A prática de discriminação classista (de classe social) e de discriminação dos alunos julgados como "casos perdidos", na constituição das turmas no ensino básico e atribuição das "melhores turmas", segundo aqueles critérios, aos professores com estatuto profissional mais elevado (mais anos de carreira), ficando para os professores com menos experiência as "turmas piores e mais difíceis", é factualmente verdadeira. Posso provar isso, com vários casos que conheço, em várias escolas de vários pontos do país. Não admira, pois, que seja tão difícil obter junto das escolas, dados sobre as taxas de abandono e insucesso escolar. Sucede que esse é um tema tabú do ensino em Portugal e por isso fez levantar tantas vozes. Mas não é por acaso que ele é um tema tabú, pois é um dos dados do sistema de ensino, tal como ele foi sendo construído nos últimos vinte anos.
2 comentários:
Eu só conheço o actual ensino público, porque fui utente, através dos meus três filhos, a partir do 7ºano. Todos frequentaram a escola que no 1ºranking aparecia em 3ºlugar. Era a 1ª das públicas. Como as duas mais velhas eram boas alunas, tiveram sempre excelentes professores. O mais novo era diferente, e no 9ºano pedi que o reprovassem. A odisseia, não a conto, porque já a descrevi noutros lados. Mas decidi que repetiria numa escola privada, porque já sabia o que o esperava. Maus professores e uma turma de "casos perdidos". Regressou à pública no 10ºano.
Continua a abordar-se o problema dos "maus alunos" pelo lado dos professores. Lamento, mas enfim, é a habitual maneira dos portugueses acharem que a culpa nunca é sua, mas dos outros...
Vamos lá ver, o processo de ensino/aprendizagem, é um processo envolvendo diversas vertentes, os professores, a escola, a tutela, os alunos, os pais e a sociedade em geral. Todos intervêm, mais ou menos, mas todos se envolvem. Os professores cometem erros, estão inseridos num sistema com muitos problemas e acabam por não ter uma atitude crítica sobre esse mesmo sistema. Mas e os outros o que fazem? Empurram a culpa para os professores. Se um aluno não traz os materiais, não estuda, perturba as aulas e os colegas, não tem educação, etc... De que é a culpa? Dos professores?
Sou professor há 25 anos, aceito que como profissional tenho a minha quota parte de culpa do mau ambiente que existe no sistema educativo, mas tenho assistido a uma mudança para pior nos alunos. Cada vez são mais indisciplinados, mais mal educados, menos interessados na escola e na apredizagem. Os pais cada vez mais se desinteressam pela escola. Cada vez mais a sociedade empurra para a escola tarefas de aprendizagem, como a segurança rodoviária, a educação sexual, a educação para a saúde, a educação cívica, a adaptação às tecnologias de informação, a protecção do ambiente o respeito pela floresta, etc...
Cada novo(a) ministro(a) intervém na escola com novas leis, novos regulamentos, novas visões pedagógicas. Sucedem-se as revisões curriculares, ora do básico, ora do secundário. As escolas perdem cada vez mais a sua autonomia (se é que ela alguma existiu), embora os responsáveis políticos encham cada vez mais a boca com a palavra autonomia.
De que vale aos professores se empenharem na árdua tarefa de ensinar? Pois, aparentemente, apenas eles se interessam por isso e alguns pais? A grande maioria da população apenas aponta o dedo aos privilégios dos professores e aos seus respectivos defeitos.
Apareçam na escola, envolvam-se no processor, critiquem o que há a criticar, com atitude positiva e verão a verdade a vir ao de cima. Vejam a realidade como ela é.
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