procuram motivos para a contestação, alimentada apenas por interesses de legitimidade duvidosa, o governo responde com trabalho e trabalho sério.

Memorandum para Pacheco Pereira

Pacheco Pereira gosta de argumentar com uma suposta falta de memória e de má-fé por parte da esquerda. Pois o argumento de autoritarismo e pretensão de deslegitimar os conflitos sociais, por parte do governo em exercício, o que é? Precisa JPP que lhe lembremos os inúmeros casos de demonstração de autoritarismo, aí sim, por parte dos governos do seu guru Cavaco Silva? E lembrar-se-á JPP da postura da sua muito querida dama de ferro Manuela Ferreira Leite, quando ocupou a pasta da educação e foi intransigentemente autoritária face aos professores e aos seus sindicatos, demonstrando o maior desprezo pela "legitimidade dos conflitos sociais" e pelo "direito à greve"? Mas JPP finge, neste caso, que não vê aquilo que ele vê como ninguém, isto é, a mãozinha reaccionária do PC por trás destes “conflitos sociais”, que não são conflitos sociais mas sim manobras de agit-prop como só o PC sabe montar (embora desta feita sem grande sucesso). Trata-se, isso sim, de resistência à mudança e antagonismo a qualquer reforma que se queira introduzir para mudar um status quo do qual os sindicatos, e os seus dirigentes, retiram vantagens políticas. Lutas sindicais não são, necessariamente, conflitos sociais, como bem sabe JPP. Portanto, neste caso, como noutros, Pacheco Pereira faz muito bem, e sub-repticiamente, o jogo do PC, porque isso lhe convém para alimentar o seu antigo ódio de estimação à presença do PS no exercício do poder.

quinta-feira, junho 23, 2005

País Rasca

Polícias, em manifestação, entoam um remix do "Não pagamos, não pagamos" e simulam um funeral de um boneco fardado (as fardas já perderam toda a carga simbólica?) com alguns mascarados de padres.

O presidente da república (anos depois de ter deixado cair o seu "pá") discursa livremente, como se estivesse no Fórum TSF e fosse um taxista, desses bem informados que colocariam ordem nisto e descobriram há muito a verdade que todos nós ainda desconhecemos.

Senso Comum: Demonstração Empírica

Que pensar de uma manifestação de polícias que carregaram sobre os estudantes que naquele mesmo sítio, há uns anos, gritavam: "não pagamos! não pagamos!", agora, usando a mesma entoação, gritam: "não às multas! não às multas!"?

E Agora Um Pouco de Senso Comum

Os portugueses são um povo fantástico. São o povo mais asseado do mundo. No seu pequeno mundo, a sua casa, a sua família, o seu ego, não há mácula. São de uma alvura que impressiona. Só têm um problema, é a relação com o "outro". Mas o "outro", para os portugueses, antes de ser o "estranho cultural", o de outras geografias, é o que está logo ali ao seu lado, o seu vizinho, o seu colega, aquele que caminha ao seu lado na rua, na fila do trânsito. Os portugueses preocupam-se extremamente com a higiene da sua casa, por isso sacodem as migalhas do pão e os restos do almoço para as varandas dos vizinhos. Porque os vizinhos são o "outro" e esse não existe para eles. Os portugueses defendem como nenhum povo os seus interesses individuais e das suas famílias mas não se lhes pode pedir que vejam além disso, porque o seu mundo acaba logo ali, à porta do seu pequeno mundo que é a sua casa, o seu umbigo. Os portugueses defendem e exigem um mundo melhor para todos. Por isso dão facilmente aos que precisam aquilo que eles já não precisam, aproveitando para fazer umas limpezas lá em casa. Sempre é mais algum lixo que vai para "o outro". Os portugueses comovem-se facilmente com a miséria alheia. Mas gostam de a ver ao longe, de preferência pela televisão, porque por esse meio a realidade é só meia realidade. É distante e confunde-se com a ilusão. O que não podemos pedir aos portugueses é que partilhem o seu mundo com o "outro" e muito menos que partilhem com o "outro" um esforço colectivo para construir um mundo melhor, ou sequer um país melhor. Pedir-lhes que não sacudam a toalha, com migalhas de pão e restos do almoço, do seu pequeno mundo para o mundo do "outro", é pedir-lhes demasiado.

Pois...

