terça-feira, setembro 28, 2004

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Édipo a fazer contas ou a inexorável crueza do tempo

Não tenho escrito neste blog. Mas também não se notou muito. Os meus vinte leitores continuam a dormir bem e a comer melhor, apesar disso. Mas vou lendo, por aí. Hoje não há muito para ler. Será do inesperado calor fora de época, ou será do pântano em que o país teima em ficar? Pouco importa. Aliás, no país, no propriamente dito país, nada já parece importar.

Entretanto, a blogosfera parece andar a circular numa rotunda sem saída. Circula, circula e não sai do mesmo sítio. Claro, não tem por onde sair. Até o Terras do Nunca deu a volta ao mundo (dos templates) em muito menos de oitenta dias e voltou ao mesmo. O inicial. Em outros que leio, com regularidade, nada se escreve, também.

Há, no entanto, um blogger que sempre circula ao contrário na blogosfera. Quando todos escrevem muito, ele nada diz. Quando ninguém diz nada, ele torna-se prolixo em textos, memórias, controvérsias, análises finas e posts que valem apenas por olhar para eles, como este.

Manda-nos fazer contas, o Ivan. Já fiz e dei-me conta que uma amiga dos tempos de liceu faz hoje quarenta e um anos e não quis ser minha namorada quando tinha dezassete. Ela, porque eu tinha vinte. E dei-me conta também - acaso bem mais importante - que a minha mãe completará, este ano, setenta anos de vida. A minha amiga tinha uns ares da Brigitte. Tinha sim, embora menos carnuda. Há quarenta e quatro anos a minha mãe apenas tinha vinte e seis. Como estará hoje a beleza carnuda da Brigitte, quarenta e quatro anos volvidos? Será digna de um post como este?

sexta-feira, setembro 24, 2004

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Prevenção contra a crise do Estado Providência

(título inspirado neste post do Barnabé)

Requerimento

    Exmos. Srs. Primeiro Ministro Dr. Paulo Portas e seu vice Dr. Santana Lopes

    (A/C do senhor ex-ministro do trabalho e da segurança social incentivador dos sistemas privados de segurança social, vulgo PPR's, mais os respectivos incentivos fiscais, e actual crítico de tais sistemas por considerar coisa própria de ricaços)

    Todos já sabemos, de há muito, que o Estado Providência está em crise. Um dos que nos trouxe essa ideia para os media, depois de ele próprio e nós a termos lido há muito nos textos oficiais e literatura académica anglo-saxónica, foi o senhor dr. Bagão Félix. Motivo mais que suficiente para justificar a perspectiva anti socializante do Estado e da economia por parte de Vexas. Pois concerteza. Certamente não teremos direito às nossas justas reformas, quando delas precisarmos, após os trinta e cinco anos de vida activa. Ora, pelo que percebemos, a solução reside em conseguirmos, com urgência, um lugar de administrador da Caixa Geral de Depósitos, por um par de anos. Banco que, aliás, recolhe mensalmente os nossos parcos rendimentos de funcionários públicos ociosos e com eles faz fortunas para pagar bem, como convém, aos seus administradores. Também eu tenho tantas competências técnicas para administrar a CGD como a dona Celeste. Também eu posso, com grande desplante, demonstrar a minha incompetência para o cargo de ministro da justiça de modo a poder ser, depois, contratado como administrador da CGD. Aguardo, para o devido efeito, pedido de inscrição no CDS-PP ou no PPD-PSD.

    Pede deferimento,

    WR

    quarta-feira, setembro 22, 2004

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    Eis a Opus do Presidente

    O responsável por termos hoje em Portugal uma caricatura de governo tem um nome: Jorge Sampaio.

    O problema deste governo não reside nas listas de colocação de professores, na trapalhada da desautorização de um ministro por outro, a propósito do incêndio de Matosinhos, no ilusionismo financeiro de Bagão Felix, ou em tantas outras demonstrações de incompetência e falta de nível.

    O problema deste governo é existir.

    E o responsável por esse facto é o ainda Presidente da Republica que, contra quase tudo e quase todos, incluindo as pessoas do PSD com alguma noção da realidade, para não falar de muitos credíveis dirigentes ou figuras cimeiras daquele partido - empossou esta caricatura de governo.

