quinta-feira, julho 15, 2004

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Comer à mesa do orçamento
 
Antes da decisão do PR, Ludgero Marques, líder associativo dos patrões (sim, considero que representa os patrões, não os empresários), referia que só "os que comem à mesa do Orçamento do Estado" pretendiam eleições antecipadas. Um tom que é reconhecidamente o seu. Homem, como se sabe, descomprometido face ao poder laranja.
 
Pois bem, recentemente, em conversa com um empresário, (falo de um empresário e não de um patrão, e também não de um dono de uma chafarica a que se chama, eufemisticamente, microempresa), dizia-me ele que como cidadão desejaria eleições antecipadas, mas como empresário tinha de reconhecer que, infelizmente, a melhor solução advinha de uma solução no actual quadro parlamentar. Retorqui com o argumento da instabilidade das contas públicas, pois um governo para dois anos vai gastar à tripa-forra para ganhar as eleições em 2006. Qual não foi o meu espanto quando aquele empresário me disse ser isso "mau para as contas públicas, mas bom para o nosso tecido económico", o qual, nas suas palavras, está maioritariamente dependente dos investimentos do Estado e tem, directa ou indirectamente, no Estado, o grande cliente. Ou seja, prosseguia, as empresas estão com "a corda na garganta" com o fechamento da torneira que a política orçamental de Manuela Ferreira Leite impôs ao país, por muito que "eu reconheça que a redução das despesas públicas seja fundamental para as finanças e para a saúde económica do país", concluiu aquele empresário. Reconheceu tratar-se de um paradoxo mas avançou ser, infelizmente, a realidade de um tecido empresarial débil, pouco dinâmico e extremamente dependente do Estado e do Orçamento Estatal, para que seja possível a economia "funcionar", sem uma tal dependência.
 
Afinal, quem "come à mesa do Orçamento do Estado"? Provavelmente, não tanto aqueles que o Engº Ludgero Marques pretendia insinuar, os quais, admitamos, ficarão com as migalhas, após as faustosas refeições deglutidas pela parte significativa do tecido empresarial nacional, composto maioritariamente por empresas que directa, ou indirectamente, não funcionam senão na dependência dos investimentos (e das despesas) desse ogre odiado pelos patrões que é o Estado. O seu restaurante predilecto, afinal de contas.

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