Agora são as polícias.

terça-feira, junho 21, 2005

Interesses de Legimitidade Duvidosa

Não conhecia os números, mas conheço os sinais exteriores, não de riqueza mas de um muito razoável nível de vida, tendo em conta a média salarial nacional. E não acho mal que os professores sejam bem remunerados. O que acho mal é que num contexto de restrições, ao primeiro apelo a um esforço nacional para salvar o país de uma situação catastrófica em termos financeiros, os senhores professores sejam os primeiros a mostrar falta de sentido pedagógico, para não dizer falta de sentido solidário e colectivo (além do costumeiro corporativo). Como toda a gente sabe, o ensino tem problemas sérios, mas esses não são de natureza salarial e muito menos de injustiça relativa dos salários auferidos pelos professores. Só um corporativismo antagonista do desenvolvimento e do interesse colectivo do país pode pretender fazer crer o contrário, em defesa de interesses de legitimidade muito duvidosa.

segunda-feira, junho 20, 2005

A Complexidade do Problema que Desaguou na Praia (1)

O país tem sido, nos anos mais recentes, confrontado com o problema da delinquência juvenil protagonizada por jovens de origem africana, que são na sua esmagadora maioria representantes do que se convencionou, embora erradamente, chamar de “imigrantes de segunda geração”. Trata-se, de facto, de indivíduos nascidos em Portugal, filhos de imigrantes de origem africana. Sucede, em relação a esta questão, o que é hábito suceder em relação a outros problemas sociais graves que temos em germinação no país. Os portugueses apenas acordam para o problema quando os seus efeitos se manifestam. Referimo-nos aos media e ao poder político, em particular. Diversos especialistas têm chamado a atenção para os riscos sociais que se estão a correr, com a ausência de políticas correctas e eficazes para fazer face àqueles riscos, e cujos factores de disrupção social se vão acumulando, até que a violência e a conflitualidade social, atinjam a fase de erupção. Já muito foi dito e escrito sobre esta questão, do que subtraímos o alerta feito, nomeadamente, por Pacheco Pereira sobre o tratamento mediático dos acontecimentos. Salvo honrosas excepções, um tratamento que se caracteriza precisamente, pela escassez de tratamento dos acontecimentos e, com frequência, pela análise sensacionalista baseada nos estereótipos sociais, sem objectividade, ou melhor dito, com uma intencional subjectividade. Por outro lado, já se enfatizou também a necessidade de não racializar o problema da delinquência juvenil, na medida em que não há comportamentos sociais endémicos a uma determinada “raça”. A delinquência juvenil existe, também entre nós, independentemente da pertença “racial” dos seus protagonistas. Bruno Sena Martins e, de modo mais aprofundado, Rui Pena Pires, têm chamado na blogosfera a atenção para isso. O que de específico existe, quanto às causas, no caso da delinquência protagonizada por jovens de ascendência imigrante, reside sobretudo em dois factores: (i) Uma incapacidade e impreparação do poder político e das instâncias de controlo social para lidar com o problema e (ii) a complexidade do problema, em termos identitários, de socialização e de integração social. Uma questão elementar que revela a incapacidade, ou ausência de vontade política para contrariar o problema reside numa visão ultrapassada de critérios de atribuição da nacionalidade portuguesa que deixa de fora indivíduos que nasceram em Portugal e que permanecem cidadãos "estrangeiros na sua própria terra", como bem salienta RPP. Este é um primeiro passo para negar direitos de cidadania a uma grande parte daqueles jovens e promover a sua exclusão. E é aqui, na exclusão social, que reside o cerne desta questão. Talvez seja útil esclarecer que exclusão social e pobreza não são sinónimos. Embora haja também situações de pobreza – carência de meios necessários para fazer face à sobrevivência acima de determinado limiar tido como razoável – não é por aí, fundamentalmente, que encontraremos as causas para o problema. Essas residem, sobretudo, nos factores de exclusão a que aqueles jovens estão sujeitos. Por exclusão social devemos entender o afastamento da participação dos cidadãos dos mais diversos níveis de exercício de direitos e deveres de cidadania. A exclusão social é uma condição social que aqueles jovens partilham com muitos outros cidadãos nacionais, jovens e adultos, em que se revela, inclusive, uma incapacidade de organizarem, com sentido de responsabilidade, as respectivas vidas, de construírem um projecto de vida, com objectivos a alcançar que não sejam a imediata sobrevivência. É, no entanto, certo que em muitos casos, a manifesta incapacidade para organizarem a própria vida determina níveis extremos de desordem pessoal, que vão até à incapacidade para o seu auto sustento. O que os estudos de terreno têm revelado, a este nível, é uma desordem pessoal e social de um grau tal que permite refutar, com razoável grau de certeza, a justeza da utilização da noção de gang, o qual exige um nível de organização da delinquência, da violência, dos grupos que as protagonizam, e um nível de lideranças relativamente estáveis, incompatíveis com a frequente desordem pessoal e social extremas destes jovens.

