sexta-feira, janeiro 14, 2005

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JUDEUS AMERICANOS OU AMERICANOS JUDEUS?

Será que faz sentido a referência distintiva recorrente aos "judeus americanos", se não estamos propriamente a falar dos Amish? Os judeus americanos distinguem-se, de facto, em diversas áreas. Da cultura ao mundo empresarial e dos negócios. Mas não se distinguem também, nessas áreas, outros americanos de origem africana, asiática, europeia, que professam as mais distintas religiões, ou são simplesmente agnósticos? Sem dúvida que existe segregação socio-espacial e de culturas nos EUA, como existem fortes desigualdades de oportunidades. É dessa argamassa, também, que é feita aquela sociedade. Mantendo alguns traços identitários da sua cultura original - a cultura hebraica - os americanos de origem judaica são, antes de tudo, americanos. Foi, de resto, nos guetos judeus no princípio do século XX que mais se vislumbraram ímpetos (bem sucedidos) de mobilidade e integração no modelo cultural e espaços de vida já então dominantes na sociedade americana. Isto, apesar da oposição expressa pelos movimentos mais organizados e radicais da cultura "wasp" (white-anglo-saxon-protestant), sempre mais activos e organizados nas pequenas cidades e no mundo rural do que em grandes cidades como NY ou Chicago.

De esquerda ou de direita, intelectuais ou empresários, filantropos ou misantropos, julgo que falamos de americanos judeus e não de judeus americanos. Estes são apenas parte daquela enorme diversidade e até divergência cultural que construíram os EUA. Provavelmente nenhum país no mundo é constituído da convergência de tanta divergência como os EUA. Um judeu americano não é, nem se sente, menos americano do que qualquer outro cidadão americano. Aquele país foi construído por todo o mosaico cultural que o compõe e a sua cultura, a sua história e a sua nacionalidade mais não são que o reflexo espelhar desse mosaico de universos de representação, de credos religiosos, de mundos sociais e de estilos de vida. Referir a proveniência identitária dos americanos judeus como traço distintivo, por referência a um país como os EUA, quando falamos de Susan Sontag, Woddy Allen e tantos outros, talvez seja histórica e societalmente descontextualizado e expressão de um olhar culturalmente eurocentrado da nossa parte.

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