    Por isso, a única coisa que escrevo a propósito desta vergonha da colocação dos professores é o que já aqui escrevi no passado dia 3 do corrente mês:

    Sem comentários

    "Posso garantir que até dia dezasseis de Setembro os professores estarão todos colocados. Até podia dizer que estarão concerteza entre os dias dez e doze. Mas como não sou aldrabona (!!!) prefiro dizer que estarão de certeza todos colocados até dia dezasseis".

    Frase proferida ontem no Parlamento pela Ministra da Educação (!!!) do XVI Governo Constitucional, que o Dr. Jorge Sampaio (british educated man) empossou.

    quinta-feira, setembro 16, 2004

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    O cavaquismo, as barracas e a sua "erradicação"

    A propósito de um post noutro blog comentando um episódio ocorrido na Câmara Municipal Porto, Pacheco Pereira aproveita para afiar, uma vez mais, a unha e enterrá-la no Bloco de Esquerda. Não é, no entanto, a obsessão de JPP com o BE que vou comentar. O que pretendo é apenas esclarecer que embora o Plano de Erradicação das Barracas, mais conhecido por PER (Plano Especial de Realojamento), tenha sido, de facto, uma ideia do cavaquismo, a verdade é que o PER foi para o terreno em 1993, sendo portanto, na sua quase totalidade, implementado não pelo cavaquismo mas sim pelo guterrismo, após 1995. Se é certo que o PER não permitiu erradicar todas as barracas das duas áreas metropolitanas do país, como estava previsto, permitiu reduzir drasticamente o seu número. Tal facto possibilitou uma "limpeza" da imagem urbana das duas AM's, mas ainda assim deixou por resolver o problema estrutural que conduziu as populações das barracas a residirem, se assim se pode dizer, naquele tipo de alojamento degradado. Esse problema é a pobreza urbana e sobretudo a exclusão social que impede aquelas pessoas de optarem por outro tipo de habitação. Ora, o que se fez com o PER, e aí as responsabilidades são também partilhadas pelo PSD e pelo PS, foi transladar um problema social das barracas para edifícios de apartamentos, construídos maioritariamente em altura, para uma população que não possui hábitos enraizados de vida em tal modelo habitacional. Acontece que, por via disso, alguns dos problemas não só não se resolveram como se agravaram e criaram-se, inclusive, em alguns bairros de realojamento, novos problemas sociais. A cegueira e surdez, ou o autismo, da maioria dos nossos políticos, autarcas incluidos, fez com que muitos desses bairros que erradicaram as barracas sejam, actualmente, bombas-relógio do ponto de vista social. Acresce que, também aqui, a administração central passou uma parte da "batata quente" para as autarquias, sem se preocupar se estas teriam os meios, financeiros e de competências (recursos humanos técnicos e saberes especializados) para fazer face ao problema. Refiro-me à necessidade de planeamento urbanístico e social que foi muito frágil, para não dizer inexistente, na maioria dos casos. A ausência desses recursos por parte das autarquias, não as iliba, no entanto, das suas responsabilidades no fracasso, a médio prazo visível, do PER, mas também aí não estão isentos de culpas tanto o guterrismo como o cavaquismo de que JPP continua adepto. De facto, o problema é muito mais complexo do que a "grande visão reformista" de alguns políticos pode alcançar. Mas não fossem eles autistas como são e as soluções teriam sido bem diferentes. Assim sendo, a bomba-relógio vai explodir-lhes dentro de alguns anos, no colo.

    quarta-feira, setembro 15, 2004

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    Pot-pourri

    A frequência da minha exposição à net foi drasticamente reduzida. Continuo, embora mais raramente, a ler os meus blogs favoritos. Para escrever aqui no FC falta-me o tempo e o incentivo. Hibernação é o que a isto se chama. Ainda assim vou lendo belos textos por aqui e por ali. Além de outros locais eleitos, como este e tantos outros.

    Vou também verificando como o conselho que em tempos aqui dei, foi bem acolhido pelo que agora li aqui e aqui.