domingo, junho 19, 2005

Coisas Monstruosas

Em 1975, em Angola, um criminoso comum, de seu nome Jonas Savimbi, organizava manifestações-comício monstruosas, mobilizando muitos milhares de pessoas que fazia transportar por dezenas, ou mesmo centenas, de camionetas, de todo o sul do país para a cidade onde tal comício tivesse lugar. Nesses comícios, idolatrava-se o grande líder e procedia-se ao culto da sua personalidade. Nas urnas de voto, sairia derrotado. E se assim não fosse, não deixaria, por isso, de ser o que foi: um criminoso comum.

Como de Costume

aí estão as greves mais injustificáveis sempre que é o PS que está no governo. Já aqui o escrevi. O partido comunista, através dos sindicatos, mobiliza-se mais para a luta, perante um governo PS do que perante os governos do PSD. O partido socialista continua a ser o seu arqui-inimigo. Agora, porém, o PS tem também que se defrontar, simultaneamente, com a resistência das corporações: os professores e os juízes para já. Pelo menos os primeiros, sustentados nas suas resistências à mudança pelo PC, através do seu "braço armado", os seus sindicatos.

sexta-feira, junho 17, 2005

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AVIZ: UM MESTRE NA BLOGOSFERA

Faz dois anos o Aviz. É um blog de referência e um eleito aqui do FC. É também um Mestre, o de Aviz, na arte de bem escrever e no saber pensar. Saúdo, pois, o FJV e, da minha parte, agradeço-lhe a oportunidade de o ler, também na blogosfera.

quinta-feira, junho 16, 2005

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MADNESS

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DÚVIDA CARTESIANA (2)

Se uma autarquia comunista apenas edifica bairros sociais em terrenos municipais de baixo valor fundiário (porque periféricos, sem acessibilidades, sub-equipados), promovendo a guetização das respectivas populações, ao mesmo tempo que participa no jogo do mercado imobiliário com os terrenos municipais bem cotados nesse mercado (porque centrais, com boas acessibildades, próximos dos equipamentos e serviços); revela uma grande rigidez estratégica mas uma enorme flexibilidade táctica?
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DÚVIDA CARTESIANA

O modelo chinês na sua adesão ao sistema económico capitalista, mantendo um regime político autoritário de partido único, revela uma profunda rigidez estratégica mas uma grande flexibilidade táctica?
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A PRAIA E O MUNDO

Depois dos acontecimentos na praia de carcavelos, há quem demonstre preocupação, sobretudo, com a imagem mediática que se passou de Portugal no estrangeiro e as implicações que daí poderão advir para o turismo. A solução para esse problema é, no entanto, bem mais simples do que a solução para o problema que originou os acontecimentos da praia de carcavelos. Que tal a reposição imediata da censura em situações futuras? Podemos continuar a ter problemas sociais gravíssimos, mas desde que isso seja desconhecido internacionalmente, salvamos a indústria turística.

terça-feira, junho 14, 2005

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AOS QUE SE ACHARAM DESENCONTRADOS COM A HISTÓRIA

Não. De facto a História não chegou ao fim. Mas também não voltará atrás. Talvez seja dramático para vós. Mas é assim, implacável, a História.

segunda-feira, junho 13, 2005

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LEMOS, OUVIMOS E REGISTAMOS

"Aconteceu a Eugénio de Andrade o que aconteceu a Prokofiev que morreu no mesmo dia de Stalin"

Eduardo Lourenço, entrevista telefónica para a Sic-Notícias.
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MIL NOVECENTOS E TREZE

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VÉSPERA DA ÁGUA




Nunca o verão se demorara
assim nos lábios
e na água
- como podíamos morrer,
tão próximos
e nus e inocentes?
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REALMENTE UM BOM PRESIDENTE

O João Paulo Pedrosa é um antigo comentador residente aqui do FC e de outros blogues, entretanto pouco assíduo, devido a outros projectos, pois vai em Outubro candidatar-se a presidente da Câmara Municipal da Marinha Grande. O que penso da sua candidatura, já lho disse. O João Paulo Pedrosa é um homem sensato e com a cabeça bem organizada. Sabe bem qual o caminho em matéria política. Capaz de bom humor aqui nos blogues, sabia também evidenciar uma capacidade de análise correcta, a meu ver, da generalidade das questões políticas e sociais que neste contexto se afloram. Parece-me, por isso, que seria uma boa escolha para os eleitores da Marinha Grande. Se eu vivesse por lá, votava nele para presidente da autarquia. E o que desejo é que os eleitores da Marinha Grande decidam maioritariamente nesse sentido. Força João Paulo!

