Um programa sobre a Al-Jazeera passado na SIC-N, confirma a independência do canal face aos valores dominantes na cultura árabe-muçulmana-islâmica. O noticiário desportivo realça a derrota da selecção de israel face a outra selecção, não me recordo em que modalidade. O momento serve para atacar a política israelita face ao contexto envolvente e nomeadamente face à palestina. Estariamos de acordo com o comentário de opinião (excepto a defesa ímplicita da exterminação de Israel do mapa), porém, no contexto de noticiário desportivo, parece um pouco 'à la soviética'. Depois temos uma reportagem sobre os jogos olimpicos do mundo árabe, para mulheres. Como as mulheres não podem participar em actividades desportivas públicas, têm agora a oportunidade de o fazer em jogos só para mulheres. A reportagem enfatiza como o facto de as mulheres estarem apenas com a face e as mãos descobertas e todo o restante corpo tapado, não é impeditivo da prática desportiva. Uma rapariguinha realça mesmo como o véu não a impediu de derrotar a sua concorrente romena na prova de karate. Imagino que o corpo inteiramente coberto deve ser excelente para o salto em altura, ou em comprimento. Finalmente uma reportagem sobre a abertura do tema sexualidade onde sacerdotes islâmicos têm um programa para falar de sexo. Um desses sacerdotes explicava que o sexo oral, embora em sua opinião seja uma javardice, não é proibido pelos textos. Ainda assim depende do fim a que se destina. Caso haja ejaculação já lhe parecia uma completa nojeira, enquanto que o beijar o sexo do parceiro seria tolerável.
Como é bom de ver, este canal é um escândalo de libertinagem de informação. Uma espécie de CNN Internacional do Médio-oriente.
A leitura acertada quanto ao papel da Al-Jazeera é, em minha opinião, esta de Tiago Barbosa Ribeiro, no Kontratempos:
«Num período histórico em que o jihadismo reaviva parte da sua função identitária, não é só a rede mundial de computadores que abre novas possibilidades comunicacionais para fomentar leituras de resistência à modernidade. Uma única cadeia de informação, politicamente instrumentalizada e sem qualquer escrutínio intelectual nas sociedades em que é emitida, afigura-se um bem central para a formatação ideológica da esfera pública.»
Morreu François Ascher
Há 15 anos
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