quinta-feira, dezembro 02, 2004

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O PAÍS ÀS AVESSAS: CEGUEIRA, INÉRCIA E O NOSSO DESTINO

1. Neste post, JPP está, quanto a mim, equivocado por três razões diferentes. Em primeiro lugar porque a nossa economia sofre os efeitos da globalização e das decisões de Bruxelas, mas funciona, ainda, largamente numa base territorial nacional. A sua fraca internacionalização e capacidade competitiva nos actuais fluxos globalizados é um dos seus problemas. A sua lógica organizacional e de mercados, é ainda demasiado nacional e por esse motivo, também, depende mais das decisões do governo nacional do que seria normal no actual contexto de globalização. Porventura essa dependência reforça a sua debilidade quanto à internacionalização, num efeito de "pescadinha de rabo na boca". Em segundo lugar porque o sector da educação e formação representa, apesar de tudo, um dos sectores onde a internacionalização e o funcionamento numa lógica globalizada está mais presente, por exigência da nossa integração europeia, apesar de estarmos longe do ideal, mesmo a esse nível. Em terceiro lugar porque a parcela de fracasso da nossa formação profissional, como da nossa educação, resulta precisamente de não termos ouvido os verdadeiros empresários (que são poucos, infelizmente) e ter sido conduzida, sobretudo por aqueles agentes que JPP acha que devíamos ouvir, nomeadamente, professores sem grande ligação à realidade da economia do país. O principal factor de fracasso do investimento (desperdício?) na formação, foi o facto de termos promovido muita formação (a sua maioria?) sem conexão com o mundo real do emprego e das empresas. Não se atendendo às necessidades reais de formação da economia do país. Para a inversão dessa realidade seria fundamental, e não se fez, ouvir os empresários.

2. Neste post, JPP tem razão quando diz que perdemos uma grande oportunidade de colocar o país noutro patamar de desenvolvimento, tendo desperdiçado muitos milhões provenientes dos fundos comunitários. Oportunidade irrepetível, sem dúvida. Já escrevi sobre isso aqui no FC. A frustração que muitos de nós hoje sentem com o "estado da nação", prende-se com esse factor. E tal como o JPP julgo que temos boas razões de preocupação em relação ao futuro do país, devido ao mau uso que fizemos daqueles fundos. A responsabilidade desta situação é partilhada pela generalidade dos partidos, com particular incidência nos dois maiores, mas é também dos cidadãos que genericamente se deitaram à sombra dos fundos ou utilizaram-nos para fins menos nobres do que o bem público.

3. Embora tenha razão, no geral deste post, JPP só se engana, em minha opinião, numa coisa. É que o problema não está no Estado. Mas nas utilizações que os cidadãos (políticos e suas clientelas) dele têm feito. Num país com o nosso nível de desenvolvimento é, por maioria de razão, fundamental que o Estado tenha um papel decisivo nas políticas que, por isso mesmo, se chamam públicas. O problema reside no facto de não termos tido políticas públicas em muitas matérias e termos funcionado ao sabor das oportunidades, da gestão da inércia, dos interesses instalados, das resistências das corporações, do clientelismo e da falta de visão de futuro. Não só do Estado, como das suas clientelas, incluindo uma grande parte do nosso tecido empresarial, designação já de si eufemística, tendo em conta a qualidade e a natureza da maioria desse "tecido empresarial".

A questão é saber se ainda iremos a tempo de inverter este "estado de coisas" nos próximos tempos. A mudança é difícil, mas necessária, se de facto queremos sair da nossa mediocridade. Concordo com JPP quando diz: "Só há três antídotos a esta situação: poder forte, com a força dos votos [e sublinho a força dos votos], autoridade que vem da credibilidade [e sublinho a credibilidade], e vontade de mudança [e sublinho a vontade]. A conjugação é raríssima, mas existe [e sublinho que existe, acrescentando que está nas nossas mãos]".

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