Post-scriptum: embora exagerados, agradeço os elogios do JPP ao prof.
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CANHOTOS

Agora a coisa complicou-se. E antes que venha a ser descoberto, como já me aconteceu com um relativo do País do mesmo nome (entretanto encerrado para outras obras), cá vai: Se os autores do novo blogue tiverem a necessária paciência para a imprescindível disponibilidade que um blogue na lógica do Canhoto exige (o que, aqui entre nós, eu duvido), vamos ter debate vivo e renovado na blogos. Até agora, o blogue "é a cara" de um dos bloggers, sobretudo. Mas se o projecto vier a ter a continuidade desejável, teremos equipa para mais um blogue de referência da blogos nacional. Por agora, quero dar aqui as boas vindas aos Canhotos. O resto desta conversa segue nos intervalos das reuniões, à hora do café, ou no corredor, à porta dos gabinetes.
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DUAS DÚVIDAS E UMA CERTEZA

1. Qual o método utilizado para a contagem das cinco centenas de jovens que televisões e jornais dizem que invadiram a praia de carcavelos?

2. Quantos polícias vão ser colocados nas praias da região de Lisboa e do Algarve para "resolver" o problema da integração plena daqueles jovens na sociedade portuguesa?

3. O que se passou em carcavelos é apenas mais um sinal, entre outros, que os portugueses e os responsáveis políticos, em particular, persistem em não querer ver. O policiamento, sobretudo preventivo, é uma medida elementar que já deveria ter sido tomada, de forma planeada, sobretudo na região de Lisboa, mas os nossos responsáveis políticos persistem em não querer ver, sequer o elementar. Como poderão querer ver as reais causas do problema?

sexta-feira, junho 10, 2005

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YOU SAY IT BEST

domingo, junho 05, 2005

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EU GOSTO É DO VERÃO

Paul Klee(1879-1940)

sábado, junho 04, 2005

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LATE NIGHT BLOGS

Não sei o que se terá passado, mas de repente vi este pobre blogue visitado por três dezenas de almas. Por momentos pensei: "Foi desta, o Abrupto linkou o FC" ! Nada disso, tratava-se de uma súbita enchente, não sei por que razão, de porno-blogs internacionais. Juro que não andei a pesquisar nada pela Net. Estive aqui sossegado a ler os meus blogs eleitos e o mais pornográfico que encontrei foram os pensamentos íntimos do Dr. Salazar, aqui. Mas que estes porno-blogs exageram, disso não há dúvidas. Vá lá, pessoal, deixem-se de brincadeiras.

sexta-feira, junho 03, 2005

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27 DE MAIO DE 1977 (2)

Excertos de uma entrevista a Jean-Michel Mabeko Tali (Professor universitário, Historiador e Escritor), que pode ser lida na íntegra aqui.

«Foi no Congo que tomou contacto com militantes do MPLA. Nunca foi simpatizante do movimento?

O meu encontro com o MPLA teve lugar em Brazzaville, por intermédio de amigos Angolanos. Sou de uma geração (anos70) politicamente muito engajada, que se sentia solidária com todos os povos em luta e com todas as lutas de libertação do mundo, da África à Ásia e América Latina. Os povos de Angola viviam isso, através dos movimentos. O MPLA, sediado em Brazzaville, era para nós, representante desta luta. Fizémos o que pudémos para manifestar a nossa solidariedade ao povo angolano através do MPLA. Neste sentido, fui de uma geração solidária e, portanto, simpatizante da luta de libertação feita pelo MPLA. Não sendo Angolano, as minhas manifestações de simpatia limitavam-se a esse nível.

Como conheceu e se tornou íntimo da família Lara?

