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SARABAND
Até agora o melhor filme do ano exibido entre nós (embora realizado em 2003). Uma qualidade de imagem irrepreensível, graças à tecnologia digital utilizada, a fazer justiça à qualidade da fotografia bergmaniana. O mesmo caudal de sentimentos e de "fantasmas" que marcaram as obras de Bergman e atormentaram a história de vida do cineasta. Agora, com o questionamento sobre o envelhecimento, a morte e os balanços de vida, de quem se (nos) interroga sobre o que realmente vale a pena nesta nossa fugaz passagem por aqui. Um olhar singular sobre o universo afectivo feminino e sobre as relações pais/mães-filhos/filhas e os seus, por vezes (ou sempre?), contraditórios e tumultuosos sentimentos. Uma visão laminar sobre uma racionalidade gélida de uma cultura masculina/protestante/racionalista (?). Um "ajuste de contas" com a sua própria história de vida e o lugar que nela representaram as figuras paterna e materna, bem como o masculino/feminino. A libertação, porventura trágica, da jovem mulher (Karin) das teias de uma relação incestuosa é um sinal de futuro e a melhor celebração da vida e do feminino, que atravessaram toda a sua obra. Embora dedicado à sua mulher Ingrid, (representada pela figura de Anna), este filme - que Bergman diz ser o seu último trabalho - é também uma homenagem a Liv Ullman, indisfarçável pelo que transparece do olhar por detrás da câmara quando nos revela Marianne, a protagonista de Saraband.
Morreu François Ascher
Há 15 anos
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