sexta-feira, dezembro 10, 2004

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ATÉ AO LODO DESTE CAIS

O país ainda não atingiu o lodo mas vai atingi-lo nos próximos meses. Vai valer o tudo por nada. Nada pode ser o que sobra de se descer tão baixo no mergulho até ao lodo. O descer até ao lodo num mergulho pode provocar falta de oxigénio nos cérebros que se torna irreversível, para a saúde, do país. Vem de longe uma campanha de descredibilização das instituições, dos cargos públicos, dos políticos. De promoção da confusão entre valores, regras, códigos de conduta e normas de ética. Uma campanha que só pode interessar a quem pretende descredibilizar o regime. Mas foi o regime que foi permitindo que tal acontecesse. Por inércia, por envolvimento nas teias da estratégia da aranha. Agora está preso nessas teias e delas terá enorme dificuldade de se livrar. Mas foram algumas figuras públicas que, de livre vontade, mostraram publicamente suas intimas vergonhas, numa ânsia de popularidade e mediatismo. Foram alguns políticos que após terem sido acusados de corrupção, ou de práticas financeiras ilegais, não foram julgados em Tribunal e continuaram a sua vida política como se nada tivesse ocorrido. Foram as acusações públicas da existência de corrupção e práticas financeiras ilegais no futebol que desacreditaram os dirigentes desportivos. Foi a promiscuidade entre o futebol, a política nacional e autárquica e o sector imobiliário. Enfim, um rosário infindável de motivos que o regime deu aos seus adversários, e ao povo, para que ambos possam agora julgar em praça pública, como se tem assistido. O regime (quero dizer os seus defensores, quero dizer os seus pilares institucionais) apenas se podem queixar de si próprios. Porque não tiveram a coragem, a independência dos interesses incrustados em torno do aparelho de Estado, ou tão só a vontade politica, para atalhar a tempo o mergulho às profundezas do pântano. Deixaram o país descer até ao lodo. Resta-nos acreditar na possibilidade da sua expurgação, depois de bater no fundo, para renascer do lodo.

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