A relação com os Lara fez-se através de uma longa história de amizade entre eu e Paulo, amigo de colégio e, primogénito da Ruth [Rosenberg Lara, nascida em Lisboa, filha de judeus alemães militantes comunistas exilados do nazismo] e do Lúcio, em Brazzaville, nos fins dos anos 60. Tornámo-nos como que irmãos.

(...)

A que se ficou a dever o 27 de Maio?

Vou resumir aqui o que explico no livro: o 27 de Maio de 1977 é o culminar de contradições cujas origens devem ser procuradas desde a luta de libertação nacional por um lado e, nos rescaldos das lutas e aspirações sociais herdadas da sociedade colonial angolana. Nito Alves foi um combatente de uma região que pagou caro a sua proximidade com a capital da colónia. O seu contacto com a direcção do MPLA passou-se praticamente no fim da guerra. Ele como outros da Primeira Região, tinham claramente feito entender a sua diferença quanto à visão que tinham não só da forma como a luta foi dirigida (e nisto peço para lerem a mensagem da Primeira Região ao Congresso de Lusaka de Setembro de 1974, anexado no meu livro, volume I), mas e muito rapidamente, de questões como a gestão da questão racial no seio da sociedade (ler as declarações de Nito, nomeadamente em 1976, sobre este assunto e, cujos extractos cito no meu livro) e as questões sociais. Mormente, a questão da orientação ideológica do partido no poder acabou agudizando as já existentes divergências: Nito queria uma revolução pura e dura, de tipo Bolchevick, o seu discurso pro-soviético não deixa sombra de dúvidas. Mas eu não me quis limitar a isto. O que tento mostrar é que, para se entender as motivações de Nito e, dos seus companheiros, não seria produtivo do ponto de vista da análise contentar-nos em dizer que ele se tornou “de repente” pró-soviético”.
Havia outros que o eram e outros que eram maoístas, etc. O importante na minha opinião, é entender a dinâmica socio-politica que desemboca nesta tragédia. Parece-me importante colocar a questão em termos das lutas sociais que sustentam o discurso político de Nito, e a sua convicção, quase que messiânica (clara em alguns dos seus discursos ou escritos, nomeadamente as suas famosas “Treze teses”) de que a história tinha colocado nos seus ombros um papel fundamental neste processo revolucionário angolano.

Conforme declarações suas, foram os mesmos jovens que ajudaram o MPLA a vencer a guerra de Luanda, que no 27 de Maio foram eliminados, porquê?

O MPLA deve sim, a sua regeneração política de 1974-1975 à juventude urbana, mais particularmente em Luanda. O movimento acabava de sofrer uma longa fase de sucessivas crises e, quando chega o 25 de Abril, é um movimento exausto, dividido, militarmente sem mais capacidade de iniciativa, enquanto que, entretanto, a FNLA estava a rearmar-se como nunca o tinha sido antes e, a UNITA, que se precipitou em assinar o cessar-fogo com as novas autoridades portuguesas, saía dos confins do Moxico para não só ser reconhecida finalmente pela OUA, mas sobretudo ganhar milhares de adeptos nos centros urbanos, sobretudo no planalto central e, no resto do sul do país (há reportagens fotográficas de comícios monstruosos da UNITA nestas regiões. A entusiástica adesão de milhares de jovens, que foram das cidades para os CIR (Centros de Instrução Revolucionária), cheios de ideias românticas e muita sinceridade para ser formados como soldados, de repente deu a Agostinho Neto o fôlego que permitiu que ele e o que restava do movimento pudessem reconstituir o potencial militar deste. Não fosse isto e, face a uma provável coligação FNLA/UNITA, o MPLA teria vivido uma real descida aos infernos. A história teria sido outra. O problema é que esta juventude entusiasta, voluntarista, estava dividida em várias tendências ideológicas, que reflectiam em grande parte as divisões ideológicas que marcavam o movimento comunista internacional, mas reflectiam igualmente as divisões ideológicas na esquerda portuguesa do pós-25 de Abril. Estas divisões são um dos mais marcantes aspectos das lutas políticas urbanas daquela época. Para ser breve: houve um choque entre estes jovens, suas visões do mundo, suas ideologias, etc., com as da liderança do MPLA, mormente de Neto. Alguns entraram em choque com Nito Alves; outros viram nele o verdadeiro e único revolucionário, face a uma direcção do MPLA que eles e outros (os CAC por exemplo, seus adversários) qualificavam de “burguesa”. O resto você sabe... Não vou aqui entrar no macabro debate estatístico sobre quantos terão sido mortos a 27 de Maio de 1977... O drama do que aconteceu não se limita a isso....»

quinta-feira, junho 02, 2005

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SER-SE EXCÊNTRICO EM PORTUGAL

é tão fácil...
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UMA VIAGEM IMAGINÁRIA

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APARENTAR SACRIFÍCIOS

[Isto é verídico, não é ficcionado.]

