terça-feira, junho 19, 2007

Filosofia da não-inscrição

Será deformação profissional mas custa-me imenso tomar como bom um discurso generalista sobre os portugueses. Não acho que exista qualquer identidade nacional, no sentido da "identidade dos portugueses". Ou melhor, os seus atributos contar-se-iam pelos dedos de uma mão, o que é manifestamente pouco para constituir uma identidade. A alma portuguesa, a cultura nacional, um espírito nacional, tudo isso me parece bom para a mesa do café e nada mais. Não acho nada que Jorge Sampaio reflicta qualquer "não-inscrição" nacional. Jorge Sampaio é o que é, e foi o PR que foi, porque ele próprio é assim. A sua identidade pessoal e a sua personalidade não são extensíveis à generalidade de um cidadão nacional ou uma cultura nacional. O mesmo no que se refere à relação com a morte. Haverá modos distintos de relação com a morte, resultantes até de ambientes culturais regionais, ou mesmo identidades regionais, ainda que matizadas pelas diferenças identitárias intra-regionais de outras naturezas. Agora que haja um modo nacional de nos relacionarmos com a morte por "não-inscrição", não me parece. É certo que historicamente há razões que condicionam uma parte dos portugueses a uma determinada relação particular com a morte. Dou isso de barato. Se uma tal leitura poderá possuir uma réstia de correspondência empírica com a realidade do país fechado ao mundo de outrora, os últimos trinta anos introduziram uma razoável diversidade na sociedade portuguesa e a abertura ao mundo por via da circulação das pessoas e da informação, reduz ao mínimo, ou melhor, impossibilita um tal "uniformismo" cultural.

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