quarta-feira, agosto 18, 2004

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O país que malcriámos

Acabei de assistir à seguinte cena aqui da minha varanda. Um bom ponto de observação do quotidiano urbano dos nossos concidadãos. Uma mulher jovem não cumpriu um sinal de stop e teve de se desviar para não levar com outro carro, que sabendo da sua prioridade ameaçou levá-la ao extremo. A mulher jovem que não cumpriu a regra de trânsito vociferou contra o outro condutor e, do mesmo passo, estendeu o braço janela fora ostentando um gesto que se faz com os dedos. Ao contrário da maioria das mulheres de há trinta anos, esta mulher teve acesso a uma carta de condução, teve capacidade económica para adquirir um automóvel e tinha o corpo bronzeado pela possibilidade de fazer praia no verão. Terá outras comodidades materiais, ainda, que a maioria das mulheres de há trinta anos não tinha. Só é pena que não tenha, também, a educação e o civismo correspondentes a tudo aquilo que terá do ponto de vista material. Quando há trinta anos se iniciou um processo de desenvolvimento do país, fica agora claro, dever-se-ía ter pensado que o investimento na educação, formação e civilidade, são os pilares do desenvolvimento. Sem eles o que teremos serão apenas carros, prédios e estradas por onde passam os carros ao lado dos prédios. O país apodrece, de facto, está reles, de facto, sofre de um progressivo abaixamento do nível, de facto. Mas, o que fizémos nós das oportunidades que fomos tendo para reverter o nosso infra-desenvolvimento, ao longo dos últimos trinta anos? Esta foi a democracia que criámos, como uma menina malcriada que está, agora, a chegar à idade adulta e a mostrar-nos, como jovem mulher, a educação que não teve.

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