Estive há dias na presença de um autarca, num evento. Não é que o homem quando se sentava, por exemplo à mesa das refeições, desapertava o cinto, para o voltar a apertar quando se levantava para caminhar perante os seus munícipes? Pensei para comigo: "Que raio, o homem deve estar com problemas abdominais!". Só agora realizo tratar-se de uma reacção às medidas de corte à despesa pública e ao consumo privado. Às autarquias não foram pedidos sacrifícios, quem sabe se pelo facto de se avizinharem eleições locais, mas agora percebo que, pelo menos, vão ter que os aparentar em público.
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OS TEMAS PROIBIDOS NA HISTÓRIA RECENTE DE ANGOLA (3)

Reza a história conhecida que Nito Alves desencadeou a 27 de Maio de 1977 uma tentativa de golpe de estado, tendo como propósito a eliminação física dos seus opositores internos, supostamente obrigando Neto a assumir maior firmeza, e maior clareza, no rumo da revolução, no sentido que os nitistas entendiam que ela deveria tomar. Entre esses opositores internos constavam os nomes de Henrique (Iko) Teles Carreira, Ministro da Defesa e Lúcio Lara (secretário-geral do MPLA). O primeiro haveria de desempenhar um papel chave na repressão da insurreição armada nitista. Dias depois, via-se num jornal em Lisboa, a reprodução de um fax assinado por Nito Alves, e supostamente redigido pelo seu próprio punho em que este assumia a co-autoria, juntamente com Sita Vales e José Van-Dúnem, da ordem de “eliminação física” de vários responsáveis políticos e militares. Entre eles constava o nome do então Ministro das Finanças, Saidi Mingas. Diz-se, também, que Nito Alves contaria com o apoio dos soviéticos, com vários conselheiros militares então instalados em Angola, e que tal apoio lhe haveria de falhar. Tratou-se de uma armadilha, na qual caíram os ingénuos extremistas da revolução? Foi aquele fax um documento forjado para acabar de uma vez com Nito e os seus seguidores, levando uma facção mais extremista, de facto, a ver ali uma oportunidade de manipular Neto para um maior endurecimento face às tentativas faccionistas, populistas e aventureiras, legitimando a “necessidade” de um regime menos desalinhado, menos complacente com a diversidade de perspectivas políticas dentro do MPLA e face às outras forças políticas? Estas são, entre outras, algumas das questões ainda sem resposta. O que sabemos é que na sequência do 27 de Maio de 1977, e durante os dias e meses seguintes, Nito Alves, Zé Van-Dúnem, Sita Vales e os seus apoiantes, foram presos e quase todos sumariamente executados. O que sabemos, também, é que com eles foram igualmente executados dezenas de milhar de angolanos, supostamente apoiantes dos nitistas. Fala-se em 28 mil, 40 mil, 60 mil e até 80 mil angolanos fuzilados em praça pública, ou assassinados nas prisões das diversas cidades angolanas. Isto quer dizer que o poder angolano eliminou, assim, uma parcela muito significativa dos militantes do MPLA. Mas eliminou, também, o sonho dos angolanos com uma Angola independente, mais justa, e irmanada na ideia de construção de um país novo, e diferente daquele que conheciam da opressão e desigualdades baseadas no domínio colonial. Tratou-se de uma chacina fratricida de que julgo não haver memória na história de Angola. Pouco tempo depois Neto adoeceu e haveria de morrer (segundo algumas teses, em circunstâncias misteriosas) em Moscovo, em Setembro de 1979. José Eduardo dos Santos é nomeado pelo Comité Central do MPLA, presidente da República Popular de Angola. Progressivamente, alguns nomes do topo da hierarquia angolana nos anos de 1975 a 1977, vão sendo afastados dos órgãos decisivos do governo e, aquando da constituição da Assembleia Nacional Popular, passam a ocupar o cargo de deputados, no que constitui a sua colocação numa prateleira da história. Foi o que aconteceu à quase totalidade dos brancos e mestiços. Foi o que aconteceu a Lopo do Nascimento, que após a sua saída de primeiro ministro havia passado a ministro do Plano, depois do Comércio, depois a governador provincial da Huíla e, finalmente, após a transformação do MPLA em Partido do Trabalho, em 1980, a deputado da Assembleia Nacional Popular. Há, no entanto, quem sustente a tese de que os mestiços se acantonaram em cargos partidários e militares, onde nos bastidores possuiam mais poder do que os angolanos negros que ocupavam os cargos ministeriais, reduzidos à mera execução e gestão das decisões tomadas pelo partido e pelas Forças Armadas. Uma coisa parece certa, face à natureza do poder instalado entre 1975 e 1977, serão outros os que, após 1977, ascendem ao poder e desencadeiam uma guerra sem tréguas, devastadora do território angolano e do seu povo, supostamente contra a UNITA e algumas tentativas de incursão do exército zairense em apoio dos seus protegidos da FNLA. Um pretexto para a instalação no país de uma nova ordem social, económica e política, baseada num Estado militar e respectiva economia de guerra, assente na corrupção, no livre arbítrio dos privilegiados, na organização do caos, que estrutura - se o termo é adequado -, as novas regras, novas hierarquias, novos privilégios, novos mecanismos de acesso ao poder económico. Um Estado militar baseado na ideia sanguinária e despótica da miséria extrema da maioria esmagadora de um povo e nos privilégios desmesurados, e moralmente insultuosos, de uma minoria de oportunistas, completamente alheios a qualquer noção de transformação revolucionária e justiça social. Com a morte de Savimbi culminou o grande suporte para um tal Estado militar e respectiva forma de organização política, económica e social, mas restou enraizada no país, e no povo angolano, uma lógica de vida, um modelo interiorizado de (des)organização social, que atravessando mais de uma geração de angolanos, será muito difícil agora alterar. E estamos certos que os acontecimentos desencadeados pelo 27 de Maio de 1977 foram decisivos para a situação em que o país se encontra hoje, e para matar a «sagrada esperança» de criação de uma Angola renovada.