    Atrasado estou também, sempre. Por exemplo, para dar os parabéns a esta malta que tem um dos melhores blogs do país. Aos Barnabés os meus votos de que continuem o serviço público que nos prestam, gratuitamente mas não de forma gratuita. Bem pelo contrário.

    domingo, setembro 05, 2004

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    Aquele abraço


    Até breve e fiquem todos bem.

    sábado, setembro 04, 2004

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    Leituras, citações e boas opiniões

    O Filipe Nunes, no País Relativo, "queixa-se" de um "plágio" de José Sócrates na entrevista à Visão. Não pretendo defender o Engº e, além do mais, não são contas do meu rosário. Mas, no lugar do Filipe Nunes, eu não me queixaria. Ao menos ficamos a saber que o Engº lê alguma coisa, além de jornais, e não se limita a fazer-se fotografar com livro de tamanho visível. Por outro lado, temos de admitir que o homem, em discurso falado, não tivesse à mão a referência bibliográfica e antes que a sua memória, muito ocupada com outros afazeres, o atraiçoasse, optou por não mencionar o autor pelo qual tinha aprendido o que acabava de dizer.

    Por falar em boas leituras, vale a pena ler este post do Miguel Cabrita. Comentário certeiro, do meu ponto de vista, à opinião de Pacheco Pereira sobre os extremos do leque político-partidário nacional.

    Tenham uma boa noite e boas leituras!

    sexta-feira, setembro 03, 2004

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    O perigo que veio do frio

    O que se esperava como reacção por parte do governo russo ao terrorismo que por definição é irracional e bárbaro, era uma resposta que permitisse encontrar a razão do lado certo. Uma resposta racional, comedida, organizada e imbuída de valores e princípios. Nada disso Putin demonstrou, uma vez mais. Nesses aspectos deveriam os russos recolher ensinamentos dos norte-americanos, descontados os disparates e apenas referindo a capacidade organizativa e de resposta, em caso de ataque terrorista ou catástrofe. Mas se no caso dos EUA de Bush o lado certo não reside ali, no caso de Putin, um ex-coronel do KGB, muito menos. A desorganização da resposta e do suporte logístico; o acaso da solução a encontrar; a ideia de aniquilar os terroristas a qualquer preço, mesmo que tal custe a vida de centenas de pessoas inocentes, são bem a demonstração da natureza do poder instalado no Kremlin. Nem ao menos a organização do apoio logistico. Nem sequer a eficácia racional da intervenção armada dos grupos militares especiais. Sempre pensei que a escola do KGB fosse, pelo menos nessas matérias, uma boa escola. Não. O perigo da actual Rússia é mesmo a ausência de qualquer lógica de poder com alguma racionalidade objectiva que estivesse para além de meros interesses individuais de poder pessoal.
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    Sem comentários

    "Posso garantir que até dia dezasseis de Setembro os professores estarão todos colocados. Até podia dizer que estarão concerteza entre os dias dez e doze. Mas como não sou aldrabona (!!!) prefiro dizer que estarão de certeza todos colocados até dia dezasseis".

    Frase proferida ontem no Parlamento pela Ministra da Educação (!!!) do XVI Governo Constitucional, que o Dr. Jorge Sampaio (british educated man) empossou.
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    Olha, afinal ainda existem!

    Gosto destas mulheres do movimento WoW. Além de partilhar das suas ideias em relação à interrupção voluntária da gravidez, acho-as mulheres bonitas. No sentido que para mim tem a beleza feminina. Neste episódio apenas me desagrada uma coisa. Não fosse a vinda do barco borndiep a Portugal e já nos tínhamos esquecido que existe no país um governo e que esse governo é liderado por Santana Lopes e Paulo Portas. Assim, como os reais e graves problemas do país são demasiado complexos para a competência daquelas duas caricaturas da política portuguesa, sempre tiveram uma oportunidade de voltar a aparecer em público com posições e decisões, bem ao seu estilo. O primeiro a mostrar como tão bem sabe falar sem nada dizer, ou a dizer algo e o seu contrário de seguida. O segundo a mostrar que o seu sonho era ser um ditador na Guatemala.

    quinta-feira, setembro 02, 2004

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    Cobardia de um "mariquinhas"



    Na minha socialização de rua, na infância, aprendíamos que um homem que bate numa mulher é um "mariquinhas". Era uma regra de um código de honra entre pré-adolescentes que não tinha tanto uma conotação, como hoje se diria, de homofobia, mas pressupunha sim a ideia de cobardia. O acto de guerra por parte do Ministro da Defesa e dos Assuntos do Mar, com os navios apropriados para o efeito, enfrentando o "perigoso" Barco do Aborto das Women on Waves, é isso mesmo: um acto de cobardia de um "mariquinhas".