domingo, maio 23, 2004

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TV a cor do sangue quente a escorrer pelos ecrãs

Hoje no noticiário da SIC, uma grande reportagem sobre programas "à americana", do melhor da tv-sensação, e da rádio também, no Brasil urbano. A violência em directo, à qual alguns jornalistas brasileiros, entrevistados na reportagem, se recusam mesmo designar jornalismo e chamam "lixo jornalístico". Com razão, quanto a mim. Trata-se, mesmo, do que considero ser uma perspectiva de jornalismo pornográfico. Os repórteres de tais emissões televisivas, estão ali para criar emoção, para ajuizar, para manipular consciências, sem qualquer pudor. Uma relação com a polícia que deixa pouca margem para dúvidas que, não raras vezes, o directo é pré-fabricado por uma indústria televisiva a que dificilmente poderemos chamar informação, quanto mais comunicação. Como não podia deixar de ser, os apresentadores daquele tipo de programas são autênticas vedetas que, no Brasil, ganham fortunas. Por isso, vestem a rigor a máscara do suposto cidadão comum, pseudo indignados com os marginais, com os criminosos, pseudo revoltados com a violência, manifestando, cínica mas violentamente, o facto. Condenando, logo ali, em directo, perante as sagradas audiências. Como não podia deixar de ser, apontando a culpa de toda aquela violência, a quem? Aos "políticos e governantes", assim mesmo, em abstracto, como o "bom povo" gosta de ouvir. E as audiências a subir, a subir... E o cachet daqueles "artistas", a subir, a subir... Como se não fosse um sistema político, social e económico, organizado de modo a que dele só pode fazer parte aquela violência, e aquela televisão, que cria abissais desigualdades entre os que vivem dela, e os que apenas têm de cumprir o papel de actores secundários e de figurantes daquele filme de terror. Que seria, afinal daqueles apresentadores, a cuja formação e competência jornalística, não dá para mais, se não existissem os marginais e criminosos que eles condenam ali, em directo, ao vivo, e com a cor do sangue quente a escorrer pelas telas dos televisores? Que seria deles se "os políticos" tivessem outras políticas, que virassem do avesso a sociedade brasileira e aquela pseudo imitação da cultura americana?

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