quarta-feira, junho 01, 2005

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1 DE JUNHO DE 1960



PRELÚDIO

(para Lídia, minha velha ama negra)


Pela estrada desce a noite
Mãe-Negra desce com ela.

Nem buganvílias vermelhas,
nem vestidinhos de folhos,
nem brincadeiras de guizos
nas suas mãos apertadas...

Só duas lágrimas grossas,
em duas faces cansadas.

Mãe-Negra tem voz de vento,
voz de silêncio batendo
nas folhas do cajueiro...
tem voz de noite descendo
de mansinho pela estrada.

... Que é feito desses meninos
que gostava de embalar?
Que é feito desses meninos
que ela ajudou a criar?
Quem ouve agora as histórias
que costumava contar?...

Mãe-Negra não sabe nada.
Mas ai de quem sabe tudo,
como eu sei tudo,
Mãe-Negra...

É que os meninos cresceram,
e esqueceram
as histórias
que costumavas contar...
Muitos partiram pra longe,
quem sabe se hão de voltar!...

Só tu ficaste esperando,
mãos cruzadas no regaços,
bem quieta, bem calada...

É tua a voz deste vento,
desta saudade descendo
de mansinho pela estrada...

Alda Lara (1930-1962)
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OS TEMAS PROIBIDOS NA HISTÓRIA RECENTE DE ANGOLA (2)


