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SOB O MANTO DIÁFANO DA MODERNIDADE A NUDEZ CRUA DO REACCIONARISMO
Que é hipócrita a perspectiva de Portas sobre a despenalização do aborto, com o discurso demagógico do "direito à vida", parece-me evidente. Como é hipócrita e demagógico o seu discurso em relação a outras matérias. Os valores da família tradicional, a ortodoxia católica, a lavoura, os antigos combatentes, etc. Meros públicos-alvo, nichos de mercado eleitoral que os caminhos da história, objectivamente foram deglutindo e arredando do centro, constituindo-se em potenciais focos onde podem germinar novos descontentamentos de velhos conservadorismos. Públicos-alvo e nichos de mercado vistos como vulneráveis ao discurso demagógico e populista de direita onde Paulo Portas navega. Nada de novo. Agora, que seria Louçã a abrir as portas à convocação de sub-reptícias insinuações sobre as supostas opções de vida pessoal e sexual dos adversários políticos, não deve deixar de merecer interrogação e espanto a todos quantos viam no BE o tal partido das "causas fracturantes", que incluem, entre outras, a defesa dos direitos de afirmação da diferença em matéria de opções de vida privada e orientação sexual, por exemplo. Este BE, afinal, sob o manto diáfano da modernidade da esquerda, esconde a nudez crua do mais vil reaccionarismo e conservadorismo moral fascizante de uma determinada velha esquerda (de Estaline, Mao e Enver Hoxa). Tanto mais lamentável para a esquerda que se quer, de facto, radicalmente moderna, neste momento da história do país, quanto Louçã tinha o debate com Portas ganho aos pontos, com válidos argumentos que deixaram o candidato da direita sem hipótese de resposta, além dos rodriguinhos de natureza pessoal e vacuidade política. No último minuto, Louçã perdeu um debate que estava ganho e - mais grave e mais essencial -, perdeu a face do homem que muitos julgavam defender os valores justos de uma politica emancipatória de modernidade.
Morreu François Ascher
Há 15 anos
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