sábado, maio 15, 2004

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Também aqui!?

Não deixa de me surpreender como uma disciplina das ciências sociais, concretamente a sociologia, continua a ser olhada como algo...esotérico (?), quase trinta anos após a sua institucionalização em Portugal. Sim, também ela é uma "conquista de Abril". O que só prova como, afinal, evoluímos tão pouco nestes últimos trinta anos.

Vem isto a propósito da forma, pretensamente jocosa, como o nosso V Congresso, que hoje termina em Braga, é tratado aqui na blogosfera, em posts e em comentários que revelam bem a indigência da nossa cultura científica, e do nosso desenvolvimento cultural em geral.

Ainda nos tempos de estudante, na cantina da Universidade, nas cerca de três vezes que lá fui almoçar, recordo-me do olhar dos nossos colegas das luminárias do Direito ou da Medicina, para aqueles seres estranhos que cursavam uma coisa a que chamavam sociologia. Mais tarde, no serviço militar, nos três dias que lá estive, uma vez mais a mesma postura por parte dos médicos e licenciados em Direito (não sei como se designam, porque podem não ser juristas, podem não ser advogados, podem não ser jurisconsultos, mas não têm uma designação genérica. Já os licenciados em sociologia são "os sociólogos"). Aí, enquanto uns eram os fulanos e outros os sicranos, eu era precisamente... "o sociólogo", dito sempre a sorrir, como se fosse o cartomante, o astrólogo, o quiromante... A verdade é que os médicos, "os de direito", os veterinários, os dentistas, e até os arquitectos, ficaram lá todos e eu vim-me embora, com muita inveja deles...(que bem me soube ser "o sociólogo"). Mas isto era apenas um àparte.

É curioso como outras áreas do saber, muito menos institucionalizadas, e muito menos inseridas na orgânica nacional do emprego, não parecem ser alvo desta atitude, no nosso país. Das duas uma. Ou, de facto, as nossas lideranças associativas, e nós próprios, não conseguimos fazer eficazmente a difusão e marketing da nossa profissão e área científica, ou então, o nosso nível de desenvolvimento cultural e científico está, de facto, muito aquém do que as ideologias auto-conformadas com a evolução pretendem fazer crer. Ou serão ambas verdade?

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