Quando refiro a existência de temas tabu na história dos movimentos de libertação angolanos não quero dizer que haja absoluto silêncio sobre esses temas. Sei bem que muita tinta foi já derramada sobre tais temas. O que digo é que esses temas provocam incomodidade nos angolanos. No caso da questão racial, como no caso do faccionismo. E a história das facções confunde-se com a própria história do MPLA. Também nos outros movimentos existiram episódios de faccionismo, de oposição ou antagonismo às respectivas lideranças. No entanto, a existência de lideranças mais fortes, mais personalizadas, mais assentes em personagens carismáticas com projecto de poder pessoal e no culto da personalidade, na UNITA e na FNLA mais, apesar de tudo, do que no MPLA até 1979, conduziu a que o faccionismo tenha sido menos observável nos dois primeiros do que no segundo. Em todo o caso, nos "anos da mata", após 1976, a UNITA teve os seus casos de contestação da liderança, rapidamente silenciada, ao que parece, muitas vezes ainda antes que tais tentativas de faccionismo tentassem qualquer acto para colocar em questão o líder Jonas Savimbi. Silenciamento esse perpetrado, ao que se sabe, da forma mais definitiva e horrenda que imaginar se possa. Tais processos no MPLA, antes de 1977, têm contornos diferentes. Assentaram em divergências, discutidas até ao extremo das “vias de facto”, mas nem sempre culminando na eliminação de adversários, ou “faccionistas”. Foi assim com Viriato da Cruz, logo nos primeiros anos da fundação do movimento, foi assim em 1972-73 com Daniel Chipenda (Revolta de Leste), que viria a integrar uma ala quase autónoma da FNLA e mais tarde a regressar ao seio do MPLA. Foi assim com Mário Pinto de Andrade em 1974-75 com a Revolta Activa. Não haveria de ser assim com Nito Alves em 1976-77. O conhecimento que tínhamos, até há bem pouco tempo, sobre o movimento nitista, era o de uma tentativa de sublevação de um grupo de militantes, a maioria dos quais muito jovens, recrutados entre os jovens urbanos da Angola independente, que se opunham a diversos sinais de que a revolução não estaria a ser conduzida de acordo com a linha de orientação que defendiam. Segundo uns, essa linha era mais maoista, segundo outros seria mais pró-soviética, na esteira da ideia de revolução bolchevique, ou ainda na esteira do estalinismo puro e duro. Devo confessar que tais diferenças pouco me importam hoje, para o que aqui me interessa registar. O que me interessa registar são os factos. Os factos dizem que os apoiantes de Nito Alves, e os discursos e textos do próprio, se mostravam em 1975-76, contrários à filiação do país nos países não alinhados (em que Neto se afirmava próximo de Tito da então Jugoslávia); eram contrários a uma linha tida como excessivamente moderada e representada, por exemplo, pelo próprio primeiro-ministro de então, Lopo do Nascimento, por vários ministros, como António Jacinto e Paulo Jorge; eram contrários ao excesso de brancos e mestiços no aparelho de Estado, os quais carregavam na cor da pele o anátema do passado colonial e; finalmente, mostravam-se claramente contrários ao que entendiam como cedências a forças politicamente antagónicas ao modelo marxista-leninista, como foi o caso da nomeação de Fernando Falcão (fundador da FUA) para Procurador-Geral da República. Importa registar que aquele extremismo encontrava adesão fácil nos jovens revolucionários, incluindo muitos de origem portuguesa, os tais brancos e mestiços, que desculpavam a natureza racial que os discursos de Nito tantas vezes assumiam. A começar pela companheira do próprio José Van-Dunem [número dois (ou três?) de Nito], a ex-militante da organização estudantil do PCP nos anos 70’, em Portugal, quando aí se encontrava a estudar medicina. Refiro-me a Sita Vales. Devo aqui mencionar, que embora em 1977 se tenha associado o Partido Comunista Português ao nitismo, por via da sua associação ao nome de Sita Vales, tenho as mais sérias dúvidas que o PCP se tenha, alguma vez, envolvido em tal aventura. Tais rumores resultam da ideia de um Agostinho Neto, não alinhado ao PCUS, como seria pretendido pelo próprio PCUS, pelo KGB e logo, também pelo PCP. Julgo que o “não alinhamento” de Neto se fica a dever mais à fraqueza da sua liderança e à sua tentativa de conciliação de divergências internas, à sua dificuldade para lidar com as diversas perspectivas internas, à sua oscilação do rumo a seguir quando confrontado com as múltiplas pressões que então se exerciam sobre Angola e o novo poder instalado em Luanda. Pressões internacionais em sentidos diversos. Receio da posição a tomar no contexto internacional. Medo do preço a pagar pelas cedências, quaisquer que elas fossem. Mesmo a decisão de procurar ajuda na URSS e em Cuba em 1975, para fazer face à invasão do exército sul-africano do regime do apartheid, foi uma decisão que Neto acabaria por tomar a custo, como ficou claro no discurso que então proferiu. Foi essa fraqueza na liderança, e essa ambiguidade do rumo a tomar, que alimentou paulatinamente os ensejos de conquista do poder pelo movimento extremista de Nito Alves e seus apoiantes.

(Continua)

Adenda: Agradeço as correcções (já introduzidas) dos leitores Alberto e João Tunes, na caixa de comentários. Como mencionei no início, escrevo a partir, sobretudo, da memória e do conhecimento que tenho dos acontecimentos. Ambos são falíveis.